Arquivo da categoria: Entrevista

Marie NDiaye: romancista francesa fala de identidade e de sua escrita da ambiguidade

Marie NDiaye em seu apartamento em Paris. Fotos: ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA QUATRO CINCO UM

PARIS — Por volta dos 10 anos, Marie NDiaye foi presenteada por sua mãe, professora de Ciências, com a Petite Internationale, uma pequenina máquina de escrever de plástico, concebida especialmente para crianças. Nessa época, descobriu o livro Them, da escritora americana Joyce Carol Oates, obra que a mãe, voraz leitora, havia tomado emprestado na biblioteca. “Foi um tipo de epifania. Saí transformada dessa leitura. Compreendi o que era possível criar com as palavras, e queria fazer igual. Esse livro mudou minha vida”, conta NDiaye, hoje aos 57 anos, assentada no sofá de seu apartamento em Paris, próximo à Place de la Nation. Tornar-se escritora não emergiu como uma interrogação, mas uma evidência, diz ela. Mais tarde, adolescente, ganhou de sua tia uma enorme e pesada máquina de escrever profissional. “Minha tia trabalhava em um banco, que modernizou a agência e descartou vários equipamentos. Foi uma grande felicidade ter essa bela máquina. Era como um grande e velho carro que funcionava bem. E fazia muito ruído”, relembra. Entre os 12 e 15 anos, se aventurou nas literaturas americana, russa e sul-americana, e tentava, a sua maneira, copiá-las. Ao ler Gabriel García Márquez, escreveu uma breve ficção que se passava na Colômbia. “Gostei imensamente de García Márquez, dessa erupção do fantástico na vida mais ordinária de pessoas comuns. Sempre fui muito atraída por essa mistura entre o fantástico e o real”, admite.

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Anne Hidalgo, prefeita de Paris, defende sua política verde, anticarros, critica seus críticos e diz que cidade está pronta para os Jogos Olímpicos

Anne Hidalgo em entrevista ao Globo, no Hôtel de Ville. Fotos: ©Barthelemy Bolo

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS — Entre os livros de cabeceira da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, se encontra a obra Tudo vai melhorar, da escritora Almudena Grandes. Nessa novela póstuma, a premiada autora espanhola, falecida no final de 2021, criou um enredo de resiliência e solidariedade em uma realidade distópica pós-coronavírus. Hidalgo revela ser intimamente marcada pelas “impressões futuristas” de pessoas que investigam o mundo, a política e a alma humana, e que são capazes de vaticinar: “Isso poderá acontecer se nada fizermos”.

Ninguém poderá dizer que a prefeita pouco fez em dez anos, em dois períodos consecutivos no comando de uma das capitais mais emblemáticas do planeta — eleita em 2014 e reeleita em 2020, seu atual mandato se encerra em 2026. Seus projetos para Paris receberam numerosos apoios mas também severas críticas, às quais nunca renunciou em rebater. “Como eu resisto? Defendendo minhas ideias, com entusiasmo e alegria. Para mim, não é um sacrifício nem um sacerdócio. Faço o que penso que devo fazer e o que tenho vontade de fazer”, diz com determinação ao receber o caderno ELA, de O Globo, em seu amplo gabinete na secular sede da Prefeitura, no centro da cidade, às vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris..

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ENTREVISTA COM O ESCRITOR MOHAMED MBOUGAR SARR

FERNANDO EICHENBERG/ QUATRO CINCO UM

PARIS – Ao encerrar em Lisboa, em junho, sua longa turnê de 65 shows em nove meses, Chico Buarque voou rumo a Paris para merecidos dias de descanso antes de retornar ao Brasil. Da estante de sua morada na capital francesa, retirou um livro adormecido, que havia ganhado de presente de aniversário no ano passado: La plus secrète mémoire des hommes, do escritor senegalês Mohamed Mbougar Sarr. Aberta a primeira página, não conseguiu mais parar a leitura. “É simplesmente maravilhoso! Ele escreve maravilhosamente bem, e além do mais é engraçado, tem humor. Após ler esse livro, não sei como poderei voltar a escrever novamente”, exagerou o escritor laureado com o prestigioso prêmio literário Camões, sem esconder seu vivo entusiasmo.

Sarr não seduziu com sua escrita apenas o escritor brasileiro, mas também o exigente júri do Goncourt, o mais importante prêmio literário francês. A mais recôndita memória dos homens, assim traduzido e recém-lançado no Brasil pela editora Fósforo, foi apontado vencedor do Goncourt em 2021, por unanimidade, e desde então tem acumulado elogios da crítica e conquistado leitores pelo mundo.

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Entrevista: Ben Harper

Fotos: © Fe Pinheiro / Styling: Sonia Bedere

FERNANDO EICHENBERG – O GLOBO

PARIS – Ben Harper chegou para a entrevista, agendada no bar do hotel parisiense Maison Souquet, com seu tradicional gorro cobrindo a cabeça, exibindo suas tatuagens maori nos braços, e suado, segurando uma longa prancha de skate. A garçonete se ofereceu para guardar o volumoso objeto, mas ele mesmo o ajeitou encostado à parede. “Ando de skate por três ou quatro horas, quatro vezes por semana”, contou, ao acomodar a corpulência de seus quase 1,90 metros de altura na estreita poltrona de veludo vermelho. “Não sou um pai acabado. I’m rockin’ and rollin. O ritmo de meu coração é de 39 batidas por minuto à noite. Com o skate e meu coração, let’s go”. De pronto, mostrou um aplicativo em seu celular que mensura a cadência cardíaca e a perda de calorias. “Para ficar no meu peso, preciso queimar diariamente 450 calorias. No final do dia, chego até 375 calorias apenas caminhando, então, antes de ir para a cama, corro um pouco e está feito. Veja, agora mesmo meu coração está em 70 batidas por minuto, o que é baixo para essa hora do dia. Ao despertar, o aplicativo dá uma nota para o seu dia anterior e o seu sono, se você teve uma boa performance, ganha uma coroa, e aí estou pronto para encarar a nova jornada. É louco!”, diz, rindo.

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GOLSHIFTEH FARAHANI: ‘Se vencermos no Irã, a mulher ganhará e o mundo também’

Atriz iraniana Golshfiteh Farahani, exilada em Paris desde 2008, se tornou uma porta voz do movimento contra a ditadura do regime islmâmico de Teerã. ©Philippe Gay

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A atriz iraniana Golshifteh Farahani se converteu em uma infatigável ativista em apoio à revolta deflagrada em seu país em setembro, no rastro da morte da jovem Masha Amini, de 22 anos, sob custódia da polícia da moralidade por suposto uso inadequado do véu islâmico. Exilada em Paris desde 2008, a atriz não passa um dia sem postar aos seus mais de 15 milhões de seguidores no Instagram denúncias contra a violência e os desmandos praticados pela ditadura islâmica comandada com mão de ferro pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Como uma porta-voz no exterior do movimento, tem se manifestado como pode, seja nas redes sociais ou escrevendo uma tribuna para o jornal New York Times. 

– Por vezes, me sinto realmente desesperada. Outras vezes, repleta de esperança. Algumas vezes em lágrimas ou com raiva. Cada dia é uma emoção diferente. A única coisa que sei é que não posso abandonar ­­­­­– desabafa ao Globo, ao final de mais um dia de filmagens para um novo longa-metragem na França.

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RIP: BRUNO LATOUR (1947-2022)

Foto: ©Fernando Eichenberg/2013

FERNANDO EICHENBERG

Tive a chance de conversar com o pensador francês Bruno Latour uma vez em Paris, para uma entrevista para o jornal O Globo. Além de suas bem-vindas reflexões sobre o mundo moderno, tenho a vívida lembrança de de sua extrema generosidade e bom humor em nosso encontro, em sua sala no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-po). O incansável intelectual nos deixou neste 9 de outubro de 2022, aos 75 anos, vitimado pelo câncer. A seguir a entrevista publicada no jornal e também no segundo volume de meu livro de entrevistas “Entre Aspas – vol 2” (ed. L&PM).

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RIP: J.-L. GODARD (1930-2022)

Jean-Luc Godard em 1998. ©Richard Dumas/Agence VU

FERNANDO EICHENBERG/HEADLINE

PARIS – Na última vez em que vi Jean-Luc Godard pessoalmente, ele estava sentado em uma mesa do café parisiense Le Select. O local não poderia ser mais emblemático. Reduto de artistas e intelectuais no século passado, o célebre estabelecimento do número 99 no boulevard Montparnasse acolheu em suas mesas nomes como os de Luis Buñuel, Sergei Eisenstein, Vladimir Nabokov, Ernesty Hemingway, Samuel Beckett, Henry Miller, Anaïs Nin, Isadora Duncan, Allen Ginsberg, Jack Kerouac, William Burroughs, Salvador Dalí, Joan Miró, Erik Satie, Jean Cocteau, entre tantos outros. Godard era um dos habitués do café. Mais do que isso, filmou ali uma das cenas do cult Acossado. Naquela tarde, ele estava solitário, um jornal fechado sobre a mesa, um fumegante charuto à boca, o olhar vago mirando o movimento da rua. Depois que paguei a minha conta, no caminho de saída parei diante de sua mesa, ele levantou a cabeça e me encarou com seus óculos de espessas lentes. Eu disse que ele certamente não lembraria de mim, e me apresentei como um jornalista brasileiro que um dia o havia entrevistado, e que guardava uma bela lembrança de nosso encontro. Ele disse uma ou duas palavras simpáticas, mas deixando claro que não desejava ser incomodado, e me despedi.

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RIP: Sempé (1932-2022)

Sempé em sua casa, em Paris. FOTOS: © Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG

Certa vez, em um domingo flanava pelo bulevar Montparnasse, em Paris, na companhia dos queridos amigos Luis Fernando Verissimo e Lúcia, e comentei que há pouco tempo havia entrevistado o grande Sempé em sua casa, no último andar de um prédio ali perto de onde estávamos. Verissimo, fã do desenhista francês, de pronto respondeu positivamente à minha pergunta se gostariam de conhecer o endereço. Caminhamos alguns minutos e logo estávamos em frente ao prédio. Mostrei o interfone, e recordo de Verissimo olhando para o alto, tentando imaginar, talvez, naquele momento o incansável Sempé debruçado em sua mesa, lápis à mão, criando mais uma de suas obras-primas. Havia entrevistado Sempé para o hoje extinto caderno Prosa & Verso, de O Globo. Recebido generosamente pelo anfitrião, além da ótima conversa, aproveitei para, com o seu consentimento, metralhar com minha câmera o personagem e o entorno. Jeans-Jacques Sempé nos deixou nesta quinta-feira, 11 de agosto. Aqui o resultado de nosso encontro, também publicado no segundo volume de meu livro de entrevistas, “Entre Aspas 2” (L&PM).

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Autoritarismo está por trás de discurso de ameaça de guerra civil na França, diz sociólogo

Ato do movimento dos coletes amarelos em Paris com a inscrição ‘traidores da nação’ no chão; arsenal repressivo aumentou com luta antiterrorista. ©Benoit Tessier / Reuters

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – O discurso de ameaça de uma guerra civil tem sido presente na França, adotado seja por militares, políticos da extrema direita e da direita e mesmo membros do governo. Generais da reserva e militares da ativa lançaram dois manifestos alertando para o quadro de insegurança e de prenúncio de guerra civil no país, e ameaçando com uma possível intervenção do Exército. O tema é recorrente nas manifestações da Reunião Nacional (RN), partido de extrema direita liderado por Marine Le Pen. Considerado um nome em ascensão da direita tradicional na corrida presidencial para o pleito de 2022, Xavier Bertrand também denunciou a confrontação entre os franceses “no risco de guerra civil”. Já o projeto de lei contra o separatismo proposto pelo governo Emmanuel Macron para combater o radicalismo islâmico no país foi elaborado sob o tema do agravamento dos conflitos na sociedade.

Adam Bazcko, especialista em sociologia de guerras civis do Centro Nacional de Pesquisas Sociais (CNRS, na sigla em francês), descarta qualquer possibilidade de uma guerra civil no país e define este atual mantra francês como um pretexto para transformar instituições públicas e de poder em um viés autoritário.

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Marlene taschen, 35 anos, ceo da editora de livros de arte taschen

Marlene Taschen ©Marco Glaviano

FERNANDO EICHENBERG/O GLOBO

PARIS – Aos 32 anos, Marlene Taschen soube de forma inusitada de sua nomeação como CEO da editora alemã Taschen, célebre tanto por democratizar os livros de arte como por glorificá-los em verdadeiros objetos de luxo. Seu pai, Benedikt Taschen, fundador da editora, era entrevistado ao seu lado em um evento em uma das livrarias da casa, em Berlim, e sem aviso prévio fez o anúncio. “Receber esta responsabilidade, assim deste jeito, foi um choque. E decidi aceitar o desafio”, conta ela em uma conversa por zoom de Londres, onde vive com o marido e a filha Aurelia, de 9 anos.

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THOMAS CHATTERTON WILLIAMS fala sobre racismo e seu manifesto CONTRA A CULTURA DO CANCELAMENTO

©JF PAGA

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA ÉPOCA

PARIS – Como um dos principais idealizadores do manifesto contra a cultura do cancelamento, que contou com a assinatura de 153 artistas e intelectuais de renome – entre os quais Noam Chomsky, Margaret Atwood, Salman Rushdie, J.K. Rowling e Francis Kukuyama -, o escritor americano Thomas Chatterton Williams jamais imaginou que a iniciativa a  alcançaria tamanha repercussão e controvérsia. O número de seus seguidores no Twitter, hoje em 80 mil, mais do que dobrou após a publicação de “Uma carta sobre justiça e debate aberto”, traduzido em apoio e também em críticas.

Willliams defende a primazia de valores e princípos universais face a sociedades cada vez mais “fragmentadas em grupos identitários”. O racismo não poderá ser superado se acreditarmos em categorias raciais, diz.

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ALAIN MABANCKOU: “HÁ, hoje, nos eua, uma luta contra o racismo e também entre classes”

O racismo é um departamento dentro da luta de classes”, diz o escritor Alain Mabanckou. ©Sébastien Micke

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA ÉPOCA

PARIS – O escritor Alain Mabanckou viveu 22 anos na República do Congo, sua terra natal, outros 17 na França e, há 15, reside nos Estados Unidos, onde leciona literatura francesa na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Seus livros, como costuma dizer, habitam a geografia imposta por sua transumância, entre a África, a Europa e a América. Laureado pela Academia Francesa e finalista do Prêmio Internacional Man Booker, ele acaba de lançar na França “Rumeurs d’Amérique” (Rumores da América, ed. Plon), uma série de crônicas com impressões sobre o país que o adotou nos últimos anos.

Mabanckou manifestou nas ruas de Los Angeles junto ao movimento Black Lives Matter, e teme uma guerra civil nos EUA se o líder americano, Donald Trump, se recusar a aceitar o resultado das próximas eleições presidenciais em caso de derrota. O escritor conversou com Época em um café parisiense, em meio a promoção francesa de sua mais recente obra.

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A carioca Tabata Mey trocou a medicina pela gastronomia e hoje é uma chef estrelada na FranÇA

Tabata Mey recebeu sua primeira estrela do Guia Michelin e acaba de abrir um novo empreendimento em Lyon, na França, onde vive desde que saiu do Rio. Fotos ©Nicolas Villion

FERNANDO EICHENBERG/ O GLOBO

PARIS/LYON – Apesar da pandemia da Covid-19, o ano de 2020 trouxe boas notícias para a chef carioca Tabata Mey, 42, radicada em Lyon, na França. Em 15 de janeiro, ela inaugurou, junto com o marido francês, Ludovic, igualmente chef, o Food Traboule, uma praça de alimentação gastronômica em um local histórico da cidade, um projeto que levou três anos para se tornar realidade. Passados apenas 12 dias, foi anunciado que Les Apothicaires, o restaurante criado pelo casal em 2016, recebera sua primeira estrela no Guia Michelin.

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Economista francês thomas piketty, com novo livro lançado no brasil, fala sobre as soluções para as desigualdades no mundo e para a crise pós-pandemia da covid-19

Para economista francês, falta de ambição nas reformas econômicas e na redução da desigualdade é o que alimenta a xenofobia e os nacionalismos; ele diz que, se pudesse, diria a Bolsonaro que ele ainda pode admitir erros e mudar. ©Divulgação

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Sete anos após o best-seller internacional “O capital no século 21”, vendido a mais de 2,5 milhões de exemplares, o economista francês Thomas Piketty está de volta às vitrines das livrarias com mais uma ambiciosa obra. Em “Capital e ideologia” (Intrínseca), procura traçar uma história econômica, social, intelectual e política das desigualdades em âmbito mundial. Diretor na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e professor da Escola de Economia de Paris, Piketty ampliou seu mapa de estudo ao analisar, além de Estados Unidos, Alemanha e Japão, casos de países como Brasil, China, Índia, Japão, Rússia, Suécia ou Irã, passando pelas sociedades feudais, os regimes escravocratas e as colônias americanas sob dominação europeia até chegar às democracias eleitorais atuais e ao “hipercapitalismo moderno”. Mas não se contenta com a perspectiva analítica e, ao final, sugere soluções, já alvo de polêmicas, para a construção de um novo horizonte igualitário de proporções universais, um tipo de “socialismo participativo” para o século 21, em uma nova ideologia da igualdade sob formas alternativas de organização da sociedade, da propriedade, da educação ou dos impostos. Na entrevista, ele lembra que governos de direita já adotaram políticas redistributivas diante de crises como a provocada pela Covid-19, e sugere que a tributação do patrimônio privado pode ser uma maneira de pagar os gastos excepcionais que os países estão tendo na pandemia. Continue lendo Economista francês thomas piketty, com novo livro lançado no brasil, fala sobre as soluções para as desigualdades no mundo e para a crise pós-pandemia da covid-19

MICHEL PICCOLI (1925-2020)

Resnais, Demy, Melville, Buñuel, Renoir, Godard, Hitchcock : Michel Piccoli, aqui em 2011, atuou com grandes diretores. AFP/Anne-Christine Poujoulat

Imenso ator, Michel Piccoli nos deixou no dia 12, aos 94 anos, vítima de um acidente cerebral, em uma morte anunciada hoje por seus familiares. Presente em mais de 220 filmes, foi dirigido por renomados diretores e contracenou com grandes atrizes e atores. Tive a chance de entrevistar esse talentoso e generoso ser humano, que nunca deixou se engajar por pequenas e grandes causas, em 2003, um pouco antes de entrar em cena no Théâtre des Bouffes du Nord. Lembro como se fosse ontem conversarmos após o espetáculo, comendo tâmaras secas, e depois pegarmos junto o metrô de volta para nossos respectivos lares, os passageiros mirando sem jeito, incrédulos, se perguntando se era realmente o ator que estava ali no vagão.

Segui aqui o resultado de nosso encontro, publicado no primeiro volume de meu livro de entrevistas, “Entre Aspas 1” (L&PM). Continue lendo MICHEL PICCOLI (1925-2020)

Karoline Postel-Vinay: “A política não sobrevive no terreno das incertezas”

Mulher passa diante de um grafite em Londres: para analista francesa Incertezas científicas sobre pandemia alimentam disputa por influência entre líderes globais. © Henry Nicholls/ Reuters

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Diante das incertezas científicas que cercam a pandemia da Covid-19, multiplicam-se as narrativas políticas que buscam, por necessidade ou oportunidade, conferir coerência ao enfrentamento da crise, observa a cientista política Karoline Postel-Vinay. Especialista no estudo de narrativas nas relações internacionais, tema de seu próximo ensaio, a analista do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po) afirma que a política “tem horror à zona vaga de incertezas”, terreno no qual não sobrevive.  No caos mundial provocado pelo coronavírus, governos nacionais, organismos internacionais e movimentos de opinião criam seus próprios discursos, em uma “batalha de influências” que, segundo prevê, será ainda mais acirrada no período pós-crise. Continue lendo Karoline Postel-Vinay: “A política não sobrevive no terreno das incertezas”

A trajetória de Jessica Préalpato, que, aos 34 anos, ganhou o título de melhor chef pâtissière do mundo revolucionando as receitas de doces

“Acredito na minha boa estrela. Nada ocorre por acaso”, diz Jessica Préalpato. ©Iannis G/REA

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A francesa Jessica Préalpato, 34 anos, se tornou em 2019 a primeira mulher eleita melhor chef pâtissière do mundo na reputada classificação do World’s 50 Best Restaurants. É também, hoje, a única mulher a chefiar o menu de sobremesas em um restaurante distinguido com as três estrelas máximas do Guia Michelin, no caso, o estabelecimento do chef Alain Ducasse abrigado no Hotel Plaza Athénée, em Paris.

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Sebastião Salgado: “Nos tornamos aliens em nosso próprio planeta”

Aglomerações antes da pandemia: registro de Sebastião Salgado de uma estação de trem em Mumbai, em 1995. ©Sebastião Salgado

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Habituado ao longo da vida a rodar o planeta retratando as maiores tragédias humanas – entre guerras, êxodos ou a fome – e os mais belos e intocados cenários – em expedições para o projeto Gênesis -, o fotógrafo Sebastião Salgado encontra-se hoje, como grande parte da população mundial, confinado em casa. Recolhido em seu apartamento parisiense, ao lado da mulher e parceira de trabalho, Lélia, e do filho Rodrigo, segue à risca as regras da quarentena estabelecida pelo governo francês. E passa boa parte dos dias editando as imagens do projeto a que se dedicou nos últimos sete anos: fotografar a Amazônia. O material será tema da próxima grande exposição que fará, a partir de abril de 2021.

Para o célebre fotógrafo, que confessa ter sentido um “vazio na alma” na véspera do confinamento, o ser humano se tornou “um alien dentro de seu próprio planeta”. A pandemia do coronavírus deverá, segundo ele, alterar valores no mundo, no descarte da superficialidade dominante em detrimento do conceito de essencial, na produção de riqueza para o bem comum e na reconexão do ser humano à natureza. “Só nas grandes catástrofes que surgem as grandes solidariedades e reais preocupações com o futuro da humanidade. Isso é o que teremos de fazer agora”, diz. Continue lendo Sebastião Salgado: “Nos tornamos aliens em nosso próprio planeta”

RIP ALBERT UDERZO (1927-2020), um dos criadores da dupla Astérix & Obélix

Uderzo em sua casa, em Neuilly-sur-Seine. ©Pascal Vila/Sipa/AP

O desenhista Albert Uderzo, cocriador com o roteirista René Goscinny das célebres aventuras de Astérix & Obélix, morreu esta manhã, aos 92 anos, em sua casa nos subúrbios de Paris, vítima de um ataque cardíaco. Tive a oportunidade de encontrá-lo para uma entrevista, em 2009, em sua residência. Reproduzo aqui nossa conversa, realizada na época para a hoje extinta revista Personnalité, e depois publicada na íntegra no segundo volume do meu livro de entrevistas “Entre Aspas” (L&PM).

OBS: Por coincidência, os roteiristas do álbum “Astérix e a Transitálica” (2017), Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, incluíram na trama o vilão mascarado chamado “Coronavírus” e seu fiel companheiro “Bacillus”. Desta vez, não foram os Simpsons a anteciparem o futuro. Continue lendo RIP ALBERT UDERZO (1927-2020), um dos criadores da dupla Astérix & Obélix

Sabine Melchior-Bonnet: “Se há tantos divórcios e separações hoje, é porque se acredita no amor e se pensa que é possível ter algo melhor do que se está vivendo”

Historiadora francesa Sabine Melchior-Bonnet destrincha em livro a ruptura amorosa através dos tempos a partir de exemplos célebres. ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Separa-se, hoje, da mesma forma que em épocas passadas? Para a historiadora francesa Sabine Melchior-Bonnet, do reputado Collège de France, tudo parecia já ter sido dito sobre o amor, mas não sobre a ruptura amorosa. Foi o que a levou a mergulhar no tema e publicar o ensaio “Os revezes do amor – uma história da ruptura” (ed. PUF), recentemente lançado na França. As separações refletem os códigos culturais, religiosos, sociais e jurídicos de cada período, em uma história inevitavelmente ligada ao patriarcado, pois por séculos o divórcio foi um monopólio masculino: “Cada época constrói seus valores e suas normas afetivas, e fornece sua própria interpretação do amor”, diz a historiadora, em entrevista em seu apartamento parisiense. Para entender as rupturas ao longo da História, Melchior-Bonnet estudou o fim das relações de personagens conhecidos, de Heloísa e Abelardo a Lady Di e o Príncipe Charles, passando por Josefina e Napoleão, Marie d’Agoult e Franz Liszt, Georges Sand e Alfred Musset, Simone de Beauvoir e Nelson Algreen ou Maria Callas e Aristóteles Onassis. E se interroga: hoje, que não há mais empecilhos jurídicos ou sociais para se separar, seria o fim do amor menos trágico? Continue lendo Sabine Melchior-Bonnet: “Se há tantos divórcios e separações hoje, é porque se acredita no amor e se pensa que é possível ter algo melhor do que se está vivendo”

Olivier Roy: “A Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas cultural e de identidade”

Olivier Roy, cientista político do Instituto Universitário Europeu, de Florença, afirma que a Europa  não vive uma crise religiosa, mas antes uma crise cultural da qual movimentos fundamentalistas e populistas se apropriam. ©Internaz/Flickr

FERNANDO EICHENBERG/ REVISTA ÉPOCA

PARIS – Apesar das aparências, a Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas sim cultural e de identidade. Dela, se aproveitam movimentos neofundamentalistas como o salafismo e o evangelismo, mas também os populismos políticos, que em seu embate contra o islã ou a imigração promovem uma “folclorização do cristianismo”, favorecendo, paradoxalmente, a crescente secularização das sociedades. As referências cristãs, base da formação europeia, perderam seu caráter religioso e se tornaram uma mera herança cultural, estranha à doutrina da Igreja. O islã não é o problema, mas sim as indecisas relações dos Estados secularizados com a religião em geral. Estas são algumas das teses defendidas pelo cientista político francês Olivier Roy, do Instituto Universitário Europeu, de Florença, em seu ensaio “L’Europe est-elle chrétienne?” (A Europa é cristã?, ed. Seuil). Continue lendo Olivier Roy: “A Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas cultural e de identidade”

“Há pessoas demais que, pela palavra, recorrem à violência”, diz Philippe Lançon, sobrevivente do ataque ao Charlie Hebdo

Philippe Lançon diz ter dificuldade de esquecer tudo o que aconteceu e ter a “constante impressão de que uma catástrofe vai cair sobre sua cabeça”. ©Mollona/Leemage

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Na manhã de 7 de janeiro de 2015, Philippe Lançon só foi perceber o que lhe ocorrera quando vislumbrou na tela de seu celular o reflexo de sua face desfigurada: um quarto de seu rosto, na parte inferior, se transformara, segundo sua própria descrição, em uma “cratera de carne destruída e pendente”, mostrando a nu o que restava de gengivas e dentição, fazendo-o parecer “um monstro”. Lançon foi um dos sobreviventes do atentado jihadista protagonizado pelos irmãos Chérif e Saïd Kouachi na redação do jornal francês Charlie Hebdo, em Paris. As balas disparadas pelas metralhadoras Kalachnikov dos terroristas, que arrancaram sua mandíbula, causaram um total de 12 mortes e 11 feridos. Em meio ao banho de sangue e os corpos inertes de seus colegas de jornal, ele só se salvou porque se fingiu de morto. Continue lendo “Há pessoas demais que, pela palavra, recorrem à violência”, diz Philippe Lançon, sobrevivente do ataque ao Charlie Hebdo

Caroline de Maigret e Sophie Mas lançam livro sobre prós e contras da chegada aos 40 anos

Sophie Mas e Caroline de Maigret. ©Bertrand Le Pluard

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Você percebe que o tempo passou quando suas ressacas são mais numerosas do que suas festas; ninguém mais lhe pergunta se planeja ter outro filho; uma marca no rosto, que pensava ser causada pelo travesseiro, ainda está lá três semanas depois; você vai ao seu gineco-obstetra para consultar sobre mamografia em vez de contracepção, o presidente da França é mais jovem do que você. As frases soltas, entra outras tiradas, abrem o recém-lançado livro das francesas Caroline de Maigret e Sophie Mas, “Older, but better, but older” (“Mais velha, mas melhor, porém mais velha”). Caroline, 44 anos, modelo e embaixadora da Chanel, e Sophie, 39, produtora de premiados filmes internacionais, já haviam, em 2014, coescrito – com as amigas Anne Berest e Audrey Diwan – o best-seller “Como ser uma parisiense em qualquer lugar do mundo”. Continue lendo Caroline de Maigret e Sophie Mas lançam livro sobre prós e contras da chegada aos 40 anos

Sarah Al-Matary: “Há hostilidade crescente em relação à ciência e uma incredulidade face a figuras de sábios”

Em seu novo enasio, Sarah Al-Matary chama a atenção para o anti-intelectualismo, movimento que rejeita acadêmicos, cientistas e artistas e que pode ser observado tanto na extrema direita quanto na esquerda radical.

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Diante do deputados da Assembleia Nacional francesa, em 2007, a então ministra da Economia, Christine Lagarde, lançou: “A França é um país que pensa. Não há ideologia da qual não tenhamos feito uma teoria, e possuímos provavelmente em nossas bibliotecas do que discutir por séculos. Chega de pensar, chega de tergiversar, arregacemos simplesmente as mangas”. A França como a “pátria dos intelectuais”, no entanto, seria um mito criado a partir do século 18. E todo mito tem seu contrário, neste caso expressado pelo anti-intelectualismo, do qual as palavras da ex-ministra são apenas um exemplo. Esta é a tese construída nas cerca de 400 páginas do mais recente ensaio da pesquisadora francesa Sarah Al-Matary, da Universidade Lumière-Lyon 2., “La haine des clercs – l’anti-intellectualisme en France” (ed. Seuil). Segundo ela, o secular anti-intelectualismo francês criticou, ao longo de sua existência até hoje, intelectuais que, em nome da razão e do universal, desprezavam os valores do nacionalismo e o Exército, e pregavam a liberdade, a igualdade e os direitos humanos. Continue lendo Sarah Al-Matary: “Há hostilidade crescente em relação à ciência e uma incredulidade face a figuras de sábios”

“A História não se repete, mas os métodos de manipulação, sim”, diz a pesquisadora franco-alemã Géraldine Schwarz,

Partindo da própria família, que apoiou o nazismo por conformismo, Géraldine Schwarz alerta para os riscos ao se esquecer o passado. © Mathias Bothor

FERNANDO EICHENBERG/ O GLOBO

PARIS – O Brexit, no Reino Unido, a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e o crescimento do populismo na Europa fizeram com que a franco-alemã Géraldine Schwarz mergulhasse na história de sua família na busca de elementos para a compreensão do presente. Na Alemanha da Segunda Guerra Mundial, seus avós paternos, Karl e Lydia, habitantes de Mannheim, aderiram ao Terceiro Reich, não por ideologia, mas por oportunismo. Na França, seu avô materno, Lucien, atuou como gendarme em Mont-Saint-Vincent, sob a República de Vichy, regime colaboracionista do nazismo. Os avós, segundo ela, estão incluídos na categoria dos Mitläufer, definidos como aqueles que “seguem a corrente” e que aderiram ao regime nazista por conformismo e não por convicção. Continue lendo “A História não se repete, mas os métodos de manipulação, sim”, diz a pesquisadora franco-alemã Géraldine Schwarz,

A musa eterna Jane Birkin fala sobre a beleza aos 72 anos, a carreira e como a música a ajudou a superar a morte da filha

Jane Birkin em seu apartamento parisiense, com sua buldogue Dolly. © Carole Bellaiche

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Certa vez, a mãe de Jane Birkin, a atriz britânica Judy Campbell, musa do dramaturgo Noël Coward e alcunhada pelo fotógrafo de moda Cecil Beaton como “a mais bela mulher da Inglaterra”, de súbito, lhe disse: “It’s gone” (sumiu). “O que, mamãe?”, replicou a filha, pensando em algum banal objeto perdido. A mãe respondeu: “Minha beleza. Foi-se”. Hoje, aos 72 anos, a célebre atriz e cantora confessa que, recentemente, se viu absorta na mesma reflexão materna. “Minha mãe deveria ter uns 70 anos quando me saiu com essa, e eu, uns 40. Hoje, a compreendo perfeitamente”, disse, enquanto sorvia uma xícara de chá em seu aprazível apartamento parisiense, nas proximidades da praça Saint-Sulpice, em uma conversa sonorizada pelos roncos de sua inseparável buldogue Dolly, estirada no tapete. Continue lendo A musa eterna Jane Birkin fala sobre a beleza aos 72 anos, a carreira e como a música a ajudou a superar a morte da filha

Maria de Medeiros: “Raízes têm tudo a ver com cultura e muito pouco com fronteiras”

Maria de Medeiros: “Sempre achei que se deveria poder mudar de nacionalidade como de camisa. Deveria ser bem mais fácil. A identidade é algo orgânico, se modificando perpetuamente. É uma esponja, vai captando coisas, repelindo outras, algo em movimento”. ©Victor Hugo

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA UP

PARIS – “Quase não fiz viagens de turismo na minha vida”, conta, com singela naturalidade, a atriz Maria de Medeiros, acomodada em sua residência no 14° distrito de Paris. No entanto, é impossível enumerar todos os países por onde já passou até hoje. Seja como atriz ou diretora em uma centena de filmes, protagonista de peças teatrais ou cantora em turnês de seus concertos, ao longo de seus 54 anos ela atravessou uma infinidade de fronteiras nos cinco continentes. Nascida em Portugal e adotada pela França, a capital francesa se tornou para ela um porto aberto para o mundo. Continue lendo Maria de Medeiros: “Raízes têm tudo a ver com cultura e muito pouco com fronteiras”

“Na democracia, você não insulta, não ataca a vida privada, não mente”, diz diplomata francês famoso por seus tuítes

Gérard Araud, que assistiu à ascensão de Trump nos EUA e respondeu a Bolsonaro em rede social, diz que mundo não será o mesmo ainda que onda populista de direita seja derrotada; ele critica também viés ‘bonapartista’ de Macron. ©JF Paga

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PARIS – Na madrugada em que Donald Trump venceu as eleições presidenciais americanas, em 9 de novembro de 2016, Gérard Araud, então embaixador francês em Washington, foi extraído de seu relativo anonimato ao expressar seus sentimentos em sua conta pessoal no Twitter. “Após o Brexit e essa eleição, tudo a partir de agora é possível. Um mundo desmorona diante de nossos olhos. Uma vertigem”, escreveu, deflagrando uma polêmica. Dois anos depois, em 19 de dezembro de 2018, o diplomata francês não hesitou em responder ao presidente Jair Bolsonaro, que havia declarado em um vídeo ser “simplesmente insuportável viver em certos lugares da França” por causa da imigração. Araud rebateu com um lacônico e irônico tuíte: “63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários”.

Aposentado desde abril deste ano, o ex-embaixador, agora com a palavra liberada das obrigações de sua função, acaba de lançar na França o livro “Passaporte diplomático – quarenta anos no Quai d’Orsay” (ed. Grasset), memórias de sua longa carreira em diferentes países e em importantes postos na ONU e na Otan. Gérard Araud conversou com O Globo na capital francesa sobre a crescente ameaça do populismo, os governos Trump e Bolsonaro e o delicado momento da relação bilateral Brasil-França. Continue lendo “Na democracia, você não insulta, não ataca a vida privada, não mente”, diz diplomata francês famoso por seus tuítes

Anastasia Mikova: cineasta fala sobre o filme “Woman”, que dá voz a duas mil mulheres de cerca de 50 países

Ao longo de três anos e meio, Anastasia Mikova conversou pessoalmente com mil personagens para o documentário. ©Peter Lindbergh

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PARIS – Anastasia Mikova, 37 anos, exibia um sorriso de satisfação ao chegar para a entrevista em um ensolarado pátio no bairro de Montmartre, na capital francesa, nas proximidades de sua casa. Há dois dias, havia finalizado a fase de montagem de seu mais novo filme, “Woman”, codirigido pelo célebre fotógrafo e cineasta francês Yann Arthus-Bertrand, com pré-estreia mundial em 1° de setembro, em projeção fora de competição na Mostra de Veneza. Foram mais de duas mil entrevistas com mulheres realizadas por três anos e meio em cerca de 50 países. Continue lendo Anastasia Mikova: cineasta fala sobre o filme “Woman”, que dá voz a duas mil mulheres de cerca de 50 países

Clément Therme: “Tensões aumentam risco de guerra entre Irã e EUA”

Manifestação no Irã contra os EUA do presidente Donald Trump. © Ebrahim Noroozi/AFP

FERNANDO EICHENBERG/ O GLOBO

PARIS – Desde a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, em maio de 2018, e a imposição de sanções econômicas à Teerã, as tensões não cessam de aumentar entre os dois países. Para Clément Therme, especialista do Oriente Médio, o risco, hoje, de um conflito é real, e a pressão exercida pelo presidente americano, Donald Trump, fortalece a linha dura pregada pelos aiatolás iranianos, descartando o discurso dos moderados no país. Continue lendo Clément Therme: “Tensões aumentam risco de guerra entre Irã e EUA”