Arquivo da categoria: Comportamento

Mariame Tighanimime conta como levou APENAS CINCO minutos para colocar o véu islâmico e CINCO anos para retirÁ-LO

Mariame Tighanimine é doutoranda em sociologia no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po). ©Patrice Normand

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Aos 10 anos de idade, Mariame Thiganimine, francesa de família muçulmana originária do Marrocos, passou a portar diariamente o véu islâmico, o hijab. Dezoito anos depois, aos 28, retirou-o definitivamente. Hoje, aos 33, lançou um livro-testemunho no qual conta como levou “cinco minutos” para colocar o véu e “cinco anos” para se desfazer da peça de tecido que se tornou motivo de inúmeras polêmicas nas sociedades modernas. Em “Dévoilons-nous” (Desvelemo-nos, ed. l’Olivier), Mariame narra sua experiência íntima, dirigindo-se tanto a defensores como a críticos do véu, condenando a forma como a questão é tratada pelos poderes públicos, políticos e parte da sociedade. Liberta do hijab, não se livrou de toda forma opressão: se diz hoje vítima de racismo e sexismo. 

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THOMAS CHATTERTON WILLIAMS fala sobre racismo e seu manifesto CONTRA A CULTURA DO CANCELAMENTO

©JF PAGA

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA ÉPOCA

PARIS – Como um dos principais idealizadores do manifesto contra a cultura do cancelamento, que contou com a assinatura de 153 artistas e intelectuais de renome – entre os quais Noam Chomsky, Margaret Atwood, Salman Rushdie, J.K. Rowling e Francis Kukuyama -, o escritor americano Thomas Chatterton Williams jamais imaginou que a iniciativa a  alcançaria tamanha repercussão e controvérsia. O número de seus seguidores no Twitter, hoje em 80 mil, mais do que dobrou após a publicação de “Uma carta sobre justiça e debate aberto”, traduzido em apoio e também em críticas.

Willliams defende a primazia de valores e princípos universais face a sociedades cada vez mais “fragmentadas em grupos identitários”. O racismo não poderá ser superado se acreditarmos em categorias raciais, diz.

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Em livro, Lindsey Tramuta traça o perfil de parisienses em destaque nas artes, na política, no feminisno e nos negócios

Lindsey escreveu um livro para combater o “clichê da mulher parisiense”. Fotos: © Joann Pai

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Em um de seus vídeos TEDs virais, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie afirma, em relação aos conceitos sobre os africanos, que “o problema dos estereótipos não é que sejam falsos, mas incompletos; eles fazem uma história se tornar a única história”. A premissa é utilizada por Lindsey Tramuta para denunciar uma visão “perniciosa e estreita” das mulheres parisienses, percebidas como “brancas, heterossexuais, magras, elegantes, sedutoras e preocupadas com superficialidades”. Em seu recém-lançado livro, The New Parisienne (a nova parisiense), Lindsey, americana radicada há 14 anos na capital francesa, combate este clichê, segundo ela, estimulado e reproduzido na publicidade, no turismo, no cinema, na literatura, em revistas de moda e estilo.

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CaTherine Mathivat, quarta geraÇão da família à frente do deux magots, resiste à pandemia e quer “evolução sem revolução” para o célebre café parisiense

@Julio Piatti

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A primeira lembrança de Catherine Mathivat do café Les Deux Magots remonta aos seus dez anos de idade, no final da década de 1970, quando passava fins de semana com seus avós, proprietários e moradores do andar de cima do já célebre local parisiense. “Descia com minha avó ver o que se passava embaixo, ficava ao lado do caixa observando o movimento dos garçons e dos clientes. Me recordo bem dos ruídos quando fechavam o terraço à noite”, recorda. Hoje, aos 51 anos, é ela quem comanda o emblemático café, ancorado no coração do bairro de Saint-Germain-des-Près. Continue lendo CaTherine Mathivat, quarta geraÇão da família à frente do deux magots, resiste à pandemia e quer “evolução sem revolução” para o célebre café parisiense

A REABERTURA NO PÓS-QUARENTENA DO CAFÉ DE FLORE, O CAFÉ DOS ARTISTAS

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA ÉPOCA

Como a pandemia afetou um ícone parisiense que não fechou nem mesmo durante a Segunda Guerra Mundial.
 
O gerente Frédéric Minerba e o garçom Tetsuya, um japonês que trabalha há 20 anos no local. ©Fernando Eichenberg

PARIS – “O sábado 14 de março foi um choque para nós no Café de Flore. Fomos prevenidos de última hora que deveríamos fechar as portas à meia-noite. Foi o mesmo para todos os bistrôs e cafés da França. Algo inédito. Estamos abertos todos os dias, das 7h30 à 1h30, durante o ano inteiro, não fechamos nunca. É uma tradição. E só fomos reabrir na semana passada. Durante a quarentena, clientes me enviavam fotos do café e arredores mostrando tudo deserto. Era uma sensação muito estranha. Continue lendo A REABERTURA NO PÓS-QUARENTENA DO CAFÉ DE FLORE, O CAFÉ DOS ARTISTAS

Sebastião Salgado: “Nos tornamos aliens em nosso próprio planeta”

Aglomerações antes da pandemia: registro de Sebastião Salgado de uma estação de trem em Mumbai, em 1995. ©Sebastião Salgado

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Habituado ao longo da vida a rodar o planeta retratando as maiores tragédias humanas – entre guerras, êxodos ou a fome – e os mais belos e intocados cenários – em expedições para o projeto Gênesis -, o fotógrafo Sebastião Salgado encontra-se hoje, como grande parte da população mundial, confinado em casa. Recolhido em seu apartamento parisiense, ao lado da mulher e parceira de trabalho, Lélia, e do filho Rodrigo, segue à risca as regras da quarentena estabelecida pelo governo francês. E passa boa parte dos dias editando as imagens do projeto a que se dedicou nos últimos sete anos: fotografar a Amazônia. O material será tema da próxima grande exposição que fará, a partir de abril de 2021.

Para o célebre fotógrafo, que confessa ter sentido um “vazio na alma” na véspera do confinamento, o ser humano se tornou “um alien dentro de seu próprio planeta”. A pandemia do coronavírus deverá, segundo ele, alterar valores no mundo, no descarte da superficialidade dominante em detrimento do conceito de essencial, na produção de riqueza para o bem comum e na reconexão do ser humano à natureza. “Só nas grandes catástrofes que surgem as grandes solidariedades e reais preocupações com o futuro da humanidade. Isso é o que teremos de fazer agora”, diz. Continue lendo Sebastião Salgado: “Nos tornamos aliens em nosso próprio planeta”

Intelectuais avaliam possíveis mudanças e novos cenários para o mundo no pós-crise do coronavírus

Cenário da ponte Alexandre III, em Paris sob confinamento. Pensadores apontam que emergência de saúde levanta questionamentos sobre as relações interpessoais e as formas de organização política e econômica. ©Bertrand Guay/AFP

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A crise de saúde global ainda está longe de alcançar seu término, mas já pairam no ar projeções sobre o poder da epidemia – um fenômeno biológico, sem moral ou mensagem – em suscitar profundas interrogações sobre a forma do viver em sociedade e de os indivíduos pensarem o mundo deste início de século XXI. Intelectuais ouvidos pelo GLOBO não têm dúvidas de que a experiência provocada pelo coronavírus deflagrará em seu rastro novos questionamentos existenciais e humanistas, bem como mudanças de governança política e de modelos econômicos. Continue lendo Intelectuais avaliam possíveis mudanças e novos cenários para o mundo no pós-crise do coronavírus

Paris: de Cidade Luz a cidade fantasma

Normalmente movimentado, o bairro de Saint-Germain-des-Près revela suas ruas vazias em pleno período de confinamento. ©Fernando Eichenberg

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PARIS – A Cidade Luz, célebre epíteto de Paris, se tornou uma cidade fantasma desde a terça-feira. A capital francesa, campeã mundial em número de turistas, silenciou suas ruas, praças e os sempre concorridos terraços de seus cafés. A Torre Eiffel, conhecida por suas longas filas de espera, se transformou em um monumento inabitado. A Mona Lisa, habituada à incessante agitação diária, agora é uma senhora abandonada à solidão do Louvre, o museu mais visitado do planeta de portas cerradas. Continue lendo Paris: de Cidade Luz a cidade fantasma

Sabine Melchior-Bonnet: “Se há tantos divórcios e separações hoje, é porque se acredita no amor e se pensa que é possível ter algo melhor do que se está vivendo”

Historiadora francesa Sabine Melchior-Bonnet destrincha em livro a ruptura amorosa através dos tempos a partir de exemplos célebres. ©Fernando Eichenberg

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PARIS – Separa-se, hoje, da mesma forma que em épocas passadas? Para a historiadora francesa Sabine Melchior-Bonnet, do reputado Collège de France, tudo parecia já ter sido dito sobre o amor, mas não sobre a ruptura amorosa. Foi o que a levou a mergulhar no tema e publicar o ensaio “Os revezes do amor – uma história da ruptura” (ed. PUF), recentemente lançado na França. As separações refletem os códigos culturais, religiosos, sociais e jurídicos de cada período, em uma história inevitavelmente ligada ao patriarcado, pois por séculos o divórcio foi um monopólio masculino: “Cada época constrói seus valores e suas normas afetivas, e fornece sua própria interpretação do amor”, diz a historiadora, em entrevista em seu apartamento parisiense. Para entender as rupturas ao longo da História, Melchior-Bonnet estudou o fim das relações de personagens conhecidos, de Heloísa e Abelardo a Lady Di e o Príncipe Charles, passando por Josefina e Napoleão, Marie d’Agoult e Franz Liszt, Georges Sand e Alfred Musset, Simone de Beauvoir e Nelson Algreen ou Maria Callas e Aristóteles Onassis. E se interroga: hoje, que não há mais empecilhos jurídicos ou sociais para se separar, seria o fim do amor menos trágico? Continue lendo Sabine Melchior-Bonnet: “Se há tantos divórcios e separações hoje, é porque se acredita no amor e se pensa que é possível ter algo melhor do que se está vivendo”

Caroline de Maigret e Sophie Mas lançam livro sobre prós e contras da chegada aos 40 anos

Sophie Mas e Caroline de Maigret. ©Bertrand Le Pluard

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Você percebe que o tempo passou quando suas ressacas são mais numerosas do que suas festas; ninguém mais lhe pergunta se planeja ter outro filho; uma marca no rosto, que pensava ser causada pelo travesseiro, ainda está lá três semanas depois; você vai ao seu gineco-obstetra para consultar sobre mamografia em vez de contracepção, o presidente da França é mais jovem do que você. As frases soltas, entra outras tiradas, abrem o recém-lançado livro das francesas Caroline de Maigret e Sophie Mas, “Older, but better, but older” (“Mais velha, mas melhor, porém mais velha”). Caroline, 44 anos, modelo e embaixadora da Chanel, e Sophie, 39, produtora de premiados filmes internacionais, já haviam, em 2014, coescrito – com as amigas Anne Berest e Audrey Diwan – o best-seller “Como ser uma parisiense em qualquer lugar do mundo”. Continue lendo Caroline de Maigret e Sophie Mas lançam livro sobre prós e contras da chegada aos 40 anos

Revolução do Clitóris: francesas lançam livros, campanhas e websérie para desmistificar e democratizar os poderes do órgão sexual feminino

Julia Pietri: livro e campanha para lutar contra a “excisão mental” do clitóris. © Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Quando decidiu financiar a publicação de seu manual sobre a masturbação feminina via uma campanha de crowfunding na Internet, a francesa Julia Pietri colocou como meta o custeio de 100 exemplares, esperando alcançar, em suas previsões mais otimistas, um máximo de 500 pedidos. Em um mês, a pré-venda fechou em um total de 3.282 unidades. No final, “Au bout des doigts – le petit guide de la masturbation féminine” (Na ponta dos dedos – o pequeno guia da masturbação feminina) será impresso em 4.000 exemplares e distribuído neste mês aos primeiros compradores, impulsionado pelo slogan “Declaremos aberta a revolução do clitóris!”. Continue lendo Revolução do Clitóris: francesas lançam livros, campanhas e websérie para desmistificar e democratizar os poderes do órgão sexual feminino

Esqueletos de dinossauros viram atração em leilões milionários

Dinossauro leiloado na Torre Eiffel por € 2,01 milhões. ©Chesnot/Getty Images

FERNANDO EICHENBERG / ÉPOCA

PARIS – Em março de 2017, Alexandre Giquello, da casa de leilões francesa Binoche et Giquello, às voltas com o difícil descarregamento de um enorme crânio de um dinossauro tricerátops, telefonou na Itália para seu colaborador Iacopo Briano, conselheiro em peças de História Natural: “Seria ótimo se você conseguisse um fóssil de dinossauro não muito grande, um que entre na sala de um apartamento parisiense“, disse, em tom de brincadeira. Três meses depois, o consultor italiano recebeu a notícia de um cliente que dizia possuir para venda o esqueleto de um alossauro de 3,8 metros de comprimento, acompanhado de um outro maior, um diplodoco, de 12 metros. “Liguei de volta, e anunciei: “Alexandre, encontrei o dinossauro ‘living room size’“, conta Briano, rindo. Continue lendo Esqueletos de dinossauros viram atração em leilões milionários

Biquíni x burkini

Burkini Kroll
Charge do cartunista belga Kroll. Em 1966, o policial francês ordena: “Vista-se, madame, isso é proibido!”. E em 2016: “Dispa-se, madame, isso é proibido!“.

FERNANDO EICHENBERG/ ZERO HORA

PARIS – O verão em que a França celebra os 70 anos da criação do biquíni ficará marcado por um outro traje de banho, que poderia ser definido como sua antítese. Neste final da temporada estival europeia, todas as atenções se voltaram para o burkini, vestuário de praia islâmico que deixa visível apenas o rosto, as mãos e os pés, e alvo de polêmica nos últimos dias por sua interdição decretada em várias praias francesas. O biquíni, como se sabe, fez sua primeira aparição na capital francesa em 5 de julho de 1946, na piscina Molitor, pelas mãos de Louis Réard – engenheiro mecânico que administrava a loja de lingeries de sua mãe –, e vestido pela dançarina Micheline Bernardini – conhecida por suas performances desnudas na casa de espetáculos Casino de Paris. Já a invenção do burkini é creditada à australiana de origem libanesa Aheda Zanetti, que conta ter parido a ideia em 2004, em Sydney, ao ver sua sobrinha sofrendo ao praticar esporte coberta por um longo véu hijab. Continue lendo Biquíni x burkini

Agostar* em Paris

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“Desculpem-nos, estamos fechados”, é o anúncio onipresente no comércio, bares, restaurantes e padarias francesas em agosto.

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – “Não encontrar o caminho em uma cidade não quer dizer muito. Mas perder-se numa cidade, como nos perdemos numa floresta, exige toda uma prática”, escreveu o filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940). Perder-se nos caminhos de Paris no estival mês de agosto exige uma prática singular, pois a capital francesa adota contornos de cidade fantasma. Em determinadas horas do dia, se pode flanar em meio a grandes avenidas sem vislumbrar um carro sequer no horizonte. Errando por certos bairros, a impressão é de que a cidade foi evacuada por alguma ameaça de ataque bacteriológico e só você não foi avisado. Continue lendo Agostar* em Paris

Mitos e clichês do estupro na França

Campanha Stop au Déni da ONG francesa ©Stop au Déni
Campanha francesa Stop au Déni, contra a lei do silêncio e a impunidade aos crimes de estupro. ©Stop au Déni

FERNANDO EICHENBERG /ZERO HORA

PARIS – A cultura do estupro – definida como a “adesão da sociedade aos mitos sobre o estupro” -, infelizmente, não é um mal reservado ao Brasil. Uma pesquisa de opinião divulgada neste ano na França pela associação Memória Traumática e Vitimologia — criada em 2009 para a formação, informação e pesquisa sobre as consequências psicotraumáticas de violências em geral —, feita pelo instituto Ipsos, revelou que perduram os clichês sobre o estupro no país de Simone de Beauvoir, filósofa autora de O Segundo Sexo (1949).

Para 40% dos entrevistados na sondagem, a responsabilidade do estuprador é atenuada se a vítima teve uma atitude provocante em público; 38% consideram o mesmo se ela flertou com o agressor, e 27% se ela vestia “roupas sexy”. Outros 17% opinaram que forçar sua própria mulher a ter uma relação sexual não se trata de estupro. Para 19% das pessoas interrogadas, muitas mulheres que dizem “não” a uma proposta de relação sexual na verdade querem dizer “sim”. E 21% acreditam que uma mulher pode ter prazer em uma relação sexual forçada — índice de 30,7% entre os jovens de 18 a 24 anos. Continue lendo Mitos e clichês do estupro na França