Arquivo da categoria: Antropologia

RIP: BRUNO LATOUR (1947-2022)

Foto: ©Fernando Eichenberg/2013

FERNANDO EICHENBERG

Tive a chance de conversar com o pensador francês Bruno Latour uma vez em Paris, para uma entrevista para o jornal O Globo. Além de suas bem-vindas reflexões sobre o mundo moderno, tenho a vívida lembrança de de sua extrema generosidade e bom humor em nosso encontro, em sua sala no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-po). O incansável intelectual nos deixou neste 9 de outubro de 2022, aos 75 anos, vitimado pelo câncer. A seguir a entrevista publicada no jornal e também no segundo volume de meu livro de entrevistas “Entre Aspas – vol 2” (ed. L&PM).

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Monique Lévi-Strauss: 90 anos de vida e muitas histórias para contar

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Monique Lévi-Strauss fotografada pelas lentes de Fe Pinheiro (Folhapress).

FERNANDO EICHENBERG / SERAFINA – FOLHA DE S. PAULO

PARIS – A sala principal do apartamento no prédio de número 2 da rua des Marronniers é iluminada por uma ampla janela situada na diagonal de uma longa e estreita mesa de madeira bruta, de tonalidade escura. “Ali meu marido trabalhava todos os dias”, aponta a anfitriã, acomodada no canto do sofá, em uma cinzenta manhã parisiense. “Você ouve o silêncio?”, indaga, poeticamente. “Aqui estamos num bunker – explica ela. É uma peça fortificada. Meu marido fez construir paredes reforçadas por tudo, para ter silêncio, algo imprescindível para ele”. Seu marido, citação constante em suas frases, era o célebre pensador, antropólogo e etnólogo francês Claude Lévi-Strauss, falecido em 2009 neste mesmo endereço, aos 100 anos de idade. Monique Lévi-Strauss, 90 anos – nascida em 5 de março de 1926, em Paris -, recebeu a Serafina em sua residência para conversar sobre um livro que ela escreveu: Une enfance dans la gueule du loup (Uma infância na boca do lobo, ed. Seuil), relato autobiográfico de uma experiência incomum de sua pré-juventude, na Segunda Guerra Mundial, elogiado pela crítica francesa. Mas não deixou de evocar seu cotidiano e sua história de amor com o autor de “Tristes Trópicos” (1955) – considerada como uma das obras capitais do século XX -, e também um dos fundadores da Universidade de São Paulo (USP). “Não foi amor à primeira vista!”, garante ela, com humor e jeito adolescente, exibindo uma vitalidade que desafia sua longevidade. Continue lendo Monique Lévi-Strauss: 90 anos de vida e muitas histórias para contar