
FERNANDO EICHENBERG / REVISTA QUATRO CINCO UM
PARIS — No final do ano passado, ao receber a Quatro Cinco Um acomodado na ampla sala de seu apartamento parisiense, nos arredores da Place de la République, Emmanuel Carrère contou ter recém-chegado da Ucrânia e estar em fase de montagem de um documentário para o canal de tevê Arte. A ideia é fazer um retrato do país em guerra por meio de encontros nos trens: “O espaço aéreo da Ucrânia está fechado, e todos têm um motivo de ir de um lado a outro. A vantagem dos trens é que temos as pessoas à disposição, não é como abordá-las na rua. Em Kiev não se sente a guerra. Já as pessoas ao redor do front são mais amargas, pensam que tudo pesa sobre seus ombros, e que mais o tempo passa mais o resto do país ignora o conflito”, relata. Carrère é o jornalista e documentarista fascinado pelo outro e suas íntimas histórias. Também é o roteirista e cineasta, em trabalhos com a autora de romances policiais de sucesso Fred Vargas ou a renomada atriz Juliette Binoche. Mas sua principal faceta, a qual dedica mais tempo, é a de escritor de livros — com oito de seus títulos publicados no Brasil pela Alfaguara e um pela Record. “Tenho esse tripé de profissões, escrever livros, reportagens e roteiros, e tive a chance de fazer filmes, que é um trabalho de grupo. É também uma questão de equilíbrio psíquico. Na escrita de livros depende-se muito de si mesmo, o que pode me precipitar em estados depressivos, e o fato de ter outras atividades mais ‘tranquilas’ é muito importante”, observa.
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