Arquivo da categoria: Política

Ucrânia, Mercosul e nova ordem financeira na agenda de emmanuel Macron com Lula em paris

Lula e Macron no Palácio do Eliseu, em Paris. ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Garantir a presença do presidente Lula em Paris para participar da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global foi tratado pelo anfitrião do evento, o líder francês Emmanuel Macron, como uma missão prioritária. Depois de quatro anos de governo Bolsonaro, nos quais os contatos políticos de alto nível com a França foram suspensos, Macron festejou a volta ao poder de seu “velho conhecido” Lula, com quem reivindica uma relação de amizade, para relançar a parceria entre os dois países. Nesta nova lua de mel, no entanto, também há lugar para discordâncias. Hoje, Brasília e Paris divergem, principalmente, nas questões do conflito na Ucrânia e do acordo de livre comércio União Europeia-Mercosul.

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Guerra prolongada na Ucrânia põe Europa diante de incertezas

Moradores passam por um mural em Kiev mostrando um grafite do Kremlin em chamas: guerra expôs interesses divergentes do eixo franco-alemão e dos países do Leste Europeu. Foto: Genya Savilov/AFP

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PARIS – A eclosão da guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro passado e seu prolongamento até hoje abalaram a agenda de uma Europa em busca de união política, crescimento econômico e maior independência em questões de segurança e defesa. A invasão das forças russas de Vladimir Putin em território ucraniano obrigou a União Europeia e seus países membros a reverem estratégias de curto a longo prazo, provocou a redistribuição de cartas no tabuleiro geopolítico, reavaliou alianças e alterou planos militares e energéticos.­

A guerra revirou completamente o espaço europeu – resume Tara Varma, analista do European Council on Foreign Relations (ECFR). – Infelizmente, este conflito não terminará logo, e há uma verdadeira questão sobre o que a UE fará no dia de amanhã.

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Após quatro anos difíceis sob governo bolsonaro, relação frança-brasil é retomada em novas bases

Lula foi recebido pelo presidente Emmanuel Macron para um almoço no Palácio do Eliseu em 17 de novembro de 2021. © Ricardo Stuckert

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PARIS – Os quatro anos do governo Bolsonaro se destacaram por uma explícita animosidade política e diplomática com a França, histórico parceiro do Brasil. A cartilha isolacionista e antiambientalista do período bolsonarista, acrescida de agressões verbais do presidente brasileiro e de ministros de seu governo, levaram ao estremecimento e a um retrocesso nas relações entre Brasília e Paris. Com o retorno de Lula ao Palácio do Planalto, os dois países começaram a articular, mesmo antes da posse, uma reaproximação e o restabelecimento da relação bilateral em novas bases.

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GOLSHIFTEH FARAHANI: ‘Se vencermos no Irã, a mulher ganhará e o mundo também’

Atriz iraniana Golshfiteh Farahani, exilada em Paris desde 2008, se tornou uma porta voz do movimento contra a ditadura do regime islmâmico de Teerã. ©Philippe Gay

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PARIS – A atriz iraniana Golshifteh Farahani se converteu em uma infatigável ativista em apoio à revolta deflagrada em seu país em setembro, no rastro da morte da jovem Masha Amini, de 22 anos, sob custódia da polícia da moralidade por suposto uso inadequado do véu islâmico. Exilada em Paris desde 2008, a atriz não passa um dia sem postar aos seus mais de 15 milhões de seguidores no Instagram denúncias contra a violência e os desmandos praticados pela ditadura islâmica comandada com mão de ferro pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Como uma porta-voz no exterior do movimento, tem se manifestado como pode, seja nas redes sociais ou escrevendo uma tribuna para o jornal New York Times. 

– Por vezes, me sinto realmente desesperada. Outras vezes, repleta de esperança. Algumas vezes em lágrimas ou com raiva. Cada dia é uma emoção diferente. A única coisa que sei é que não posso abandonar ­­­­­– desabafa ao Globo, ao final de mais um dia de filmagens para um novo longa-metragem na França.

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Eleição LEGISLATIVA joga Macron nos braços de conservadores e testa programa da extrema direita DE MARINE LE PEN

Macron chega para votar no domingo: apesar dos alertas dele de que uma derrota de sua coalizão seria o caos, analistas afirmam que perda da maioria no Parlamento não o impedirá de governar.
©Ludovic Marin/AFP

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PARIS — As eleições legislativas francesas abalaram o cenário político do país. O resultado das urnas compromete a governabilidade do segundo mandato do presidente Emmanuel Macron, agora sem maioria parlamentar absoluta e obrigado a costurar uma nova estratégia de alianças políticas. A Reunião Nacional (RN), da líder de extrema direita Marine Le Pen, terá de provar na prática seu novo e surpreendente status, ao passar de apenas oito para 89 deputados na Assembleia Nacional. É O Mesmo desafio para o renascimento da esquerda como principal força de oposição, por meio da coligação Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes). Sem esquecer o elevado índice de abstenção, persistente reflexo da desconfiança do eleitorado e de uma fraturada realidade política e social.

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“Terceiro turno” na França testa nova frente de esquerda e ameaça a maioria parlamentar de emmanuel Macron

Depois de liderar a união das esquerdas, Jean-Luc Mélenchon (ao centro) almeja maioria que obrigue Macron a nomeá-lo prileiro-ministro. © Yohan Bonnet/AFP

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PARIS – Após sua reeleição à presidência da França, em abril, Emmanuel Macron não revelava maiores preocupações com a renovação de sua maioria parlamentar de governo no pleito legislativo, cujo primeiro turno ocorre neste domingo. Em meio às celebrações da vitória pelo segundo mandato, o presidente não contava com o surgimento da Nupes, sigla para Nova União Popular Ecológica e Social, agrupamento das principais forças de esquerda do país. O novo cenário eleitoral ameaça suas pretensões de governar sem a necessidade de costurar alianças políticas, e apresenta o risco, embora considerado pouco provável, de que se veja obrigado a nomear um primeiro-ministro do campo da oposição, em um sistema de coabitação.

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Franceses votam hoje nas urnas para eleger presidente “por exclusão”

Macron e Le Pen durante debate na TV, antes do segundo turno da eleição à Presidência, neste domingo.

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PARIS – As urnas decidem neste domingo quem será o próximo presidente da França: o candidato de centro-direita Emmanuel Macron, em busca da reeleição, ou a representante da extrema direita, Marine Le Pen. A disputa repete o cenário da precedente eleição presidencial francesa, em 2017, vencida por Macron por 66,1% a 33,9%. Os cinco anos desde então, no entanto, alteraram o contexto político e a imagem dos dois candidatos. As pesquisas apontam neste duelo final uma vantagem para Macron, mas inferior aos índices do pleito anterior, e a ameaça de uma vitória da ultradireita paira novamente sobre o país.

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Extrema direita de Marine le pen ameaça favoritismo de Macron na eleição dste domingo na frança

Comício tardio: diante de cartazes dos candidatos, eleitores esperam chegada de Macron a comício em Spezet; ocupado com guerra, ele atrasou campanha em votação na qual poder aquisitivo é a maior preocupação. © Stephane Mae/Reuters

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PARIS – A França começa a eleger a partir deste domingo o ocupante do Palácio do Eliseu pelos próximos cinco anos. O favoritismo inicial do presidente Emmanuel Macron à reeleição derreteu nos últimos dias, segundo as pesquisas, ameaçado pela ascensão da candidata de extrema direita Marine Le Pen. Em uma campanha morna, abafada pela pandemia da Covid-19 e a guerra da Ucrânia, boa parte dos 48,7 milhões de inscritos nas listas eleitorais poderão abdicar do voto, na previsão de um forte índice de abstenção. A nova dinâmica surgida na reta final para o pleito, no entanto, alimenta incertezas em relação aos resultados e também à mobilização do eleitorado.

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Efeitos da guerra da Ucrânia pairam sobre os franceses no pós-EleiçÃO

FERNANDO EICHENBERG/ O GLOBO

PARIS – Candidato à reeleição na França, o presidente Emmanuel Macron coloca à prova nas urnas seu mandato, marcado por críticas à verticalidade do poder, pelo movimento protestatório dos coletes amarelos, a crise sanitária da Covid-19 e, no final de governo, a guerra da Ucrânia. O vencedor do segundo turno, no dia 24, presidirá um país ameaçado pelas consequências econômicas do conflito europeu, o retorno da inflação, os desafios da transição energética e uma crescente insatisfação e fratura sociais.

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LOUIS POUZIN, gurU do datagrama: “o HOMEM QUE NÃO INVENTOU A INTERNET”

Louis Pouzin, hoje aos 90 anos. Na edição de março da revista Piauí conto como a França jogou no lixo a chance de inventar a internet. ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG/ REVISTA PIAUÍ

PARIS/PLOURHAN – Na tarde de 17 de dezembro de 1996, a Biblioteca Nacional da França (BnF) havia preparado com zelo a cerimônia de abertura ao público de seu novo espaço de 7,5 hectares no bairro Tolbiac, em Paris. O ambicioso projeto fora anunciado em 1988 pelo presidente socialista François Mitterrand, exaltado como a “maior e mais moderna biblioteca do mundo”, recorrendo às “tecnologias mais avançadas de transmissão de dados”. Mitterrand conseguiu inaugurar oficialmente o local, sem os livros e documentos, em março de 1995, no apagar das luzes de seu segundo mandato. Coube a seu sucessor e rival, o conservador recém-eleito Jacques Chirac, abrir com pompa presidencial as portas da edificação de linhas puristas, de quatro torres de vidro, projetada à beira do rio Sena pelo arquiteto francês Dominique Perrault.

Na visita de praxe acompanhada pela imprensa, Chirac, em pé diante de um computador, acompanhava atentamente uma demonstração sobre as funcionalidades da internet na biblioteca quando interrompeu seu interlocutor: “Mouse? O que é mouse?”. A sequência, exibida no telejornal das 20h do canal France 2, viralizou segundo os meios da época e inspirou um sketch do então célebre programa humorístico de marionetes “Les Guignols de l’Info”, do Canal Plus. A gafe perdurou por anos com diferentes enredos, e a pecha de ignorante do mundo da informática perseguiu Chirac até o final de sua vida. Sua ex-conselheira para o fomento da internet confessou certa vez: “Ele ficou completamente traumatizado pelo affaire do mouse”. 

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ELEIÇÃO NA FRANÇA: Com esquerda esvaziada, três candidatos da direita lutam para ir ao segundo turno contra Macron

Valérie Pécresse (centro) com dirigentes dos Republicanos. Na campanha, ela trocou a célebre divisa “liberdade, igualdade, fraternidade” pelo tríptico “liberdade, autoridade, dignidade” .
©Christophe Archambault /AFP

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PARIS — A campanha para as eleições presidenciais francesas de abril deste ano, oficialmente lançada neste mês, tem sido marcada por uma radicalização à direita dos debates. De acordo com as pesquisas, três candidatos aparecem com chances de passar a um eventual segundo turno para enfrentar o presidente Emmanuel Macron, por enquanto à frente nas intenções de voto e tido como assegurado no duelo final. Valérie Pécresse, da direita tradicional, disputa com dois nomes da ultradireita, Marine Le Pen e Éric Zemmour, o direito de sonhar com o Palácio do Eliseu. Já o campo da esquerda amarga as últimas posições, incapaz de pesar no debate das urnas.

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Bolloré: o “murdoch francês” por trÁs do candidato de extrema direita éric zeMmour

Vincent Bolloré: canal CNews deu visibilidade ao candidato da direita radical Éric Zemmour. ©Marlene Awaad/Bloomberg

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PARIS –  A candidatura do ultradireitista Éric Zemmour às eleições presidenciais francesas de 2022 não é fruto do acaso. Por trás de sua ascensão no cenário político nacional está o megaempresário francês Vincent Bolloré, que nos últimos seis anos constituiu um império de mídia focado em temas caros à extrema direita, como a imigração e o Islã. A ofensiva conservadora do industrial bilionário nos debates do país tem sido comparada à influência na política americana do magnata da mídia Rupert Murdoch e seu canal Fox News.

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eleiçÃO presidenciaL 2022: Éric Zemmour, polemista da ultradireita, embola a campanha na França

Éric Zemmour, surpresa nas pesquisas para o pleito presidencial francesa de 2022. ©Ludovic Marin/AFP

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PARIS – A seis meses do pleito presidencial francês, em abril de 2022, surpresas aumentam as incertezas no cenário eleitoral. As pesquisas indicavam até o momento uma nova disputa de segundo turno entre o presidente Emmanuel Macron e a candidata de extrema direita Marine Le Pen, como em 2017, com vantagem para a reeleição do primeiro. Mas a potencial candidatura do polemista de ultradireita Éric Zemmour alterou o tabuleiro político e abriu novas possibilidades para o resultado das urnas, em uma pré-campanha marcada até agora por temas caros ao campo conservador, como imigração, segurança e questões identitárias.

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em paris, CRISTIANA REALI LEVA os combates de SIMONE VEIL PARA O PALCO

©Pascalito

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A atriz brasileira Cristiana Reali está de volta aos palcos franceses após uma longa pausa forçada pela pandemia da Covid-19. E retornou encarnando uma das personagens mais emblemáticas, populares e admiradas na França : Simone Veil (1927-2017), sobrevivente de Auschwitz, defensora dos direitos das mulheres, autora da lei que legalizou o aborto no país, primeira presidente eleita do Parlamento Europeu e arauto da reconciliação e construção europeia no pós-Segunda Guerra. Um ano após a sua morte, aos 89 anos, foi entronizada no Panteão, célebre monumento onde repousam as grandes personalidades nacionais.

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Autoritarismo está por trás de discurso de ameaça de guerra civil na França, diz sociólogo

Ato do movimento dos coletes amarelos em Paris com a inscrição ‘traidores da nação’ no chão; arsenal repressivo aumentou com luta antiterrorista. ©Benoit Tessier / Reuters

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – O discurso de ameaça de uma guerra civil tem sido presente na França, adotado seja por militares, políticos da extrema direita e da direita e mesmo membros do governo. Generais da reserva e militares da ativa lançaram dois manifestos alertando para o quadro de insegurança e de prenúncio de guerra civil no país, e ameaçando com uma possível intervenção do Exército. O tema é recorrente nas manifestações da Reunião Nacional (RN), partido de extrema direita liderado por Marine Le Pen. Considerado um nome em ascensão da direita tradicional na corrida presidencial para o pleito de 2022, Xavier Bertrand também denunciou a confrontação entre os franceses “no risco de guerra civil”. Já o projeto de lei contra o separatismo proposto pelo governo Emmanuel Macron para combater o radicalismo islâmico no país foi elaborado sob o tema do agravamento dos conflitos na sociedade.

Adam Bazcko, especialista em sociologia de guerras civis do Centro Nacional de Pesquisas Sociais (CNRS, na sigla em francês), descarta qualquer possibilidade de uma guerra civil no país e define este atual mantra francês como um pretexto para transformar instituições públicas e de poder em um viés autoritário.

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Na França, edição crítica transforma livro de Adolf Hitler em alerta contra a extrema direita

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

Manifestantes na ‘Marcha da Liberdade’ em Villeurbanne, contra a ascensão da extrema direita na França. ©Jeff Pachoud/AFP

PARIS – A versão crítica francesa da mítica obra “Minha luta” (Mein kampf), do líder nazista Adolf Hitler, foi lançada este mês em meio a polêmicas e em um clima de ameaças da extrema direita no país. O projeto da editora Fayard, um trabalho de uma equipe de historiadores franco-alemã anunciado em 2011, adiado e depois finalizado a partir de 2015, resultou em um volume de 896 páginas, 3,6 quilos e 30cm x 24,5cm de dimensão, sob o título “Historicizar o mal – uma edição crítica de “Minha luta”. A edição, com 27 textos analíticos e quase 3 mil notas explicativas, nasceu com a ambição de contextualizar historicamente “Minha luta” e apontar as fake news do Führer na controversa obra.

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FRANÇA: manifestos MILITARES REVELAM INFLUÊNCIA DA ultradireita NA CORPORAÇÃO

Guardas marcham durante o desfile militar anual do Dia da Bastilha na avenida Champs-Elysées, em julho de 2018. ©Ludovic Marina/AFP

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PARIS — Dois manifestos militares publicados no espaço de menos de três semanas surpreenderam o governo e os meios políticos franceses por seu ineditismo. Violando o conhecido apelido do Exército de “o grande mudo” — por seu dever de reserva na expressão de posicionamentos políticos  — generais da reserva e militares da ativa soltaram a voz para denunciar o que consideram ser um quadro de insegurança e de prenúncio de guerra civil no país, ameaçando com uma possível intervenção militar. O episódio revela a disposição de uma parte da caserna em defender os interesses da corporação e também em influir nos destinos do país, em um clima de campanha política a menos de um ano das eleições presidenciais de 2022 que favorece a candidata da extrema direita, Marine Le Pen.

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Festa para NapoleÃO Bonaparte divide a França

Napoleão Bonaparte pelo pintor Jean-Louis David (1748-1825) © RMN-GP Château de Versailles

O bicentenário da morte de Napoleão Bonaparte neste ano de 2021 deflagrou uma disputa entre franceses que defendem festejar seu legado e outros que não veem nenhum motivo para celebrar a histórica data.

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PARIS – Em suas Memórias do além-túmulo, o escritor francês François-René de Chateaubriand (1768-1848) escreveu a propósito de seu desafeto Napoleão Bonaparte: “O mundo pertence a Bonaparte; o que o devastador não conseguiu terminar de conquistar, sua fama usurpa. Vivo ele perdeu o mundo, morto ele o possui. (…) Depois de termos sofrido o despotismo de sua pessoa, devemos nos submeter ao despotismo de sua memória”. Suas palavras ecoam neste ano de 2021, marco do bicentenário da morte de Napoleão Bonaparte, um dos mais emblemáticos personagens da História, falecido em 5 de maio de 1821, aos 51 anos, em seu exílio forçado na Ilha de Santa-Helena.

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França trata como ameaça a crescente atividade de grupos da ultradireita no país

Manifestação do grupo Geração Identitária contra sua dissolução decretada pelo governo. ©AFP

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PARIS – A profusão de grupos da ultradireita, oficialmente declarados ou imersos na clandestinidade, se tornou alvo de maior vigilância por parte do governo e dos serviços de inteligência franceses. Empunhando bandeiras contra a imigração, o islã ou o “globalismo”, uma miríade de facções integradas por identitários, ultranacionalistas, soberanistas, racistas, antissemitas, neonazistas ou neofascistas agem de forma crescente, principalmente na rede da internet, impulsionando a radicalização e representando uma potencial ameaça terrorista.

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França revê memória da Guerra da Argélia, buscando reconciliação com ex-colônia

30 de julho de 1957 – Argelinos presos sob ordens do coronel francês Bigeard, na antiga Praça do Governo, na capital Argel. o local atualmente é chamado de Praça dos Mártires . ©AFP

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PARIS – A Guerra da Argélia (1954-1962), que culminou na independência do país africano após 132 anos de dominação colonial da França, deixou marcas até hoje indeléveis em ambos os lados, com visões divergentes do passado. Sessenta anos depois, a guerra de liberação se mantém como fonte permanente de conflito entre Paris e Argel, instrumentalizada tanto pela extrema direita e o islamismo político franceses como pelos regimes autoritários argelinos. O presidente Emmanuel Macron, face aos repetidos fracassos de seus predecessores, lançou seu próprio plano para apaziguar a tensão memorial entre os dois países. Especialistas ouvidos pelo GLOBO, porém, apontam inúmeros obstáculos em sua ambição de normalizar a relação histórica entre a ex-potência colonial e seu antigo território.

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Lei de Macron para combater radicalização arrisca estigmatizar Islã e aumentar discriminação de muçulmanos

Fiéis participam das orações coletivas de sexta-feira na Mesquita Omar, em Paris: pesquisa indica que maioria dos muçulmanos tem apreço e confiança nas instituições da República. ©Tyler Hicks/NYT

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PARIS – Nos últimos 30 anos, os sucessivos governos da França procuraram legiferar sobre a gestão e a prática do culto muçulmano no país. O atual presidente, Emmanuel Macron, não fugiu à regra. Seu projeto de lei sobre os separatismos, alvo de controvérsias, visa a um maior controle do islã no país para combater a radicalização do islamismo político e o terrorismo. O líder francês chegou mesmo a evocar a criação de um “Islã do Iluminismo”, mais em acordo com os princípios e valores republicanos. Especialistas ouvidos pelo GLOBO, no entanto, apontam equívocos e potenciais ameaças desta nova tentativa de reorganização do chamado “Islã da França”, e alertam para os nocivos efeitos da estigmatização e da discriminação.

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Com viés expansionista inspirado no período áureo do Império Otomano, Erdogan busca a reeleição na Turquia

Fiéis muçulmanos reúnem-se em reconversão em mesquita do Museu de Santa Sofia, em Istambul: Erdogan busca explorar antiga imagem da Turquia de defensora do Islã. ©Kerem Uzel/Bloomberg

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PARIS – A Turquia tem se destacado por sua onipresença em diferentes frentes do tabuleiro geopolítico internacional, fonte de atritos com inúmeros países, em uma ofensiva autoproclamada pelo presidente Recep Tayyip Erdogan. Suas ambições além fronteiras – refletidas em ações políticas e militares na Síria, na Líbia, no Mediterrâneo Oriental ou no Sul do Cáucaso, e também por um discurso islamista com pretensões de liderança no mundo muçulmano -, ganharam a definição de “neo-otomanismo”, como um novo viés expansionista inspirado no período áureo do Império Otomano.

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França atravessa polarização política peculiar e aumento da proliferação de teorias conspiratórias

Jovem leva cartaz pedindo “liberdade” em ato em Bordeaux contra Lei de Segurança Global, que provocou polêmica na França. ©Philippe Lopez/AFP

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PARIS – Historicamente, importantes crises provocadas por catástrofes naturais, crashes econômicos, atentados terroristas, ameaças externas ou pandemias costumam favorecer a união nacional e propulsar os índices de popularidade do chefe da nação. Durante a crise da Covid-19, no entanto, o presidente francês, Emmanuel Macron, registrou um modesto ganho de apreciação pública, inferior aos índices alcançados por homólogos europeus. Segundo especialistas, cada vez mais este fenômeno de opinião se revela de curta duração e de menor impacto na França, principalmente por causa de uma crescente polarização política no país e uma forte desconfiança dos cidadãos em relação às instituições de poder, descrédito também estimulado por métodos de desinformação.

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Divisão e falta de novos líderes ameaçam deixar esquerda fora do pleito presidencial na França

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, do Partido Socialista (PS), já não esconde suas ambições de disputar as próximas eleições presidenciais francesas de 2022. ©Benoît Tessier/Reuters

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PARIS – Na presidência de François Hollande (2012-2017), a esquerda, representada pelo Partido Socialista (PS), detinha o Poder Executivo e o controle do Senado e da Assembleia Nacional. Hoje, três anos depois, o PS já não conta nem mais com sua histórica sede parisiense da rua Solférino, à qual teve de renunciar por razões financeiras, e considera mudar o nome da sigla. As forças políticas de esquerda francesas se encontram fortemente divididas, sem lideranças capazes de se impor no cenário político nacional, e no risco de em 2022, pela segunda vez consecutiva, serem excluídas do segundo turno da eleição presidencial.

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ofensiva de segurança de Macron mira eleItorado conservador no pleito presidencial de 2022

Manifestação em Paris contra a Lei de Segurança Global do governo Macron. ©AFP

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PARIS – As duas frentes sobre questões de segurança na França recém-abertas pelo presidente Emmanuel Macron provocaram controvérsias e suscitaram críticas e protestos no Parlamento, na sociedade civil e mesmo em instâncias internacionais. O projeto de lei que pretende combater o islamismo radical no país será apresentado ao Conselho de Ministros no próximo dia 9. Já a proposta legislativa com medidas de incremento da segurança interna e de proteção aos policiais, chamada Lei de Segurança Global, começou a ser debatida na Assembleia Nacional esta semana. A um ano e meio do próximo pleito presidencial, em maio de 2022, Macron investe em temas caros ao eleitorado conservador, na perspectiva de sua reeleição ao cargo.

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Análise: França ainda não achou saída para questão explosiva do Islã radical

Soldado em frente à basílica de Notre-Dame em Nice nesta quinta-feira, após o atentado.
©Eric Gaillard/Reuters

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PARIS – O atentado em Nice se soma a outras recentes ações terroristas ocorridas em solo francês em um contexto de agravamento das tensões em torno da questão muçulmana e do islã radical. O desfecho do processo judicial sobre os ataques de 2015 à redação do jornal satírico Charlie Hebdo, com veredicto previsto em duas semanas, levou à republicação de caricaturas do profeta Maomé, provocando protestos de muçulmanos na França e no exterior. Já o anúncio pelo governo de um projeto para combater com maior rigor o islamismo político acirrou controvérsias em torno da laicidade e da islamofobia. Para analistas ouvidos pelo GLOBO, a França se encontra, hoje, no impasse de um debate de surdosl que impede uma solução consensual para um problema altamente inflamável.

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EXTREMA DIREITA ESTAGNA NA FRANÇA, MAS MARINE LE PEN SE MANTÉM na corrida presidencial para 2022

Marine Le Pen em reunião com o ministro do Interior, Gerald Darmanin (E), para discutir legislação contra o “separatismo islâmico”, com a qual Macron busca atrair eleitorado da direita. ©Ludovic Marin/AFP

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Se as eleições presidenciais francesas, marcadas para 2022, ocorressem hoje, se repetiria, segundo as pesquisas de opinião, o cenário do pleito de 2017: Emmanuel Macron disputaria o segundo turno com Marine Le Pen, líder do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), com vantagem para a reeleição do atual presidente. Le Pen tentará pela terceira vez consecutiva conquistar o Palácio do Eliseu. A direita radical tem progredido a cada escrutínio nacional, mas, ao mesmo tempo, não consegue se enraizar localmente no país, com modestos resultados nos sufrágios regionais e municipais. Desde que assumiu a liderança do partido em 2011, Marine Le Pen impôs gradativamente uma estratégia de “desdiabolização”, com o objetivo pragmático de tornar seu discurso político palatável aos votos menos extremistas e ampliar seu eleitorado. Mas, apesar dos progressos verificados, ainda enfrenta dificuldades em afirmar a credibilidade de sua imagem presidencial junto àmaioria dos franceses. Continue lendo EXTREMA DIREITA ESTAGNA NA FRANÇA, MAS MARINE LE PEN SE MANTÉM na corrida presidencial para 2022

Hénin-Beaumont: cidade do norte da frança se tornou reduto da extrema direita

Moradores de Hénin-Beaumont, antigo centro de mineração no Norte da França, falam das razões do seu voto e o que pensam da política nacional. ©Fotos de Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBEG / O GLOBO

HÉNIN-BEAUMONT, FRANÇA – Nas eleições municipais de 2014, Hénin-Beaumont ganhou notoriedade ao se tornar a primeira cidade da França em que o partido de extrema direita Frente Nacional, hoje rebatizado de Reunião Nacional (RN), se apoderou de uma prefeitura já no primeiro turno. No pleito deste ano, o prefeito Steeve Briois repetiu o feito: se reelegeu com 74,2% dos votos na primeira rodada das urnas, superando seu escore anterior de 50,2%. Situado na região Nord-Pas-de-Calais, no norte do país, o município, ex-centro de mineração atingido pela desindustrialização e antigo bastião da esquerda, se converteu em reduto da direita radical e uma das 14 prefeituras conquistadas pelo RN em 2020. Não foi uma surpresa, portanto, o resultado das urnas em Hénin-Beaumont nas eleições presidenciais de 2017, com ampla vitória de Marine Le Pen (RN), por 66,1% a 38,4%, contra Emmanuel Macron, o vencedor em nível nacional. Continue lendo Hénin-Beaumont: cidade do norte da frança se tornou reduto da extrema direita

A partir de arquivos inéditos, nova biografia mostra um sartre avesso ao engajamento políticO, divertido e sonhador

Correspondência privada e arquivos de áudio e vídeo revelam um outro Sartre. ©AFP

FERNANDO EICHENBERG/ REVISTA ÉPOCA

PARIS – E se o filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), símbolo maior do intelectual engajado do século XX, implicado nas principais lutas sociais e conflitos internacionais pós-Segunda Guerra Mundial, no fundo, não era assim tão entusiasta de seu ativismo político? “Na verdade, a política me enche o saco”, desabafou Sartre a sua amante russa, Lena Zonina, em uma carta de janeiro de 1963. François Noudelmann, estudioso de Sartre há 20 anos, encontrou várias confidências similares nos arquivos inéditos a que teve acesso, cedidos pela filha adotiva do filósofo, Arlette Elkaïm, morta em 2016. Continue lendo A partir de arquivos inéditos, nova biografia mostra um sartre avesso ao engajamento políticO, divertido e sonhador

Economista francês thomas piketty, com novo livro lançado no brasil, fala sobre as soluções para as desigualdades no mundo e para a crise pós-pandemia da covid-19

Para economista francês, falta de ambição nas reformas econômicas e na redução da desigualdade é o que alimenta a xenofobia e os nacionalismos; ele diz que, se pudesse, diria a Bolsonaro que ele ainda pode admitir erros e mudar. ©Divulgação

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Sete anos após o best-seller internacional “O capital no século 21”, vendido a mais de 2,5 milhões de exemplares, o economista francês Thomas Piketty está de volta às vitrines das livrarias com mais uma ambiciosa obra. Em “Capital e ideologia” (Intrínseca), procura traçar uma história econômica, social, intelectual e política das desigualdades em âmbito mundial. Diretor na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e professor da Escola de Economia de Paris, Piketty ampliou seu mapa de estudo ao analisar, além de Estados Unidos, Alemanha e Japão, casos de países como Brasil, China, Índia, Japão, Rússia, Suécia ou Irã, passando pelas sociedades feudais, os regimes escravocratas e as colônias americanas sob dominação europeia até chegar às democracias eleitorais atuais e ao “hipercapitalismo moderno”. Mas não se contenta com a perspectiva analítica e, ao final, sugere soluções, já alvo de polêmicas, para a construção de um novo horizonte igualitário de proporções universais, um tipo de “socialismo participativo” para o século 21, em uma nova ideologia da igualdade sob formas alternativas de organização da sociedade, da propriedade, da educação ou dos impostos. Na entrevista, ele lembra que governos de direita já adotaram políticas redistributivas diante de crises como a provocada pela Covid-19, e sugere que a tributação do patrimônio privado pode ser uma maneira de pagar os gastos excepcionais que os países estão tendo na pandemia. Continue lendo Economista francês thomas piketty, com novo livro lançado no brasil, fala sobre as soluções para as desigualdades no mundo e para a crise pós-pandemia da covid-19