Arquivo da categoria: Internacional

Ucrânia, Mercosul e nova ordem financeira na agenda de emmanuel Macron com Lula em paris

Lula e Macron no Palácio do Eliseu, em Paris. ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Garantir a presença do presidente Lula em Paris para participar da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global foi tratado pelo anfitrião do evento, o líder francês Emmanuel Macron, como uma missão prioritária. Depois de quatro anos de governo Bolsonaro, nos quais os contatos políticos de alto nível com a França foram suspensos, Macron festejou a volta ao poder de seu “velho conhecido” Lula, com quem reivindica uma relação de amizade, para relançar a parceria entre os dois países. Nesta nova lua de mel, no entanto, também há lugar para discordâncias. Hoje, Brasília e Paris divergem, principalmente, nas questões do conflito na Ucrânia e do acordo de livre comércio União Europeia-Mercosul.

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Guerra prolongada na Ucrânia põe Europa diante de incertezas

Moradores passam por um mural em Kiev mostrando um grafite do Kremlin em chamas: guerra expôs interesses divergentes do eixo franco-alemão e dos países do Leste Europeu. Foto: Genya Savilov/AFP

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PARIS – A eclosão da guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro passado e seu prolongamento até hoje abalaram a agenda de uma Europa em busca de união política, crescimento econômico e maior independência em questões de segurança e defesa. A invasão das forças russas de Vladimir Putin em território ucraniano obrigou a União Europeia e seus países membros a reverem estratégias de curto a longo prazo, provocou a redistribuição de cartas no tabuleiro geopolítico, reavaliou alianças e alterou planos militares e energéticos.­

A guerra revirou completamente o espaço europeu – resume Tara Varma, analista do European Council on Foreign Relations (ECFR). – Infelizmente, este conflito não terminará logo, e há uma verdadeira questão sobre o que a UE fará no dia de amanhã.

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Após quatro anos difíceis sob governo bolsonaro, relação frança-brasil é retomada em novas bases

Lula foi recebido pelo presidente Emmanuel Macron para um almoço no Palácio do Eliseu em 17 de novembro de 2021. © Ricardo Stuckert

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PARIS – Os quatro anos do governo Bolsonaro se destacaram por uma explícita animosidade política e diplomática com a França, histórico parceiro do Brasil. A cartilha isolacionista e antiambientalista do período bolsonarista, acrescida de agressões verbais do presidente brasileiro e de ministros de seu governo, levaram ao estremecimento e a um retrocesso nas relações entre Brasília e Paris. Com o retorno de Lula ao Palácio do Planalto, os dois países começaram a articular, mesmo antes da posse, uma reaproximação e o restabelecimento da relação bilateral em novas bases.

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GOLSHIFTEH FARAHANI: ‘Se vencermos no Irã, a mulher ganhará e o mundo também’

Atriz iraniana Golshfiteh Farahani, exilada em Paris desde 2008, se tornou uma porta voz do movimento contra a ditadura do regime islmâmico de Teerã. ©Philippe Gay

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PARIS – A atriz iraniana Golshifteh Farahani se converteu em uma infatigável ativista em apoio à revolta deflagrada em seu país em setembro, no rastro da morte da jovem Masha Amini, de 22 anos, sob custódia da polícia da moralidade por suposto uso inadequado do véu islâmico. Exilada em Paris desde 2008, a atriz não passa um dia sem postar aos seus mais de 15 milhões de seguidores no Instagram denúncias contra a violência e os desmandos praticados pela ditadura islâmica comandada com mão de ferro pelo líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Como uma porta-voz no exterior do movimento, tem se manifestado como pode, seja nas redes sociais ou escrevendo uma tribuna para o jornal New York Times. 

– Por vezes, me sinto realmente desesperada. Outras vezes, repleta de esperança. Algumas vezes em lágrimas ou com raiva. Cada dia é uma emoção diferente. A única coisa que sei é que não posso abandonar ­­­­­– desabafa ao Globo, ao final de mais um dia de filmagens para um novo longa-metragem na França.

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Com viés expansionista inspirado no período áureo do Império Otomano, Erdogan busca a reeleição na Turquia

Fiéis muçulmanos reúnem-se em reconversão em mesquita do Museu de Santa Sofia, em Istambul: Erdogan busca explorar antiga imagem da Turquia de defensora do Islã. ©Kerem Uzel/Bloomberg

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PARIS – A Turquia tem se destacado por sua onipresença em diferentes frentes do tabuleiro geopolítico internacional, fonte de atritos com inúmeros países, em uma ofensiva autoproclamada pelo presidente Recep Tayyip Erdogan. Suas ambições além fronteiras – refletidas em ações políticas e militares na Síria, na Líbia, no Mediterrâneo Oriental ou no Sul do Cáucaso, e também por um discurso islamista com pretensões de liderança no mundo muçulmano -, ganharam a definição de “neo-otomanismo”, como um novo viés expansionista inspirado no período áureo do Império Otomano.

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Boicote a produtos franceses, caricaturas de maomé, insultos turcos, laicidade: em entrevista à tv al-jazeera, macron rebate os ataques do mundo muçulmano e tenta acalmar as tensões

Macron em enytrevista à TV Al-Jazeera, no Palácio do Eliseu. ©Reprodução

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – Em meio a uma sequência de atentados terroristas na França, o presidente Emmanuel Macron se viu alvo da hostilidade de parte do mundo muçulmano por causa de sua defesa do direito da publicação de caricaturas de Maomé e de suas palavras e ações contra o islamismo político no país. Manifestantes no Paquistão, Índia, Indonésia, Irã, Bangladesh, Líbia, Mali ou Somália queimaram bandeiras da França, pisotearam o retrato de Macron e apelaram ao boicote de produtos franceses. O Alto Conselho Islâmico da Argélia, uma instituição oficial, acusou o líder francês de promover uma “campanha virulenta contra o profeta Maomé”, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, questionou sua “saúde mental”. Para tentar apaziguar as tensões, mas sem deixar de mandar duros recados, Macron concedeu uma entrevista de 55 minutos à TV Al-Jazeera para falar ao mundo muçulmano. Denunciou a manipulação de seus propósitos para criar conflito e definiu como “indigna” a campanha de boicote. A seguir os principais trechos.

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Economista francês thomas piketty, com novo livro lançado no brasil, fala sobre as soluções para as desigualdades no mundo e para a crise pós-pandemia da covid-19

Para economista francês, falta de ambição nas reformas econômicas e na redução da desigualdade é o que alimenta a xenofobia e os nacionalismos; ele diz que, se pudesse, diria a Bolsonaro que ele ainda pode admitir erros e mudar. ©Divulgação

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PARIS – Sete anos após o best-seller internacional “O capital no século 21”, vendido a mais de 2,5 milhões de exemplares, o economista francês Thomas Piketty está de volta às vitrines das livrarias com mais uma ambiciosa obra. Em “Capital e ideologia” (Intrínseca), procura traçar uma história econômica, social, intelectual e política das desigualdades em âmbito mundial. Diretor na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e professor da Escola de Economia de Paris, Piketty ampliou seu mapa de estudo ao analisar, além de Estados Unidos, Alemanha e Japão, casos de países como Brasil, China, Índia, Japão, Rússia, Suécia ou Irã, passando pelas sociedades feudais, os regimes escravocratas e as colônias americanas sob dominação europeia até chegar às democracias eleitorais atuais e ao “hipercapitalismo moderno”. Mas não se contenta com a perspectiva analítica e, ao final, sugere soluções, já alvo de polêmicas, para a construção de um novo horizonte igualitário de proporções universais, um tipo de “socialismo participativo” para o século 21, em uma nova ideologia da igualdade sob formas alternativas de organização da sociedade, da propriedade, da educação ou dos impostos. Na entrevista, ele lembra que governos de direita já adotaram políticas redistributivas diante de crises como a provocada pela Covid-19, e sugere que a tributação do patrimônio privado pode ser uma maneira de pagar os gastos excepcionais que os países estão tendo na pandemia. Continue lendo Economista francês thomas piketty, com novo livro lançado no brasil, fala sobre as soluções para as desigualdades no mundo e para a crise pós-pandemia da covid-19

Karoline Postel-Vinay: “A política não sobrevive no terreno das incertezas”

Mulher passa diante de um grafite em Londres: para analista francesa Incertezas científicas sobre pandemia alimentam disputa por influência entre líderes globais. © Henry Nicholls/ Reuters

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PARIS – Diante das incertezas científicas que cercam a pandemia da Covid-19, multiplicam-se as narrativas políticas que buscam, por necessidade ou oportunidade, conferir coerência ao enfrentamento da crise, observa a cientista política Karoline Postel-Vinay. Especialista no estudo de narrativas nas relações internacionais, tema de seu próximo ensaio, a analista do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po) afirma que a política “tem horror à zona vaga de incertezas”, terreno no qual não sobrevive.  No caos mundial provocado pelo coronavírus, governos nacionais, organismos internacionais e movimentos de opinião criam seus próprios discursos, em uma “batalha de influências” que, segundo prevê, será ainda mais acirrada no período pós-crise. Continue lendo Karoline Postel-Vinay: “A política não sobrevive no terreno das incertezas”

Líderes europeus lançam fundo de reconstrução pós-pandemia, mas ainda divergem sobre detalhes

Membros do Conselho Europeu participam de conferência virtual sobre fundo de reconstrução pós-pandemia. ©Pool/Reuters

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PARIS – Os 27 chefes de Estado e governo da União Europeia (UE) concordaram com a criação de um fundo comum para financiar a retomada da economia nos países do continente, em um quadro de grave recessão causada pela pandemia da Covid-19. Divergências profundas persistem, no entanto, sobre a montagem e funcionamento deste novo instrumento. Em uma reunião por meio de videoconferência, nesta quinta-feira, os líderes encarregaram a Comissão Europeia de detalhar as condições do dispositivo de ajuda financeira até o início de maio. Continue lendo Líderes europeus lançam fundo de reconstrução pós-pandemia, mas ainda divergem sobre detalhes

Pandemia acentua crise da democracia e pode promover um novo tipo de Estado-nação

Homem vestindo uma máscara caminha em frente à sede da Comissão Europeia, em Bruxelas. ©Aris Oikonomou/AFP

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PARIS – A crise deflagrada pela pandemia do coronavírus está sendo considerada como capaz, uma vez terminada, de alterar não apenas os sistemas econômicos, mas também as formas de governança política no mundo. Um dos cenários que tem sido evocado por analistas aponta para a configuração de um novo Estado-nação, diferente dos modelos existentes nas democracias ocidentais e também dos populismos-nacionalistas contemporâneos. Continue lendo Pandemia acentua crise da democracia e pode promover um novo tipo de Estado-nação

Contra Trump e nacionalismos, Macron tenta coordenar resposta europeia ao coronavírus

Presidente francês, no entanto, enfrenta dificuldade do bloco europeu de agir coletivamente; acusado de ‘neoliberalismo’, ele faz apologia do Estado de bem-estar. ©Ludovic Marin/AFP

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PARISA crise do coronavírus reavivou costumeiras dissidências da geopolítica mundial. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reafirmou seu lema “Estados Unidos em primeiro lugar” e fustigou a Europa pela disseminação do “vírus estrangeiro”. Seu colega francês, Emmanuel Macron, se lançou em mais uma tentativa de liderar a ressurreição da União Europeia em torno de uma causa comum, sem obter, no entanto, o apoio almejado, nem de seus tradicionais aliados, como a Alemanha, nem de seus conhecidos desafetos do nacional-populismo. Continue lendo Contra Trump e nacionalismos, Macron tenta coordenar resposta europeia ao coronavírus

Retorno de suspeitos de jihadismo se torna um dilema para a Europa

Estrangeiros suspeitos de integrarem o Estado Islâmico presos em uma cela em Hasaka, Síria: países não os querem de volta. ©Goran Tomasevic/Agência O Globo

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PARIS – A derrocada do califado do Estado Islâmico (EI) gerou um problema até agora não resolvido pela comunidade internacional: como e onde julgar os milhares de jihadistas atualmente detidos em prisões curdas e iraquianas? As opções sobre a mesa se resumem a promover os julgamentos nos territórios onde os crimes foram cometidos, repatriar os criminosos estrangeiros aos seus países de origem ou recorrer à solução de uma instância jurídica internacional. Em um debate que se eterniza em meio a questões jurídicas e interesses políticos divergentes, o consenso está longe de ser alcançado. Continue lendo Retorno de suspeitos de jihadismo se torna um dilema para a Europa

Ameaça na África: jihadismo cresce na região do Sahel apesar da intervenção da França

Grupos terroristas se aproveitam de lutas étnicas e descontentamento com governos para aumentar recrutamento. ©Reprodução

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PARIS – Grupos terroristas jihadistas estão em plena expansão territorial na região do Sahel africano. Do norte do Mali, os grupos do jihad avançaram para o centro e o sul do país, se expandiram para o Burkina Faso e a Nigéria, e agora ameaçam as nações costeiras, como Togo, Benin, Gana, Senegal e Costa do Marfim. As forças da comunidade internacional, França à frente, se mostram, hoje, incapazes de deter o avanço jihadista, que se aproveita ainda de lutas étnicas locais para reforçar suas fileiras e semear a violência. Analistas defendem o recurso à negociação para estancar o recrutamento e evitar o pior. Continue lendo Ameaça na África: jihadismo cresce na região do Sahel apesar da intervenção da França

Queda do Muro de Berlim: “Democracias venceram, e o mundo está muito melhor”, analisa o filósofo Luc Ferry

Após a derrota do comunismo com sua pretensão universalista, não surgiu concorrente sério ao liberalismo político, afirma pensador francês. ©Divulgação

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PARIS – Para o filósofo francês Luc Ferry, o mundo progrediu em relação à realidade existente antes da queda do Muro de Berlim, que completa 30 anos neste sábado, em 9 de novembro de 1989, e as democracias ocidentais se impuseram como único regime politicamente legítimo. O pensador concorda com a tese de “fim da História” do cientista político Francis Fukuyama – ainda que com uma interpretação não literal dela -, defende um aperfeiçoamento da democracia contemporânea e alerta para os riscos de uma terceira guerra mundial no conflito comercial entre os Estados Unidos e a China. Continue lendo Queda do Muro de Berlim: “Democracias venceram, e o mundo está muito melhor”, analisa o filósofo Luc Ferry

Queda do Muro de Berlim: “Venceu a burocracia liberal capitalista”, analisa o filósofo Geoffroy de Lagasnerie

Nacionalismos mostram que queda do muro foi oportunidade perdida e que é preciso inventar uma nova democracia, afirma pensador francês. ©Raphaël Schneider

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PARIS – Para o filósofo francês Geoffroy de Lagasnerie, a queda do Muro de Berlim frustrou as expectativas de uma abordagem mais global dos problemas do mundo, favorecendo, na contramão, um pensamento de âmbito nacional, sob a tutela do liberalismo dominante. O pensador defende a superação do modelo da democracia liberal, que já teria comprovado sua incapacidade de vencer as injustiças e desigualdades, por um novo regime político a ser inventado. Continue lendo Queda do Muro de Berlim: “Venceu a burocracia liberal capitalista”, analisa o filósofo Geoffroy de Lagasnerie

PERSONAGEM DA SEMANA: EMMANUEL MACRON

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA ÉPOCA

PARIS – Antes acuado e abatido pelos longos meses de revolta dos coletes amarelos em cidades da França, com cenas de guerra civil e vandalismo explícito em Paris, o presidente Emmanuel Macron ressurgiu, neste final de férias do verão europeu, bronzeado e adulado após os três dias da cúpula do G7 organizada em Biarritz, balneário apreciado pelos surfistas à beira do Oceano Atlântico. Este não era, no entanto, o cenário mais previsível. O encontro anual dos líderes de Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá tinha tudo para acabar em mais um convescote diplomático de grandes potências em que nada se decide e tudo se complica. Em um abrasivo contexto mundial, eram esperadas turbulências meteorológicas na orla, fruto de costumeiras intempéries provocadas pelo presidente americano, Donald Trump, confessadamente avesso às instâncias multilaterais. Continue lendo PERSONAGEM DA SEMANA: EMMANUEL MACRON

Sistema multilateral é ‘alvo de ataque sem precedentes’ e ‘urge ser reinventado’, afirma chanceler da França

O chanceler francês Jean-Yves Le Drian. Governo francês ambiciona liderar reação a populismo e lançará iniciativa de cooperação em setembro. ©Patrick Kovarick/AFP

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PARIS – O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, defendeu a urgência de uma “reinvenção do sistema multilateral”, alvo atual de um ataque “sem precedentes”, para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, seja em relação aos conflitos comerciais ou às ameaças de uma nova corrida armamentista. O chanceler anunciou ainda a primeira reunião da Aliança pelo Multilateralismo, iniciativa lançada pela França e a Alemanha , para o final de setembro, em Nova York, em nível ministerial. Em seu discurso pronunciado na Conferência dos Embaixadores e Embaixadoras franceses, reunidos em Paris, na única vez em que o Brasil foi citado, houve risos na plateia de diplomatas, em um contexto de grave crise diplomática na relação franco-brasileira . Continue lendo Sistema multilateral é ‘alvo de ataque sem precedentes’ e ‘urge ser reinventado’, afirma chanceler da França

Macron isolado no boicote ao Mercosul

Os dirigentes do G7 em sua primeira reunião de trabalho, em Biarritz. ©G7/Pool

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PARIS – O presidente da França, Emmanuel Macron, assumiu publicamente um desafio no dia de abertura do encontro do grupo de países ricos do G7 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá): prometeu “medidas concretas” ao final das discussões de polêmicos temas que serão abordados pelos grandes líderes presentes no balneário de Biarritz. As queimadas na Amazônia, introduzidas de última hora no cardápio da cúpula, é um dos principais pontos no visor presidencial francês. Continue lendo Macron isolado no boicote ao Mercosul

Cúpula da divisão: G7, que perdeu a relevância original, ocorre em contexto de divergências entre seus líderes

Amazônia é mais um dos temas que separam ultranacionalistas como Trump de internacionalistas como Macron; divisão inclui ainda Irã, Rússia, guerra comercial e Síria. ©Markus Schreiber/AP/SIPA

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PARIS – No status de anfitrião, o presidente francês, Emmanuel Macron, recebe de sábado a segunda-feira, no aprazível balneário de Biarritz, seus colegas do grupo de países ricos do G7 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá) em um turbulento contexto mundial. Embora o tema central do encontro seja “a luta contra as desigualdades”, as expectativas giram em torno de conversas paralelas sobre polêmicos dossiês como a guerra comercial entre os EUA e a China, o acordo nuclear iraniano e a escalada de tensões entre Washington e Teerã, o conflito na região síria de Idlib, a situação na Ucrânia, as negociações do Brexit ou a urgência climática – reforçada pela indignação internacional insuflada pelas queimadas na Amazônia. Na avaliação de analistas, a cúpula presidida pela França, que não terá o tradicional comunicado final, é marcada de forma inédita por fortes dissensões entre seus participantes, igualmente envolvidos com importantes problemas domésticos Continue lendo Cúpula da divisão: G7, que perdeu a relevância original, ocorre em contexto de divergências entre seus líderes

Análise: Macron tem suas razões para comprar a briga da Amazônia

O presidente francês Emmanuel Macron vai ser o anfitrião da próxima reunião do G7. ©Francois Walschaerts/Reuters

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PARIS – A fumaça provocada pelas queimadas na Floresta Amazônica alcançou o Palácio do Eliseu. Às vésperas do início da cúpula do G7 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá), o presidente francês, Emmanuel Macron, não hesitou em convocar o tema para a reunião do clube de países ricos, evocando, inclusive, a urgência de uma “crise internacional” . “Nossa casa queima”, alertou o líder francês, retomando as palavras do discurso do então presidente Jacques Chirac na Rio+10, a conferência sobre o meio ambiente realizada em 2002, na cidade sul-africana de Johanesburgo. “Nossa casa queima e nós olhamos para o outro lado”, vaticinara Chirac. Continue lendo Análise: Macron tem suas razões para comprar a briga da Amazônia

Clément Therme: “Tensões aumentam risco de guerra entre Irã e EUA”

Manifestação no Irã contra os EUA do presidente Donald Trump. © Ebrahim Noroozi/AFP

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PARIS – Desde a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, em maio de 2018, e a imposição de sanções econômicas à Teerã, as tensões não cessam de aumentar entre os dois países. Para Clément Therme, especialista do Oriente Médio, o risco, hoje, de um conflito é real, e a pressão exercida pelo presidente americano, Donald Trump, fortalece a linha dura pregada pelos aiatolás iranianos, descartando o discurso dos moderados no país. Continue lendo Clément Therme: “Tensões aumentam risco de guerra entre Irã e EUA”

Manifestantes pedem transição na Argélia, mas militares mantêm o poder

Protestos no país já duram mais de quatro meses.© Ramzi Boudina/Reuters

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PARIS – Nesta terça-feira, 9 de julho, se encerra o prazo de 90 dias legais do governo interino da Argélia instituído após a queda do presidente Abdelaziz Bouteflika. As manifestações de rua que forçaram a renúncia do líder que permaneceu 20 anos no poder – e aspirava a um quinto mandato -, no entanto, não cessam há quatro meses, firmes em sua reivindicação por um processo de transição transparente e independente, sem a onipresente interferência do Exército e de representantes do antigo regime, que ainda controlam o sistema. Continue lendo Manifestantes pedem transição na Argélia, mas militares mantêm o poder

Argélia e Sudão têm revoltas marcadas pela incerteza em clima de “nova Primavera Árabe”

Em manifestações, sudaneses exigem que os militares entreguem depressa o poder a civis: crise política no país permanece sem solução à vista. ©AFP

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PARIS – Os ventos da chamada Primavera Árabe, deflagrados no início da década por revoltas contra regimes autoritários no Norte da África e Oriente Médio, continuam a soprar em países da região. As recentes rebeliões emergidas no Sudão e na Argélia mostram que populações ainda são capazes de se mobilizar contra governos marcados pela perenidade no poder, práticas ditatoriais e corrupções endêmicas. Mas, a exemplo de movimentos precedentes em que a liberalização reivindicada culminou em restaurações despóticas ou em situações de caos, sudaneses e argelinos que hoje ocupam as ruas correm o risco de ter suas aspirações democráticas frustradas pela capacidade de reação do status quo político e dos militares. Continue lendo Argélia e Sudão têm revoltas marcadas pela incerteza em clima de “nova Primavera Árabe”

Mohammed bin Salman: o controverso príncipe herdeiro que governa a Arábia Saudita

Mohammed bin Salman ambiciona  mudar a imagem da Arábia Saudita no mundo. ©Leon Neal/Getty Images

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PARIS – O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, não tem economizado milhas de voo em uma intensiva estratégia de sedução junto a governos ocidentais. Sua recente visita oficial de três dias na França foi considerada como mais uma etapa em sua tentativa de forjar novas relações internacionais e arrecadar investimentos a partir de suas propagandeadas políticas de diversificação econômica, de modernização da sociedade e de combate à corrupção e ao Islã radical no país. Controverso, o jovem líder saudita de 32 anos, conhecido pelas iniciais MBS, sacudiu estruturas de poder em Riad e o tabuleiro político na região, conquistando apoios e desafetos. Continue lendo Mohammed bin Salman: o controverso príncipe herdeiro que governa a Arábia Saudita

Regresso de jihadistas do Estado Islâmico desafia governos na Europa

Rebelde sírio carrega a bandeira do Estado Islâmico após a retomada Akhtarin, na Síria: declínio do califado leva ao regresso dos combatentes estrangeiros a seus países de origem. ©Khalil Ashawi/Agência O Globo

FERNANDO EICHENBERG E GRAÇA MAGALHÃES-RUETHER        O GLOBO

PARIS/BERLIM – A acelerada perda de força e de territórios do califado do Estado Islâmico no Iraque e na Síria criou um novo problema para o Velho Continente: o retorno de centenas de combatentes europeus que haviam partido para aderir à Jihad, e também de cônjuges e filhos. Em meio ao clima de constante ameaça terrorista, a questão dos repatriados do EI é fator de tensão nas populações europeias, num complexo debate de aspectos jurídicos, diplomáticos, humanos e de segurança. Entre medidas legais de aplicação imediata — prisão e julgamento — e planos de desradicalização de longo prazo, autoridades e organizações da sociedade civil buscam soluções para neutralizar o risco e, se possível, tentar a reintegração, principalmente de mulheres e crianças. Continue lendo Regresso de jihadistas do Estado Islâmico desafia governos na Europa

O combate de Tran To Nga: última esperança para as vítimas do agente laranja na Guerra do Vietnã

Tran To Nga, chevalier de la lŽgion d'honneur, elle-mme victime de la dioxine, se bat pour la reconnaissance des consŽquences mŽdicales pour les victimes de la dioxine au Viet nam. Ici dans le maquis dŽbut 1968 aprs la campagne amŽricaine. Quartier gŽnŽral du Front national de libŽration du Sud Viet nam..
Tran To Nga, em 1968, em meio aos embates na Guerra do Vietnã / ©Foto Arquivo Pessoal.

FERNANDO EICHENBERG/ FOLHA DE SÃO PAULO

PARIS – Em plena Guerra do Vietnã, num dia de 1966, a jovem combatente vietcongue Tran To Nga, então com 24 anos, escrevia sob a luz de lampião em seu esconderijo no labirinto de túneis escavados na região de Cu Chi, nas cercanias de Saigon, quando escutou o ruído de um avião sobrevoando em baixa altitude. Intrigada, saiu de seu abrigo subterrâneo para averiguar. Na superfície, vislumbrou uma nuvem branca saindo das entranhas de uma aeronave militar C-123, desenhando enormes manchas no azul do céu. Estática, observava aquela curiosa imagem “como se contempla a dança de um voo de aves migratórias”. De repente, uma chuva gosmenta começou a gotejar em seus ombros, grudando em sua pele e provocando um acesso de tosse. Sua mãe irrompeu aflita, implorando para que jogasse água no corpo e se desfizesse de suas vestes, ao mesmo tempo em que gritava: “É desfolhante! É o agente laranja, Nga!”. Seria a primeira de inúmeras chuvas químicas a que seria exposta ao longo do conflito. Continue lendo O combate de Tran To Nga: última esperança para as vítimas do agente laranja na Guerra do Vietnã

Samar Yazbek: o exílio e a vitória da morte na Síria

SAMAR YAZBEK / FOTOGRAF MUHSIN AKGUN
A escritora síria exilada em Paris Samar Yazbek. ©Muhsin Akgun

FERNANDO EICHENBERG/ FOLHA DE S. PAULO

PARIS – Certo dia, sentada em um café na praça da Bastilha, Samar Yazbek teve um sobressalto de pânico provocado pelo súbito pouso de um pássaro em seu joelho. Um reflexo de tempos passados. Antes de se exilar na capital francesa, em junho de 2011, o terror dos céus vinha dos disparos de atiradores aninhados no alto dos prédios e de bombas lançadas pelas forças do ditador Bashar al-Assad, no sangrento conflito sírio que se estende por mais de cinco anos. Escritora, intelectual, democrata e alauita (ramificação do islamismo xiita, mesma vertente do clã Assad), no início de 2011 Yazbek não hesitou em aderir aos protestos contra os desmandos do governo de Damasco, no rastro da Primavera Árabe. Naquela época, escreveu um texto que viralizou nas redes sociais: “Esperando minha morte”. Detida, foi levada para a prisão onde opositores do regime eram torturados. Interrogada cinco vezes pela polícia secreta síria, foi libertada em algumas semanas, “após alguns tapas”, mas acusada de “traição”. Sob constante ameaça de morte, conseguiu fugir para a França com a filha.

“Foi catastrófico para uma mulher como eu, liberal, e da comunidade alauita. Minha permanência lá era mesmo uma ameaça para quem me acolhia. Outras mulheres me encorajaram a deixar o país e poder escrever sobre tudo o que se passa na Síria”, conta ela à Folha num café de Paris, com o auxílio de um tradutor árabe, pois seu francês ainda é precário.

INCURSÕES

Mesmo no exílio, Yazbek atravessou clandestinamente a fronteira síria por três vezes, entre fevereiro de 2012 e agosto de 2013, para testemunhar o sofrimento em Idlib e Aleppo, zonas de conflito no norte do país. Nas duas primeiras vezes, permaneceu por dez dias cada, e na última, um mês. Em 2013, um ataque provocado pela explosão de um barril de pólvora quase a matou.

As experiências originaram o livro “Les Portes du Néant” (As portas do nada), recém-lançado na França. É uma narrativa explícita do inferno cotidiano da guerra civil -num acúmulo de tragédias, estupros, torturas, execuções, cadáveres e mutilações-, que adotou contornos religiosos com a entrada em cena do Estado Islâmico (EI). “Há apenas um vencedor na Síria: a morte. Só se fala dela, em toda a parte”, escreve em seu relato.

Laureada em 2012 com o prêmio internacional PEN/Pinter para “escritores de coragem” -pela obra “Uma Mulher no Fogo Cruzado: diários da revolução síria”-, Yazbek acredita que, por um lado, sua escrita é “um ato existencial de resistência à morte”. Para ela, o destino de Assad deve ser o banco dos réus no Tribunal Penal Internacional, em Haia: “Ele torturou e matou o povo sírio, espero que seja julgado por crimes contra humanidade. Tenta manipular para dizer ao mundo que há um inimigo mais perigoso do que ele, o EI”.

Yazbek também critica a comunidade internacional. “Países como EUA, Rússia e Irã não intervieram realmente porque têm seus próprios interesses. A situação piorou tanto que hoje se assiste a todas essas mortes no mar Mediterrâneo. Houve uma real diáspora no mundo. E foi só quando os países europeus foram realmente atingidos, com a chegada em massa dos refugiados, que se começou a buscar uma solução.”

REBELDIA

Rebelde por natureza, aos 16 anos a jovem Yazbek deixou sua cidade de Latakia, na costa síria, para se instalar solitária em Damasco e estudar literatura, o que numa sociedade árabe já pode ser considerado como uma “atitude revolucionária”, diz ela. Em 2012, criou a ONG “Women Now for Development”, para ajudar as mulheres sírias -segundo ela, “as primeiras vítimas da guerra”, junto com a crianças.

Recentemente, Yazbek começou a aprender o francês, idioma de seu novo país de adoção, o que evitava antes por razões subconscientes: “Tenho a impressão de que, ao me aproximar do francês, é como se fosse perder minha língua materna, me separar de algo de mim mesma. Mas, para me sentir bem aqui, terei de aprender.”

Amante das letras de José Saramago, Charles Baudelaire, Virginia Woolf ou Naguib Mahfouz, ela já disse que o estado das mulheres sírias, na luta contra o “extremismo religioso, o sistema patriarcal e o despotismo de Bashar”, se assemelha ao conto “A Colônia Penal”, de Franz Kafka: “Somos punidas por todo o lado”. Mas as similaridades param por aí: “Depois de todas as minhas leituras e do que já vi, penso que não há situação comparável ao sofrimento de hoje na Síria.” 

Alerta contra o terrorismo

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FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS — A queda do avião da EgyptAir reavivou o temor da iminência da ameaça terrorista na França e recrudesceu a vigilância contra novos atentados e também nos aeroportos. Às vésperas do início da Eurocopa 2016 e do Tour de France — competições internacionais de futebol e de ciclismo que ocorrerão em solo francês em junho e julho próximos —, as autoridades reconhecem um nível de alerta terrorista extremo. Para o chefe da Direção Geral da Segurança Interna (DGSI), Patrick Calvar, a França é hoje “o país mais ameaçado” pelo Estado Islâmico (EI) e também pela al-Qaeda, “que quer recuperar sua força”. Ontem mesmo os parlamentares prorrogaram o estado de emergência, decretado no país após os ataques de novembro de 2015, por mais dois meses, até 26 de julho. Continue lendo Alerta contra o terrorismo

Praças de dor e de esperança

PraçaPlace de la Bourse, em Bruxelas, Bélgica. Foto: ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / ZERO HORA

PARIS e BRUXELAS – Quando, na manhã de 7 de janeiro de 2015, fui alertado por flashes no telefone celular de um tiroteio no bairro da Place de la Bastille, não imaginava que logo depois estaria diante da sede do jornal Charlie Hebdo, testemunha do terror que se estenderia por mais dois dias e provocaria um total de 17 mortes na região parisiense. Na noite de 13 de novembro passado, quando me preparava para sair à rua, para festejar o aniversário de um amigo em um bar, mais uma vez alertas celulares anunciaram tiroteios na cidade, e naquela hora também não poderia pensar que minutos depois estaria nas proximidades da casa de shows Bataclan, e que só retornaria para casa depois das 4h de uma trágica madrugada de saldo de 130 vítimas da violência terrorista. Na última terça-feira, despertei com as notícias das explosões em Bruxelas, e tive apenas o tempo de jogar algumas roupas em uma maleta para estar na estrada a caminho da capital belga, palco de mais uma sangrenta ação do Estado Islâmico, que ceifou a vida de mais de 30 pessoas. As tragédias se sucedem com certa facilidade e ousadia assustadoras, em uma Europa aterrorizada e impotente diante da ameaça terrorista – sem falar nos recentes atentados realizados na Turquia ou em solo africano. Continue lendo Praças de dor e de esperança