Arquivo da categoria: Pensamento

RIP: BRUNO LATOUR (1947-2022)

Foto: ©Fernando Eichenberg/2013

FERNANDO EICHENBERG

Tive a chance de conversar com o pensador francês Bruno Latour uma vez em Paris, para uma entrevista para o jornal O Globo. Além de suas bem-vindas reflexões sobre o mundo moderno, tenho a vívida lembrança de de sua extrema generosidade e bom humor em nosso encontro, em sua sala no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-po). O incansável intelectual nos deixou neste 9 de outubro de 2022, aos 75 anos, vitimado pelo câncer. A seguir a entrevista publicada no jornal e também no segundo volume de meu livro de entrevistas “Entre Aspas – vol 2” (ed. L&PM).

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THOMAS CHATTERTON WILLIAMS fala sobre racismo e seu manifesto CONTRA A CULTURA DO CANCELAMENTO

©JF PAGA

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA ÉPOCA

PARIS – Como um dos principais idealizadores do manifesto contra a cultura do cancelamento, que contou com a assinatura de 153 artistas e intelectuais de renome – entre os quais Noam Chomsky, Margaret Atwood, Salman Rushdie, J.K. Rowling e Francis Kukuyama -, o escritor americano Thomas Chatterton Williams jamais imaginou que a iniciativa a  alcançaria tamanha repercussão e controvérsia. O número de seus seguidores no Twitter, hoje em 80 mil, mais do que dobrou após a publicação de “Uma carta sobre justiça e debate aberto”, traduzido em apoio e também em críticas.

Willliams defende a primazia de valores e princípos universais face a sociedades cada vez mais “fragmentadas em grupos identitários”. O racismo não poderá ser superado se acreditarmos em categorias raciais, diz.

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A partir de arquivos inéditos, nova biografia mostra um sartre avesso ao engajamento políticO, divertido e sonhador

Correspondência privada e arquivos de áudio e vídeo revelam um outro Sartre. ©AFP

FERNANDO EICHENBERG/ REVISTA ÉPOCA

PARIS – E se o filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), símbolo maior do intelectual engajado do século XX, implicado nas principais lutas sociais e conflitos internacionais pós-Segunda Guerra Mundial, no fundo, não era assim tão entusiasta de seu ativismo político? “Na verdade, a política me enche o saco”, desabafou Sartre a sua amante russa, Lena Zonina, em uma carta de janeiro de 1963. François Noudelmann, estudioso de Sartre há 20 anos, encontrou várias confidências similares nos arquivos inéditos a que teve acesso, cedidos pela filha adotiva do filósofo, Arlette Elkaïm, morta em 2016. Continue lendo A partir de arquivos inéditos, nova biografia mostra um sartre avesso ao engajamento políticO, divertido e sonhador

“Cada tribo enxerga na pandemia a confirmação de suas convicções” diz fundador dos Médicos Sem Fronteiras (MSF)

O francês Rony Brauman afirma que OMS tem que ser refundada, critica governo Bolsonaro e afirma que crise da Covid-19 concretizou ameaça que pairava sobre o planeta há 40 anos, com crescimento das cidades, desflorestamento e mudanças climáticas. ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Médico formado em epidemiologia e patologias tropicais, o francês Rony Brauman é um dos fundadores da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), a qual presidiu de 1982 a 1994, acompanhando in loco epidemias como a cólera ou a ebola. Em entrevista ao GLOBO, Brauman, que hoje é membro do Centro de Reflexão sobre a Ação e os Saberes Humanitários (Crash), integrado ao MSF, defende uma total refundação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e faz outras ponderações. Acredita que a cloroquina é ineficaz no tratamento da Covid-19; lamenta a atitude do governo Bolsonaro face à doença; alerta para uma eventual retorno mais violento da pandemia, e afirma: o que esta epidemia contém de “radicalmente novo é a conscientização planetária de um risco compartilhado”. Continue lendo “Cada tribo enxerga na pandemia a confirmação de suas convicções” diz fundador dos Médicos Sem Fronteiras (MSF)

Pandemia acentua crise da democracia e pode promover um novo tipo de Estado-nação

Homem vestindo uma máscara caminha em frente à sede da Comissão Europeia, em Bruxelas. ©Aris Oikonomou/AFP

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A crise deflagrada pela pandemia do coronavírus está sendo considerada como capaz, uma vez terminada, de alterar não apenas os sistemas econômicos, mas também as formas de governança política no mundo. Um dos cenários que tem sido evocado por analistas aponta para a configuração de um novo Estado-nação, diferente dos modelos existentes nas democracias ocidentais e também dos populismos-nacionalistas contemporâneos. Continue lendo Pandemia acentua crise da democracia e pode promover um novo tipo de Estado-nação

Intelectuais avaliam possíveis mudanças e novos cenários para o mundo no pós-crise do coronavírus

Cenário da ponte Alexandre III, em Paris sob confinamento. Pensadores apontam que emergência de saúde levanta questionamentos sobre as relações interpessoais e as formas de organização política e econômica. ©Bertrand Guay/AFP

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A crise de saúde global ainda está longe de alcançar seu término, mas já pairam no ar projeções sobre o poder da epidemia – um fenômeno biológico, sem moral ou mensagem – em suscitar profundas interrogações sobre a forma do viver em sociedade e de os indivíduos pensarem o mundo deste início de século XXI. Intelectuais ouvidos pelo GLOBO não têm dúvidas de que a experiência provocada pelo coronavírus deflagrará em seu rastro novos questionamentos existenciais e humanistas, bem como mudanças de governança política e de modelos econômicos. Continue lendo Intelectuais avaliam possíveis mudanças e novos cenários para o mundo no pós-crise do coronavírus

Olivier Roy: “A Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas cultural e de identidade”

Olivier Roy, cientista político do Instituto Universitário Europeu, de Florença, afirma que a Europa  não vive uma crise religiosa, mas antes uma crise cultural da qual movimentos fundamentalistas e populistas se apropriam. ©Internaz/Flickr

FERNANDO EICHENBERG/ REVISTA ÉPOCA

PARIS – Apesar das aparências, a Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas sim cultural e de identidade. Dela, se aproveitam movimentos neofundamentalistas como o salafismo e o evangelismo, mas também os populismos políticos, que em seu embate contra o islã ou a imigração promovem uma “folclorização do cristianismo”, favorecendo, paradoxalmente, a crescente secularização das sociedades. As referências cristãs, base da formação europeia, perderam seu caráter religioso e se tornaram uma mera herança cultural, estranha à doutrina da Igreja. O islã não é o problema, mas sim as indecisas relações dos Estados secularizados com a religião em geral. Estas são algumas das teses defendidas pelo cientista político francês Olivier Roy, do Instituto Universitário Europeu, de Florença, em seu ensaio “L’Europe est-elle chrétienne?” (A Europa é cristã?, ed. Seuil). Continue lendo Olivier Roy: “A Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas cultural e de identidade”

Sarah Al-Matary: “Há hostilidade crescente em relação à ciência e uma incredulidade face a figuras de sábios”

Em seu novo enasio, Sarah Al-Matary chama a atenção para o anti-intelectualismo, movimento que rejeita acadêmicos, cientistas e artistas e que pode ser observado tanto na extrema direita quanto na esquerda radical.

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Diante do deputados da Assembleia Nacional francesa, em 2007, a então ministra da Economia, Christine Lagarde, lançou: “A França é um país que pensa. Não há ideologia da qual não tenhamos feito uma teoria, e possuímos provavelmente em nossas bibliotecas do que discutir por séculos. Chega de pensar, chega de tergiversar, arregacemos simplesmente as mangas”. A França como a “pátria dos intelectuais”, no entanto, seria um mito criado a partir do século 18. E todo mito tem seu contrário, neste caso expressado pelo anti-intelectualismo, do qual as palavras da ex-ministra são apenas um exemplo. Esta é a tese construída nas cerca de 400 páginas do mais recente ensaio da pesquisadora francesa Sarah Al-Matary, da Universidade Lumière-Lyon 2., “La haine des clercs – l’anti-intellectualisme en France” (ed. Seuil). Segundo ela, o secular anti-intelectualismo francês criticou, ao longo de sua existência até hoje, intelectuais que, em nome da razão e do universal, desprezavam os valores do nacionalismo e o Exército, e pregavam a liberdade, a igualdade e os direitos humanos. Continue lendo Sarah Al-Matary: “Há hostilidade crescente em relação à ciência e uma incredulidade face a figuras de sábios”

Queda do Muro de Berlim: “Democracias venceram, e o mundo está muito melhor”, analisa o filósofo Luc Ferry

Após a derrota do comunismo com sua pretensão universalista, não surgiu concorrente sério ao liberalismo político, afirma pensador francês. ©Divulgação

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Para o filósofo francês Luc Ferry, o mundo progrediu em relação à realidade existente antes da queda do Muro de Berlim, que completa 30 anos neste sábado, em 9 de novembro de 1989, e as democracias ocidentais se impuseram como único regime politicamente legítimo. O pensador concorda com a tese de “fim da História” do cientista político Francis Fukuyama – ainda que com uma interpretação não literal dela -, defende um aperfeiçoamento da democracia contemporânea e alerta para os riscos de uma terceira guerra mundial no conflito comercial entre os Estados Unidos e a China. Continue lendo Queda do Muro de Berlim: “Democracias venceram, e o mundo está muito melhor”, analisa o filósofo Luc Ferry

Queda do Muro de Berlim: “Venceu a burocracia liberal capitalista”, analisa o filósofo Geoffroy de Lagasnerie

Nacionalismos mostram que queda do muro foi oportunidade perdida e que é preciso inventar uma nova democracia, afirma pensador francês. ©Raphaël Schneider

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Para o filósofo francês Geoffroy de Lagasnerie, a queda do Muro de Berlim frustrou as expectativas de uma abordagem mais global dos problemas do mundo, favorecendo, na contramão, um pensamento de âmbito nacional, sob a tutela do liberalismo dominante. O pensador defende a superação do modelo da democracia liberal, que já teria comprovado sua incapacidade de vencer as injustiças e desigualdades, por um novo regime político a ser inventado. Continue lendo Queda do Muro de Berlim: “Venceu a burocracia liberal capitalista”, analisa o filósofo Geoffroy de Lagasnerie

RIP Paul Virilio (1932-2018)

Paul Virilio © AFP/ Daniel Janin

Entrevistei o pensador Paul Virilio, filósofo e urbanista, no ano de 2000, numa longa e agradável conversa em um de seus bares preferidos de Paris. Há alguns anos, telefonei para sua casa, na cidade de La Rochelle, na costa atlântica do sudoeste da França, solicitando um novo encontro. Ele foi, como sempre, muito simpático, mas recusou meu pedido, argumentando que estava atravessando um delicado período de saúde e que sua recuperação seria bastante longa. Mas não me desencorajou de todo, e disse que tentasse novamente em um ano.

Neste 18 de setembro, foi anunciada sua morte. Paul Virilio faleceu no dia 10, vítima de um ataque cardíaco. Segundo seu desejo, os funerais ocorreram na intimidade familiar, no dia 17, e o falecimento divulgado um dia depois. De acordo com sua filha, Sophie Virilio, ele estava preparando mais um ensaio e uma nova exposição.

Em homenagem, reproduzo aqui um trecho de nossa entrevista, feita na época para a hoje extinta revista República, e depois publicada na íntegra no primeiro volume do meu livro “Entre Aspas”. Continue lendo RIP Paul Virilio (1932-2018)

Élisabeth Roudinesco e a crise da democracia

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FERNANDO EICHENBERG / FOLHA DE S. PAULO

PARIS – A grande virada dos tempos contemporâneos é marcada por uma forte crise da democracia e do individualismo. As turbulências globalizadas ameaçam a Europa com desvios totalitários em meio ao descrédito na política tradicional e ao sentimento de perda de representação social. Há um crescente anseio por mudanças, mas de rumo incerto. Este é o diagnóstico resumido da psicanalista e historiadora Élisabeth Roudinesco ao analisar o homem deste conturbado início de século.

A francesa é a convidada de setembro do Fronteiras do Pensamento 2016 e aproveitará para lançar no país a edição brasileira de sua biografia de Sigmund Freud (ed. Zahar), minucioso estudo de cerca de 600 páginas no qual define o pai da psicanálise como “conservador rebelde” e criador de uma “revolução simbólica” em perpétuo movimento.

Continue lendo na Folha de S. Paulo trechos da entrevista feita no apartamento da psicanalista, em Paris.