Arquivo da categoria: Livros

ENTREVISTA COM O ESCRITOR MOHAMED MBOUGAR SARR

FERNANDO EICHENBERG/ QUATRO CINCO UM

PARIS – Ao encerrar em Lisboa, em junho, sua longa turnê de 65 shows em nove meses, Chico Buarque voou rumo a Paris para merecidos dias de descanso antes de retornar ao Brasil. Da estante de sua morada na capital francesa, retirou um livro adormecido, que havia ganhado de presente de aniversário no ano passado: La plus secrète mémoire des hommes, do escritor senegalês Mohamed Mbougar Sarr. Aberta a primeira página, não conseguiu mais parar a leitura. “É simplesmente maravilhoso! Ele escreve maravilhosamente bem, e além do mais é engraçado, tem humor. Após ler esse livro, não sei como poderei voltar a escrever novamente”, exagerou o escritor laureado com o prestigioso prêmio literário Camões, sem esconder seu vivo entusiasmo.

Sarr não seduziu com sua escrita apenas o escritor brasileiro, mas também o exigente júri do Goncourt, o mais importante prêmio literário francês. A mais recôndita memória dos homens, assim traduzido e recém-lançado no Brasil pela editora Fósforo, foi apontado vencedor do Goncourt em 2021, por unanimidade, e desde então tem acumulado elogios da crítica e conquistado leitores pelo mundo.

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Marlene taschen, 35 anos, ceo da editora de livros de arte taschen

Marlene Taschen ©Marco Glaviano

FERNANDO EICHENBERG/O GLOBO

PARIS – Aos 32 anos, Marlene Taschen soube de forma inusitada de sua nomeação como CEO da editora alemã Taschen, célebre tanto por democratizar os livros de arte como por glorificá-los em verdadeiros objetos de luxo. Seu pai, Benedikt Taschen, fundador da editora, era entrevistado ao seu lado em um evento em uma das livrarias da casa, em Berlim, e sem aviso prévio fez o anúncio. “Receber esta responsabilidade, assim deste jeito, foi um choque. E decidi aceitar o desafio”, conta ela em uma conversa por zoom de Londres, onde vive com o marido e a filha Aurelia, de 9 anos.

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A partir de arquivos inéditos, nova biografia mostra um sartre avesso ao engajamento políticO, divertido e sonhador

Correspondência privada e arquivos de áudio e vídeo revelam um outro Sartre. ©AFP

FERNANDO EICHENBERG/ REVISTA ÉPOCA

PARIS – E se o filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), símbolo maior do intelectual engajado do século XX, implicado nas principais lutas sociais e conflitos internacionais pós-Segunda Guerra Mundial, no fundo, não era assim tão entusiasta de seu ativismo político? “Na verdade, a política me enche o saco”, desabafou Sartre a sua amante russa, Lena Zonina, em uma carta de janeiro de 1963. François Noudelmann, estudioso de Sartre há 20 anos, encontrou várias confidências similares nos arquivos inéditos a que teve acesso, cedidos pela filha adotiva do filósofo, Arlette Elkaïm, morta em 2016. Continue lendo A partir de arquivos inéditos, nova biografia mostra um sartre avesso ao engajamento políticO, divertido e sonhador

Em livro, Lindsey Tramuta traça o perfil de parisienses em destaque nas artes, na política, no feminisno e nos negócios

Lindsey escreveu um livro para combater o “clichê da mulher parisiense”. Fotos: © Joann Pai

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Em um de seus vídeos TEDs virais, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie afirma, em relação aos conceitos sobre os africanos, que “o problema dos estereótipos não é que sejam falsos, mas incompletos; eles fazem uma história se tornar a única história”. A premissa é utilizada por Lindsey Tramuta para denunciar uma visão “perniciosa e estreita” das mulheres parisienses, percebidas como “brancas, heterossexuais, magras, elegantes, sedutoras e preocupadas com superficialidades”. Em seu recém-lançado livro, The New Parisienne (a nova parisiense), Lindsey, americana radicada há 14 anos na capital francesa, combate este clichê, segundo ela, estimulado e reproduzido na publicidade, no turismo, no cinema, na literatura, em revistas de moda e estilo.

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“Há pessoas demais que, pela palavra, recorrem à violência”, diz Philippe Lançon, sobrevivente do ataque ao Charlie Hebdo

Philippe Lançon diz ter dificuldade de esquecer tudo o que aconteceu e ter a “constante impressão de que uma catástrofe vai cair sobre sua cabeça”. ©Mollona/Leemage

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Na manhã de 7 de janeiro de 2015, Philippe Lançon só foi perceber o que lhe ocorrera quando vislumbrou na tela de seu celular o reflexo de sua face desfigurada: um quarto de seu rosto, na parte inferior, se transformara, segundo sua própria descrição, em uma “cratera de carne destruída e pendente”, mostrando a nu o que restava de gengivas e dentição, fazendo-o parecer “um monstro”. Lançon foi um dos sobreviventes do atentado jihadista protagonizado pelos irmãos Chérif e Saïd Kouachi na redação do jornal francês Charlie Hebdo, em Paris. As balas disparadas pelas metralhadoras Kalachnikov dos terroristas, que arrancaram sua mandíbula, causaram um total de 12 mortes e 11 feridos. Em meio ao banho de sangue e os corpos inertes de seus colegas de jornal, ele só se salvou porque se fingiu de morto. Continue lendo “Há pessoas demais que, pela palavra, recorrem à violência”, diz Philippe Lançon, sobrevivente do ataque ao Charlie Hebdo

Caroline de Maigret e Sophie Mas lançam livro sobre prós e contras da chegada aos 40 anos

Sophie Mas e Caroline de Maigret. ©Bertrand Le Pluard

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Você percebe que o tempo passou quando suas ressacas são mais numerosas do que suas festas; ninguém mais lhe pergunta se planeja ter outro filho; uma marca no rosto, que pensava ser causada pelo travesseiro, ainda está lá três semanas depois; você vai ao seu gineco-obstetra para consultar sobre mamografia em vez de contracepção, o presidente da França é mais jovem do que você. As frases soltas, entra outras tiradas, abrem o recém-lançado livro das francesas Caroline de Maigret e Sophie Mas, “Older, but better, but older” (“Mais velha, mas melhor, porém mais velha”). Caroline, 44 anos, modelo e embaixadora da Chanel, e Sophie, 39, produtora de premiados filmes internacionais, já haviam, em 2014, coescrito – com as amigas Anne Berest e Audrey Diwan – o best-seller “Como ser uma parisiense em qualquer lugar do mundo”. Continue lendo Caroline de Maigret e Sophie Mas lançam livro sobre prós e contras da chegada aos 40 anos

“A História não se repete, mas os métodos de manipulação, sim”, diz a pesquisadora franco-alemã Géraldine Schwarz,

Partindo da própria família, que apoiou o nazismo por conformismo, Géraldine Schwarz alerta para os riscos ao se esquecer o passado. © Mathias Bothor

FERNANDO EICHENBERG/ O GLOBO

PARIS – O Brexit, no Reino Unido, a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e o crescimento do populismo na Europa fizeram com que a franco-alemã Géraldine Schwarz mergulhasse na história de sua família na busca de elementos para a compreensão do presente. Na Alemanha da Segunda Guerra Mundial, seus avós paternos, Karl e Lydia, habitantes de Mannheim, aderiram ao Terceiro Reich, não por ideologia, mas por oportunismo. Na França, seu avô materno, Lucien, atuou como gendarme em Mont-Saint-Vincent, sob a República de Vichy, regime colaboracionista do nazismo. Os avós, segundo ela, estão incluídos na categoria dos Mitläufer, definidos como aqueles que “seguem a corrente” e que aderiram ao regime nazista por conformismo e não por convicção. Continue lendo “A História não se repete, mas os métodos de manipulação, sim”, diz a pesquisadora franco-alemã Géraldine Schwarz,

Em novo livro, economista Thomas Piketty procura demonstrar que a desigualdade é uma escolha política e ideológica

Em novo ensaio publicado na França, Piketty lança as bases do que chama de “socialismo participativo” e explica por que o Brasil é um dos países de maior desigualdade.

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA ÉPOCA

PARIS – Neste final de 2019, o francês Thomas Piketty, um dos raros economistas a figurar nas listas de obras mais vendidas, está de volta às vitrines das livrarias com mais um título para animar acirrados debates entre seus críticos e simpatizantes. Em 2001, época em que ainda não havia alcançado o status de economista de renome mundial, Piketty escreveu o ensaio “Os altos salários na França no século 20”, um estudo das desigualdades salariais no país no período de 1908 a 1998.

Em 2013, seu best-seller internacional, “O capital no século 21”, vendido a mais de 2,5 milhões de exemplares e traduzido em 40 idiomas, ultrapassou as fronteiras da França na abordagem das disparidades da distribuição de riquezas ao focar também em países como Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido. Já  “Capital e Ideologia” (ed. Seuil, com lançamento previsto no Brasil no próximo ano pela Intrínseca), recém-impresso na França, é uma obra geograficamente e historicamente ainda mais ambiciosa. Continue lendo Em novo livro, economista Thomas Piketty procura demonstrar que a desigualdade é uma escolha política e ideológica

As mil vidas de Belmondo

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FERNANDO EICHENBERG

PARIS – “Mil vidas valem mais do que uma”. O título não poderia ser mais apropriado para o livro de memórias da lenda do cinema francês Jean-Paul Belmondo. Aos 83 anos e mais de 80 longa-metragens no currículo, o ator, ícone nos anos 1960 do “charme viril à la française” e estrela do cult “Acossado” , decidiu contar pela primeira vez suas inúmeras vidas em uma autobiografia (ed. Fayard, 320 págs.), lançada na semana passada na França. Simultaneamente, saiu do prelo, pela mesma editora, um álbum de fotos de mais trezentas páginas com imagens retiradas de seu arquivo privado. Versátil nas telas, Belmondo diz que apreciava tanto protagonizar perigosas cenas de ação sem recorrer a dublês, como em “O Homem do Rio” ou  “O Magnífico”, quando chegou a quebrar o tornozelo, como atuar no improviso, sem texto, para o cineasta Jean-Luc Godard, o enfant terrible da Nouvelle Vague. Continue lendo As mil vidas de Belmondo

Monique Lévi-Strauss: 90 anos de vida e muitas histórias para contar

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Monique Lévi-Strauss fotografada pelas lentes de Fe Pinheiro (Folhapress).

FERNANDO EICHENBERG / SERAFINA – FOLHA DE S. PAULO

PARIS – A sala principal do apartamento no prédio de número 2 da rua des Marronniers é iluminada por uma ampla janela situada na diagonal de uma longa e estreita mesa de madeira bruta, de tonalidade escura. “Ali meu marido trabalhava todos os dias”, aponta a anfitriã, acomodada no canto do sofá, em uma cinzenta manhã parisiense. “Você ouve o silêncio?”, indaga, poeticamente. “Aqui estamos num bunker – explica ela. É uma peça fortificada. Meu marido fez construir paredes reforçadas por tudo, para ter silêncio, algo imprescindível para ele”. Seu marido, citação constante em suas frases, era o célebre pensador, antropólogo e etnólogo francês Claude Lévi-Strauss, falecido em 2009 neste mesmo endereço, aos 100 anos de idade. Monique Lévi-Strauss, 90 anos – nascida em 5 de março de 1926, em Paris -, recebeu a Serafina em sua residência para conversar sobre um livro que ela escreveu: Une enfance dans la gueule du loup (Uma infância na boca do lobo, ed. Seuil), relato autobiográfico de uma experiência incomum de sua pré-juventude, na Segunda Guerra Mundial, elogiado pela crítica francesa. Mas não deixou de evocar seu cotidiano e sua história de amor com o autor de “Tristes Trópicos” (1955) – considerada como uma das obras capitais do século XX -, e também um dos fundadores da Universidade de São Paulo (USP). “Não foi amor à primeira vista!”, garante ela, com humor e jeito adolescente, exibindo uma vitalidade que desafia sua longevidade. Continue lendo Monique Lévi-Strauss: 90 anos de vida e muitas histórias para contar

Maria Ribeiro e Matilde Campilho: uma conversa entre a cronista e a poeta

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A poeta portuguesa Matilde Campilho (à esquerda) e a cronista e atriz carioca Maria Ribeiro no encontro em Lisboa. © Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

LISBOA – Uma é carioca, atriz, documentarista e cronista, 40 anos de vida, assume sua vaidade, as redes sociais, tem medo de avião, e gosta de inverno. A outra é portuguesa, poeta, 33 anos, evita a exposição, não tem Instagram, é andarilha, e gosta de verão. A primeira, Maria Ribeiro, viajou do Rio a Lisboa para o lançamento da edição portuguesa de sua compilação de crônicas, “Trinta e Oito e Meio” (lançado no Brasil pela ed. Língua Geral), e finaliza o livro “40 Cartas e um Email que Nunca Mandei” (ed. Planeta), que será lançado no início do ano que vem. A segunda, Matilde Campilho, vive hoje em Lisboa após uma temporada de três anos no Rio – de 2010 a 2013 -, e está na quinta edição lusitana de sua primeira obra de poemas, “Jóquei” (ed. Tinta da China; no Brasil, o livro foi lançado pela ed. 34). Além das diferenças de temperamento, as duas mantêm uma nítida convergência de interesse: a escrita. O Globo reuniu as duas escritoras em Lisboa para uma descontraída conversa nestes tempos de crescentes intercâmbios literários luso-brasileiros. Prova disso é que elas voltarão a se encontrar em novembro, quando Matilde Campilho mediará na cidade do Porto o debate do projeto “Você é o que lê”, que além de Maria Ribeiro conta ainda com Xico Sá e Gregório Duvivier. Continue lendo Maria Ribeiro e Matilde Campilho: uma conversa entre a cronista e a poeta

o fenômeno da Rentrée littéraire na frança

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A rentrée littéraire na livraria l’Écume des Pages. ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG/ ZERO HORA

PARIS – O mês de setembro assinala o começo do outono na Europa. É o verdadeiro início do ano no continente depois das festejadas férias de verão. Janeiro é januarius, mês do deus Janus, representado por duas faces coladas e opostas, uma mirando para o passado, e a outra, na direção do futuro. Mas é no nono mês do calendário que as tradicionais agendas vendem como baguette quente, e as revistas exibem os mais previsíveis artigos sobre “as resoluções para o novo ano”. Depois do dolce far niente de agosto, o estresse logo se instala nos subterrâneos do metrô, novamente tumultuados, e nos semblantes de motoristas impacientes em meio aos frequentes engarrafamentos. Os ministros da República retornam ao debate político bronzeados pelo sol estival, as crianças se alvoroçam nos portões das escolas na volta às aulas, e a vida cotidiana, cultural e gastronômica retoma seu curso, já com as matizes de outono. O setembro francês é o março brasileiro. É o ano que (re)começa. Continue lendo o fenômeno da Rentrée littéraire na frança