A REABERTURA NO PÓS-QUARENTENA DO CAFÉ DE FLORE, O CAFÉ DOS ARTISTAS

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA ÉPOCA

Como a pandemia afetou um ícone parisiense que não fechou nem mesmo durante a Segunda Guerra Mundial.
 
O gerente Frédéric Minerba e o garçom Tetsuya, um japonês que trabalha há 20 anos no local. ©Fernando Eichenberg

PARIS – “O sábado 14 de março foi um choque para nós no Café de Flore. Fomos prevenidos de última hora que deveríamos fechar as portas à meia-noite. Foi o mesmo para todos os bistrôs e cafés da França. Algo inédito. Estamos abertos todos os dias, das 7h30 à 1h30, durante o ano inteiro, não fechamos nunca. É uma tradição. E só fomos reabrir na semana passada. Durante a quarentena, clientes me enviavam fotos do café e arredores mostrando tudo deserto. Era uma sensação muito estranha. Continue lendo A REABERTURA NO PÓS-QUARENTENA DO CAFÉ DE FLORE, O CAFÉ DOS ARTISTAS

“Cada tribo enxerga na pandemia a confirmação de suas convicções” diz fundador dos Médicos Sem Fronteiras (MSF)

O francês Rony Brauman afirma que OMS tem que ser refundada, critica governo Bolsonaro e afirma que crise da Covid-19 concretizou ameaça que pairava sobre o planeta há 40 anos, com crescimento das cidades, desflorestamento e mudanças climáticas. ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Médico formado em epidemiologia e patologias tropicais, o francês Rony Brauman é um dos fundadores da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), a qual presidiu de 1982 a 1994, acompanhando in loco epidemias como a cólera ou a ebola. Em entrevista ao GLOBO, Brauman, que hoje é membro do Centro de Reflexão sobre a Ação e os Saberes Humanitários (Crash), integrado ao MSF, defende uma total refundação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e faz outras ponderações. Acredita que a cloroquina é ineficaz no tratamento da Covid-19; lamenta a atitude do governo Bolsonaro face à doença; alerta para uma eventual retorno mais violento da pandemia, e afirma: o que esta epidemia contém de “radicalmente novo é a conscientização planetária de um risco compartilhado”. Continue lendo “Cada tribo enxerga na pandemia a confirmação de suas convicções” diz fundador dos Médicos Sem Fronteiras (MSF)

MICHEL PICCOLI (1925-2020)

Resnais, Demy, Melville, Buñuel, Renoir, Godard, Hitchcock : Michel Piccoli, aqui em 2011, atuou com grandes diretores. AFP/Anne-Christine Poujoulat

Imenso ator, Michel Piccoli nos deixou no dia 12, aos 94 anos, vítima de um acidente cerebral, em uma morte anunciada hoje por seus familiares. Presente em mais de 220 filmes, foi dirigido por renomados diretores e contracenou com grandes atrizes e atores. Tive a chance de entrevistar esse talentoso e generoso ser humano, que nunca deixou se engajar por pequenas e grandes causas, em 2003, um pouco antes de entrar em cena no Théâtre des Bouffes du Nord. Lembro como se fosse ontem conversarmos após o espetáculo, comendo tâmaras secas, e depois pegarmos junto o metrô de volta para nossos respectivos lares, os passageiros mirando sem jeito, incrédulos, se perguntando se era realmente o ator que estava ali no vagão.

Segui aqui o resultado de nosso encontro, publicado no primeiro volume de meu livro de entrevistas, “Entre Aspas 1” (L&PM). Continue lendo MICHEL PICCOLI (1925-2020)

‘Desconfinados, mas não liberados’: franceses vivem seu primeiro dia sem quarentena total

Corredor livre pratica com a Torre Eiffel ao fundo, no primeiro dia de relaxamento das medidas de bloqueio na França. ©Philippe Lopez/AFP

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PARIS – Após 55 dias confinados, os franceses recomeçaram a retornar às ruas nesta segunda-feira, em meio incertezas e estranhezas, e em uma vida bem diferente daquela que existia antes do surgimento da pandemia. “Desconfinados, mas não liberados”, em um novo regime de “semiliberdade”, eram definições de sentimentos emergidos neste primeiro dia de desconfinamento no país. Continue lendo ‘Desconfinados, mas não liberados’: franceses vivem seu primeiro dia sem quarentena total

Karoline Postel-Vinay: “A política não sobrevive no terreno das incertezas”

Mulher passa diante de um grafite em Londres: para analista francesa Incertezas científicas sobre pandemia alimentam disputa por influência entre líderes globais. © Henry Nicholls/ Reuters

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PARIS – Diante das incertezas científicas que cercam a pandemia da Covid-19, multiplicam-se as narrativas políticas que buscam, por necessidade ou oportunidade, conferir coerência ao enfrentamento da crise, observa a cientista política Karoline Postel-Vinay. Especialista no estudo de narrativas nas relações internacionais, tema de seu próximo ensaio, a analista do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po) afirma que a política “tem horror à zona vaga de incertezas”, terreno no qual não sobrevive.  No caos mundial provocado pelo coronavírus, governos nacionais, organismos internacionais e movimentos de opinião criam seus próprios discursos, em uma “batalha de influências” que, segundo prevê, será ainda mais acirrada no período pós-crise. Continue lendo Karoline Postel-Vinay: “A política não sobrevive no terreno das incertezas”

A trajetória de Jessica Préalpato, que, aos 34 anos, ganhou o título de melhor chef pâtissière do mundo revolucionando as receitas de doces

“Acredito na minha boa estrela. Nada ocorre por acaso”, diz Jessica Préalpato. ©Iannis G/REA

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PARIS – A francesa Jessica Préalpato, 34 anos, se tornou em 2019 a primeira mulher eleita melhor chef pâtissière do mundo na reputada classificação do World’s 50 Best Restaurants. É também, hoje, a única mulher a chefiar o menu de sobremesas em um restaurante distinguido com as três estrelas máximas do Guia Michelin, no caso, o estabelecimento do chef Alain Ducasse abrigado no Hotel Plaza Athénée, em Paris.

Continue lendo A trajetória de Jessica Préalpato, que, aos 34 anos, ganhou o título de melhor chef pâtissière do mundo revolucionando as receitas de doces

Rede de solidariedade nos subúrbios de Paris ajuda brasileiros na pandemia

Jucilene Barboza, presidente da associação Amis du Brésil. ©Arquivo pessoal

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PARIS – A goiana Adavânia de Fátima, 40 anos, juntou suas economias e desembarcou na França em novembro, junto com o marido, 46, e o filho, 13, em busca de uma vida melhor. Os pais aspiravam a uma “educação de primeiro mundo” para o filho e a um cotidiano “longe da violência de Goiânia”. Os noviços imigrantes, no entanto, não deram sorte:

– Já em dezembro começou a greve dos metrôs (contra o projeto de reforma da aposentadoria do governo francês), e logo depois veio a pandemia do coronavírus, que foi uma balde de água gelada. Dizem que o início é sempre difícil. Mas estou esperando este início acabar para que as coisas possam melhorar – desabafa. Continue lendo Rede de solidariedade nos subúrbios de Paris ajuda brasileiros na pandemia

Manifesto pela proteção dos indígenas contra a Covid-19 tem assinaturas de mais de 60 personalidades, como Paul McCartney, Madonna, Meryl Streep, Brad Pitt, Chico Buarque e Gisele Bündchen

Índios marubo, na Amazônia. ©Sebastião Salgado

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PARIS – Já em dificuldades em tempos normais face às crescentes invasões de suas terras, as comunidades indígenas da Amazônia se veem ameaçadas pela progressão da Covid-19 na região. Indefesos e precariamente assistidos, os índios, naturalmente mais fragilizados para lutar contra os efeitos do coronavírus e sem a ajuda necessária para evitar o contágio comunitário, favorecido pelas penetrações em seus territórios, travam um combate desigual contra pandemia. O Ministério Público Federal (MPF), diversas entidades indigenistas e vozes individuais têm alertado para o alto risco de um genocídio das populações. “Viroses respiratórias foram vetores do genocídio indígena em diversos momentos da história do país”, havia ressaltado o MPF, ao solicitar medidas imediatas de parte dos órgão públicos competentes.

Para endossar a urgência da causa, o fotógrafo Sebastião Salgado, que passou os últimos sete anos fotografando na Amazônia, tema de sua próxima exposição, organizou junto com sua mulher e parceira de trabalho, Lélia Wanick Salgado, um manifesto para que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário brasileiros intervenham e evitem um extermínio por conta da pandemia. Continue lendo Manifesto pela proteção dos indígenas contra a Covid-19 tem assinaturas de mais de 60 personalidades, como Paul McCartney, Madonna, Meryl Streep, Brad Pitt, Chico Buarque e Gisele Bündchen

Líderes europeus lançam fundo de reconstrução pós-pandemia, mas ainda divergem sobre detalhes

Membros do Conselho Europeu participam de conferência virtual sobre fundo de reconstrução pós-pandemia. ©Pool/Reuters

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PARIS – Os 27 chefes de Estado e governo da União Europeia (UE) concordaram com a criação de um fundo comum para financiar a retomada da economia nos países do continente, em um quadro de grave recessão causada pela pandemia da Covid-19. Divergências profundas persistem, no entanto, sobre a montagem e funcionamento deste novo instrumento. Em uma reunião por meio de videoconferência, nesta quinta-feira, os líderes encarregaram a Comissão Europeia de detalhar as condições do dispositivo de ajuda financeira até o início de maio. Continue lendo Líderes europeus lançam fundo de reconstrução pós-pandemia, mas ainda divergem sobre detalhes

Em pronunciamento sobre pandemia, Macron promete se ‘reinventar’ e prega a ‘refundação’ da França e da Europa

Presidente Emmanuel Macron anuncia extensão da quarentena até 11 de maio e promete dotar o país de independência econômica e estratégica.

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PARIS – A França já tem uma data para iniciar um desconfinamento progressivo no país: 11 de maio. A quarentena, que até então estava estipulada até 15 de abril, foi prorrogada por mais 25 dias pelo presidente Emmanuel Macron, em anúncio feito à população em cadeia nacional. Em um raro mea-culpa, o líder francês reconheceu falhas do governo no enfrentamento da crise provocada pelo Covid-19. Para o futuro, prometeu uma “reinvenção” de si mesmo e pregou uma “refundação” da França e da Europa, com maior independência econômica e estratégica. Continue lendo Em pronunciamento sobre pandemia, Macron promete se ‘reinventar’ e prega a ‘refundação’ da França e da Europa

Pandemia acentua crise da democracia e pode promover um novo tipo de Estado-nação

Homem vestindo uma máscara caminha em frente à sede da Comissão Europeia, em Bruxelas. ©Aris Oikonomou/AFP

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PARIS – A crise deflagrada pela pandemia do coronavírus está sendo considerada como capaz, uma vez terminada, de alterar não apenas os sistemas econômicos, mas também as formas de governança política no mundo. Um dos cenários que tem sido evocado por analistas aponta para a configuração de um novo Estado-nação, diferente dos modelos existentes nas democracias ocidentais e também dos populismos-nacionalistas contemporâneos. Continue lendo Pandemia acentua crise da democracia e pode promover um novo tipo de Estado-nação

Após semanas de impasse, União Europeia libera ajuda de 500 bilhões de euros contra pandemia

Homem de máscara em frente à sede da Comissão Europeia, em Bruxelas.                                          ©Yves Herman/Reuters

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PARIS – Após receber muitas críticas pela falta de ação e de solidariedade no início da crise provocada pela Covid-19 no continente, a Europa conseguiu chegar a um acordo em mais uma tentativa de formular uma resposta comum aos efeitos da pandemia. Ao final da maratona de reuniões dos ministros das Finanças da União Europeia (UE), que começou há dois dias e terminou na noite de quinta-feira, foi acertada uma ajuda de cerca de € 500 bilhões para os países europeus, recursos que deverão ser liberados em duas semanas. Permaneceu, entretanto, o impasse na questão da emissão de títulos de dívida conjuntaapelidados de eurobônus ou de coronabonds, principal reivindicação das nações de economias menos robustas, que sofreram uma derrota. Continue lendo Após semanas de impasse, União Europeia libera ajuda de 500 bilhões de euros contra pandemia

Sebastião Salgado: “Nos tornamos aliens em nosso próprio planeta”

Aglomerações antes da pandemia: registro de Sebastião Salgado de uma estação de trem em Mumbai, em 1995. ©Sebastião Salgado

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PARIS – Habituado ao longo da vida a rodar o planeta retratando as maiores tragédias humanas – entre guerras, êxodos ou a fome – e os mais belos e intocados cenários – em expedições para o projeto Gênesis -, o fotógrafo Sebastião Salgado encontra-se hoje, como grande parte da população mundial, confinado em casa. Recolhido em seu apartamento parisiense, ao lado da mulher e parceira de trabalho, Lélia, e do filho Rodrigo, segue à risca as regras da quarentena estabelecida pelo governo francês. E passa boa parte dos dias editando as imagens do projeto a que se dedicou nos últimos sete anos: fotografar a Amazônia. O material será tema da próxima grande exposição que fará, a partir de abril de 2021.

Para o célebre fotógrafo, que confessa ter sentido um “vazio na alma” na véspera do confinamento, o ser humano se tornou “um alien dentro de seu próprio planeta”. A pandemia do coronavírus deverá, segundo ele, alterar valores no mundo, no descarte da superficialidade dominante em detrimento do conceito de essencial, na produção de riqueza para o bem comum e na reconexão do ser humano à natureza. “Só nas grandes catástrofes que surgem as grandes solidariedades e reais preocupações com o futuro da humanidade. Isso é o que teremos de fazer agora”, diz. Continue lendo Sebastião Salgado: “Nos tornamos aliens em nosso próprio planeta”

RIP ALBERT UDERZO (1927-2020), um dos criadores da dupla Astérix & Obélix

Uderzo em sua casa, em Neuilly-sur-Seine. ©Pascal Vila/Sipa/AP

O desenhista Albert Uderzo, cocriador com o roteirista René Goscinny das célebres aventuras de Astérix & Obélix, morreu esta manhã, aos 92 anos, em sua casa nos subúrbios de Paris, vítima de um ataque cardíaco. Tive a oportunidade de encontrá-lo para uma entrevista, em 2009, em sua residência. Reproduzo aqui nossa conversa, realizada na época para a hoje extinta revista Personnalité, e depois publicada na íntegra no segundo volume do meu livro de entrevistas “Entre Aspas” (L&PM).

OBS: Por coincidência, os roteiristas do álbum “Astérix e a Transitálica” (2017), Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, incluíram na trama o vilão mascarado chamado “Coronavírus” e seu fiel companheiro “Bacillus”. Desta vez, não foram os Simpsons a anteciparem o futuro. Continue lendo RIP ALBERT UDERZO (1927-2020), um dos criadores da dupla Astérix & Obélix

Intelectuais avaliam possíveis mudanças e novos cenários para o mundo no pós-crise do coronavírus

Cenário da ponte Alexandre III, em Paris sob confinamento. Pensadores apontam que emergência de saúde levanta questionamentos sobre as relações interpessoais e as formas de organização política e econômica. ©Bertrand Guay/AFP

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A crise de saúde global ainda está longe de alcançar seu término, mas já pairam no ar projeções sobre o poder da epidemia – um fenômeno biológico, sem moral ou mensagem – em suscitar profundas interrogações sobre a forma do viver em sociedade e de os indivíduos pensarem o mundo deste início de século XXI. Intelectuais ouvidos pelo GLOBO não têm dúvidas de que a experiência provocada pelo coronavírus deflagrará em seu rastro novos questionamentos existenciais e humanistas, bem como mudanças de governança política e de modelos econômicos. Continue lendo Intelectuais avaliam possíveis mudanças e novos cenários para o mundo no pós-crise do coronavírus

Paris: de Cidade Luz a cidade fantasma

Normalmente movimentado, o bairro de Saint-Germain-des-Près revela suas ruas vazias em pleno período de confinamento. ©Fernando Eichenberg

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PARIS – A Cidade Luz, célebre epíteto de Paris, se tornou uma cidade fantasma desde a terça-feira. A capital francesa, campeã mundial em número de turistas, silenciou suas ruas, praças e os sempre concorridos terraços de seus cafés. A Torre Eiffel, conhecida por suas longas filas de espera, se transformou em um monumento inabitado. A Mona Lisa, habituada à incessante agitação diária, agora é uma senhora abandonada à solidão do Louvre, o museu mais visitado do planeta de portas cerradas. Continue lendo Paris: de Cidade Luz a cidade fantasma

Contra Trump e nacionalismos, Macron tenta coordenar resposta europeia ao coronavírus

Presidente francês, no entanto, enfrenta dificuldade do bloco europeu de agir coletivamente; acusado de ‘neoliberalismo’, ele faz apologia do Estado de bem-estar. ©Ludovic Marin/AFP

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PARISA crise do coronavírus reavivou costumeiras dissidências da geopolítica mundial. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reafirmou seu lema “Estados Unidos em primeiro lugar” e fustigou a Europa pela disseminação do “vírus estrangeiro”. Seu colega francês, Emmanuel Macron, se lançou em mais uma tentativa de liderar a ressurreição da União Europeia em torno de uma causa comum, sem obter, no entanto, o apoio almejado, nem de seus tradicionais aliados, como a Alemanha, nem de seus conhecidos desafetos do nacional-populismo. Continue lendo Contra Trump e nacionalismos, Macron tenta coordenar resposta europeia ao coronavírus

“Mulher”: documentário explora a universalidade e a conexão invisível entre o ser feminino

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PARIS – O filme “Mulher”, com estreia nesta quinta-feira, abre com o depoimento da mexicana Norma Bastidas, recordista mundial do mais longo triatlo (152 km de natação, 3.692 km de ciclismo e 1.139 km de corrida em 59 dias). Sua vida, no entanto, não se resume as suas proezas atléticas. A partir dos 11 anos, passou a ser abusada sexualmente pelo avô, e depois foi vítima de tráfico sexual, prostituição forçada, alcoolismo e depressão. Diante da câmera de Anastasia Mikova e Yann Arthus-Bertrand, os diretores do filme, ela conta em lágrimas como, quando já era uma personagem conhecida, revelar publicamente seu trágico passado foi o momento mais difícil de toda sua existência. “Nunca me senti tão terrorizada como no momento de falar disso pela primeira vez. Desde que as palavras saíram, quis engoli-las, mas persisti. Queria quebrar o silêncio. Pois sei, hoje, que foi o silêncio que tornou tudo aquilo possível”, diz no filme. Continue lendo “Mulher”: documentário explora a universalidade e a conexão invisível entre o ser feminino

Festival Panorama: cancelado no Brasil, evento de dança é abrigado na França

“O samba do crioulo doido”, de Luiz de Abreu, será apresentado no Panorama francês por Calixto Neto. ©Gil Grossi

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PARIS – Cancelada no ano passado no Rio, a 28ª edição do Festival Panorama, mais tradicional evento de dança e performance do país, foi resgatada pela França. O Centre National de la Danse (CND), instituição pública criada por iniciativa do Ministério da Cultura francês, promove o festival em suas instalações em Pantin, no subúrbio de Paris, de 5 a 21 deste mês. O convite é oficialmente assumido pelos anfitriões como “uma reação às medidas populistas do governo de Jair Bolsonaro”, que “levaram à anulação da edição 2019”, e uma afirmação da “solidariedade internacional” e da definição de arte como “pleno ato de resistência”. Continue lendo Festival Panorama: cancelado no Brasil, evento de dança é abrigado na França

Retorno de suspeitos de jihadismo se torna um dilema para a Europa

Estrangeiros suspeitos de integrarem o Estado Islâmico presos em uma cela em Hasaka, Síria: países não os querem de volta. ©Goran Tomasevic/Agência O Globo

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PARIS – A derrocada do califado do Estado Islâmico (EI) gerou um problema até agora não resolvido pela comunidade internacional: como e onde julgar os milhares de jihadistas atualmente detidos em prisões curdas e iraquianas? As opções sobre a mesa se resumem a promover os julgamentos nos territórios onde os crimes foram cometidos, repatriar os criminosos estrangeiros aos seus países de origem ou recorrer à solução de uma instância jurídica internacional. Em um debate que se eterniza em meio a questões jurídicas e interesses políticos divergentes, o consenso está longe de ser alcançado. Continue lendo Retorno de suspeitos de jihadismo se torna um dilema para a Europa

Sabine Melchior-Bonnet: “Se há tantos divórcios e separações hoje, é porque se acredita no amor e se pensa que é possível ter algo melhor do que se está vivendo”

Historiadora francesa Sabine Melchior-Bonnet destrincha em livro a ruptura amorosa através dos tempos a partir de exemplos célebres. ©Fernando Eichenberg

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PARIS – Separa-se, hoje, da mesma forma que em épocas passadas? Para a historiadora francesa Sabine Melchior-Bonnet, do reputado Collège de France, tudo parecia já ter sido dito sobre o amor, mas não sobre a ruptura amorosa. Foi o que a levou a mergulhar no tema e publicar o ensaio “Os revezes do amor – uma história da ruptura” (ed. PUF), recentemente lançado na França. As separações refletem os códigos culturais, religiosos, sociais e jurídicos de cada período, em uma história inevitavelmente ligada ao patriarcado, pois por séculos o divórcio foi um monopólio masculino: “Cada época constrói seus valores e suas normas afetivas, e fornece sua própria interpretação do amor”, diz a historiadora, em entrevista em seu apartamento parisiense. Para entender as rupturas ao longo da História, Melchior-Bonnet estudou o fim das relações de personagens conhecidos, de Heloísa e Abelardo a Lady Di e o Príncipe Charles, passando por Josefina e Napoleão, Marie d’Agoult e Franz Liszt, Georges Sand e Alfred Musset, Simone de Beauvoir e Nelson Algreen ou Maria Callas e Aristóteles Onassis. E se interroga: hoje, que não há mais empecilhos jurídicos ou sociais para se separar, seria o fim do amor menos trágico? Continue lendo Sabine Melchior-Bonnet: “Se há tantos divórcios e separações hoje, é porque se acredita no amor e se pensa que é possível ter algo melhor do que se está vivendo”

Olivier Roy: “A Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas cultural e de identidade”

Olivier Roy, cientista político do Instituto Universitário Europeu, de Florença, afirma que a Europa  não vive uma crise religiosa, mas antes uma crise cultural da qual movimentos fundamentalistas e populistas se apropriam. ©Internaz/Flickr

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PARIS – Apesar das aparências, a Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas sim cultural e de identidade. Dela, se aproveitam movimentos neofundamentalistas como o salafismo e o evangelismo, mas também os populismos políticos, que em seu embate contra o islã ou a imigração promovem uma “folclorização do cristianismo”, favorecendo, paradoxalmente, a crescente secularização das sociedades. As referências cristãs, base da formação europeia, perderam seu caráter religioso e se tornaram uma mera herança cultural, estranha à doutrina da Igreja. O islã não é o problema, mas sim as indecisas relações dos Estados secularizados com a religião em geral. Estas são algumas das teses defendidas pelo cientista político francês Olivier Roy, do Instituto Universitário Europeu, de Florença, em seu ensaio “L’Europe est-elle chrétienne?” (A Europa é cristã?, ed. Seuil). Continue lendo Olivier Roy: “A Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas cultural e de identidade”

“Há pessoas demais que, pela palavra, recorrem à violência”, diz Philippe Lançon, sobrevivente do ataque ao Charlie Hebdo

Philippe Lançon diz ter dificuldade de esquecer tudo o que aconteceu e ter a “constante impressão de que uma catástrofe vai cair sobre sua cabeça”. ©Mollona/Leemage

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Na manhã de 7 de janeiro de 2015, Philippe Lançon só foi perceber o que lhe ocorrera quando vislumbrou na tela de seu celular o reflexo de sua face desfigurada: um quarto de seu rosto, na parte inferior, se transformara, segundo sua própria descrição, em uma “cratera de carne destruída e pendente”, mostrando a nu o que restava de gengivas e dentição, fazendo-o parecer “um monstro”. Lançon foi um dos sobreviventes do atentado jihadista protagonizado pelos irmãos Chérif e Saïd Kouachi na redação do jornal francês Charlie Hebdo, em Paris. As balas disparadas pelas metralhadoras Kalachnikov dos terroristas, que arrancaram sua mandíbula, causaram um total de 12 mortes e 11 feridos. Em meio ao banho de sangue e os corpos inertes de seus colegas de jornal, ele só se salvou porque se fingiu de morto. Continue lendo “Há pessoas demais que, pela palavra, recorrem à violência”, diz Philippe Lançon, sobrevivente do ataque ao Charlie Hebdo

Caroline de Maigret e Sophie Mas lançam livro sobre prós e contras da chegada aos 40 anos

Sophie Mas e Caroline de Maigret. ©Bertrand Le Pluard

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PARIS – Você percebe que o tempo passou quando suas ressacas são mais numerosas do que suas festas; ninguém mais lhe pergunta se planeja ter outro filho; uma marca no rosto, que pensava ser causada pelo travesseiro, ainda está lá três semanas depois; você vai ao seu gineco-obstetra para consultar sobre mamografia em vez de contracepção, o presidente da França é mais jovem do que você. As frases soltas, entra outras tiradas, abrem o recém-lançado livro das francesas Caroline de Maigret e Sophie Mas, “Older, but better, but older” (“Mais velha, mas melhor, porém mais velha”). Caroline, 44 anos, modelo e embaixadora da Chanel, e Sophie, 39, produtora de premiados filmes internacionais, já haviam, em 2014, coescrito – com as amigas Anne Berest e Audrey Diwan – o best-seller “Como ser uma parisiense em qualquer lugar do mundo”. Continue lendo Caroline de Maigret e Sophie Mas lançam livro sobre prós e contras da chegada aos 40 anos

Europa cria órgão para combater manipulações e desinformação no ensino de sua história

Turistas visitam o campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. Governo ultranacionalista aprovou lei que torna ilegal atribuir crimes nazistas ao Estado polonês. ©Sophie Rosenzweig

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PARIS – Na Europa Central e do Leste, o discurso histórico atual tende a uma glorificação neonacionalista. Na parte Ocidental, existe a tentação de sucumbir à amnésia nas narrativas de fatos do passado. Sustentado nestas premissas e na procupação com a crescente propagação de discursos xenófobos, racistas e antissemitas, o Conselho da Europa, formado por 47 países, lançou a criação do Observatório do Ensino de História da Europa. A ideia é ter um instrumento capaz de realizar uma radiografia do ensino de História nas diferentes nações, para lutar contra a manipulação e a desinformação e favorecer um relato histórico europeu minimamente comum. Continue lendo Europa cria órgão para combater manipulações e desinformação no ensino de sua história

RIP Claude Régy (1923-2019)

Claude Régy: “Muitas pessoas vêm escutar a música que esperam, ver a pintura que esperam, ver o teatro que esperam. Elas gostam de rever o que já viram, e não apreciam que as tiremos de seus limites do conhecido, porque é algo seguro, não há aventura”. ©Joël Saget/ AFP

PARIS – O diretor de teatro francês Claude Régy, fundador de uma nova estética na dramaturgia, morreu na noite do último dia 25, aos 96 anos de idade. Certa vez, fiz uma longa entrevista com ele aqui em Paris, para a revista Bravo!, por ocasião de sua montagem de 4.48 Psicose, texto da inglesa Sarah Kane (1971-1999), em cartaz no Théâtre des Bouffes du Nord, que seria também apresentada em São Paulo. Lembro que ao nos despedirmos em seu apartamento, que se destacava por conter apenas o mínimo essencial para uma vida cotidiana – uma escolha sua -, me perguntou por qual das escadas havia subido até o seu andar. Diante da minha resposta, me aconselhou a descer por uma outra: “Os degraus em que você pisará também foram usados por Jean-Jacques Rousseau, quando era preceptor de um jovem neste mesmo prédio”, disse. Desci cuidadosamente pela desgastado mármore da escadaria pensando nos passos do célebre filósofo do século XVIII. O ator Gérard Depardieu, que debutou no teatro sob a direção de Claude Régy, o definia como o “apóstolo do silêncio, da penumbra e do despojamento”.

Aqui o texto que escrevi, na época, para a revista. Continue lendo RIP Claude Régy (1923-2019)

Sarah Al-Matary: “Há hostilidade crescente em relação à ciência e uma incredulidade face a figuras de sábios”

Em seu novo enasio, Sarah Al-Matary chama a atenção para o anti-intelectualismo, movimento que rejeita acadêmicos, cientistas e artistas e que pode ser observado tanto na extrema direita quanto na esquerda radical.

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Diante do deputados da Assembleia Nacional francesa, em 2007, a então ministra da Economia, Christine Lagarde, lançou: “A França é um país que pensa. Não há ideologia da qual não tenhamos feito uma teoria, e possuímos provavelmente em nossas bibliotecas do que discutir por séculos. Chega de pensar, chega de tergiversar, arregacemos simplesmente as mangas”. A França como a “pátria dos intelectuais”, no entanto, seria um mito criado a partir do século 18. E todo mito tem seu contrário, neste caso expressado pelo anti-intelectualismo, do qual as palavras da ex-ministra são apenas um exemplo. Esta é a tese construída nas cerca de 400 páginas do mais recente ensaio da pesquisadora francesa Sarah Al-Matary, da Universidade Lumière-Lyon 2., “La haine des clercs – l’anti-intellectualisme en France” (ed. Seuil). Segundo ela, o secular anti-intelectualismo francês criticou, ao longo de sua existência até hoje, intelectuais que, em nome da razão e do universal, desprezavam os valores do nacionalismo e o Exército, e pregavam a liberdade, a igualdade e os direitos humanos. Continue lendo Sarah Al-Matary: “Há hostilidade crescente em relação à ciência e uma incredulidade face a figuras de sábios”

Alvo de protestos, reforma da Previdência é batalha decisiva para Emmanuel Macron

Manifestante passa por colagem que mostra Macron com uniforme da polícia antidistúrbios: reforma está no centro de sua campanha de mudar a sociedade francesa. ©Alain Jocard/AFP

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A cada tentativa de mudança no sistema de Previdência Social na França, ressurge a frase do ex-primeiro-ministro Michel Rocard, pronunciada em 1991: “A reforma da aposentadoria é capaz de derrubar vários governos”. No ar, paira o espectro das greves e manifestações de 1995, que paralisaram o país por três semanas e fizeram o então premier Alain Juppé abandonar seu projeto de reforma. O atual embate entre parte da sociedade civil, sindicatos e o governo em torno de mais um esforço de alteração nas regras, coloca o presidente Emmanuel Macron em uma encruzilhada. Para analistas ouvidos pelo GLOBO, trata-se da reforma mais importante de seu quinquênio e crucial para o futuro do mandato. E assinalam que o desfecho desta queda de braço, seja qual for, favorecerá Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita Reunião Nacional (RN), em suas ambições nas eleições presidenciais de 2022. Continue lendo Alvo de protestos, reforma da Previdência é batalha decisiva para Emmanuel Macron

O francês Bernard Arnault será a maior fortuna do planeta?

Aquisição da joalheria Tiffany coloca o francês Bernard Arnault, dono do conglomerado LVMH, na briga pelo topo do pódio dos mais ricos do mundo – e denota o bom momento do mercado de luxo. ©AFP/Eric Piermont

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA EXAME

PARIS – Aos 22 anos, o jovem estudante de engenharia francês Bernard Arnault viajou pela primeira vez a Nova York, nas férias de verão do hemisfério Norte. No táxi amarelo que o levou do aeroporto John F. Kennedy até Manhattan, para entabular conversa, perguntou ao motorista se conhecia Georges Pompidou, o presidente da França naquele ano de 1971. O chofer nunca ouvira falar do líder francês, mas de pronto afirmou saber quem era Christian Dior. O breve diálogo lhe soou como uma revelação. Na França, BA – como é chamado por seus colaboradores – formou ao longo dos anos o conglomerado número um do mundo no setor de artigos de luxo, a LVMH, constituído de 75 marcas internacionais, Dior incluída. No mês passado, aos 70 anos, concluiu na Big Apple a aquisição de sua 76ª pepita, a icônica joalheria americana Tiffany, pela qual desembolsou 16,2 bilhões de dólares. A operação, somada ao crescente desempenho de seu grupo empresarial, o propulsou como forte candidato a ocupar o topo do ranking das maiores fortunas do planeta, ameaçando desbancar seus dois principais concorrentes, os americanos Jeff Bezos (Amazon) e Bill Gates (Microsoft). Continue lendo O francês Bernard Arnault será a maior fortuna do planeta?

Ameaça na África: jihadismo cresce na região do Sahel apesar da intervenção da França

Grupos terroristas se aproveitam de lutas étnicas e descontentamento com governos para aumentar recrutamento. ©Reprodução

FERNANDO EICHENBERG/ O GLOBO

PARIS – Grupos terroristas jihadistas estão em plena expansão territorial na região do Sahel africano. Do norte do Mali, os grupos do jihad avançaram para o centro e o sul do país, se expandiram para o Burkina Faso e a Nigéria, e agora ameaçam as nações costeiras, como Togo, Benin, Gana, Senegal e Costa do Marfim. As forças da comunidade internacional, França à frente, se mostram, hoje, incapazes de deter o avanço jihadista, que se aproveita ainda de lutas étnicas locais para reforçar suas fileiras e semear a violência. Analistas defendem o recurso à negociação para estancar o recrutamento e evitar o pior. Continue lendo Ameaça na África: jihadismo cresce na região do Sahel apesar da intervenção da França