Revolução do Clitóris: francesas lançam livros, campanhas e websérie para desmistificar e democratizar os poderes do órgão sexual feminino

Julia Pietri: livro e campanha para lutar contra a “excisão mental” do clitóris. © Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Quando decidiu financiar a publicação de seu manual sobre a masturbação feminina via uma campanha de crowfunding na Internet, a francesa Julia Pietri colocou como meta o custeio de 100 exemplares, esperando alcançar, em suas previsões mais otimistas, um máximo de 500 pedidos. Em um mês, a pré-venda fechou em um total de 3.282 unidades. No final, “Au bout des doigts – le petit guide de la masturbation féminine” (Na ponta dos dedos – o pequeno guia da masturbação feminina) será impresso em 4.000 exemplares e distribuído neste mês aos primeiros compradores, impulsionado pelo slogan “Declaremos aberta a revolução do clitóris!”. Continue lendo Revolução do Clitóris: francesas lançam livros, campanhas e websérie para desmistificar e democratizar os poderes do órgão sexual feminino

Chef Alain Ducasse fala de suas viagens e também do acidente aéreo em que foi o único sobrevivente e quase perdeu a vida

   Alain Ducasse se define como um “globetrotter degustador”. © Vincent Lappartient

FERNANDO EICHENBERG / UP MAGAZINE

PARIS – Conversar com o chef Alain Ducasse, um dos maiores nomes da gastronomia francesa, é viajar pelo mundo. Com um total de 18 estrelas no renomado Guia Michelin, fruto de 31 restaurantes espalhados por nove países em três continentes, ele mesmo se autodefine como um “globetrotter degustador”. Quem indagar sobre sua agenda, corre o risco de se perder pelo caminho. “No próximo sábado viajo a Portugal, vou e volto no mesmo dia, para avaliar a possibilidade de um novo projeto nos arredores de Lisboa. Na semana passada estive em Doha, no Qatar, só para um jantar, nem pernoitei em hotel, dormi no avião. Ontem, estava em Perpignan, para uma nova experiência com fermentação de chocolate e jantei no restaurante Le Clos de Lys, uma agradável surpresa do jovem chef Franck Séguret. Amanhã, vou a Barcelona, e depois parto para Manila, Macau e Hong Kong. Há quinze dias estive nos Estados Unidos e, antes, no Japão. Viajo pelo menos uma vez por semana“, diz, acomodado em uma pequena sala anexa à cozinha de seu estrelado restaurante no subsolo do Hotel Plaza Athénée, em Paris. Continue lendo Chef Alain Ducasse fala de suas viagens e também do acidente aéreo em que foi o único sobrevivente e quase perdeu a vida

A incrível história da chef brasileira Alessandra Montagne, de Poté (MG) para as cozinhas de Paris

Alessandra Montagne cativou os fran,ceses com menus caprichados a preços justos. Fotos ©Cécile Chabert

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PARIS – Recentemente convidada para participar da elaboração do menu de um jantar servido em um evento gastronômico nos suntuosos salões do Quai d’Orsay, a sede do Ministério das Relações Exteriores francês, à beira do rio Sena, a chef brasileira Alessandra Montagne admitiu se sentir, por momentos, em um sonho acordado.

– Não conseguia parar de enxergar aquela menininha da roça, de pé no chão, vestido rasgadinho. Será que este povo tinha noção de que estava chamando a menina de Poté para cozinhar no Quai d’Orsay? – indaga, rindo. – Foi um grande orgulho estar na cozinha naquela noite ao lado de chefs como Guy Savoy e Gérald Passédat. No final, o Alain Ducasse veio me dizer que meu prato estava ótimo. Fiquei super-honrada, a França me deu muitas oportunidades. Continue lendo A incrível história da chef brasileira Alessandra Montagne, de Poté (MG) para as cozinhas de Paris

A história da ribeirinha Cacau, do rio Javarizinho, nos confins da Amazônia, para Paris e o mundo

Cacau em Paris, um sonho realizado. Fotos: © Arquivo pessoal

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PARIS – Aos sete anos de idade, a pequena Cacau indagou a sua mãe o que havia para além do rio Javarizinho, nos confins da Amazônia, onde morava com a numerosa família em uma cabana sem água corrente e eletricidade. “Pra lá do rio, é o mundo”, foi a lacônica – e poética – explicação materna. Dias depois, sua mãe a avistou nadando ao longe, já bem distante da margem e, às pressas, pulou em uma canoa para resgatar a filha.

– Ela me puxou pelos cabelos, meu deu uns tapas, e perguntou para onde estava indo. Respondi: “Quero conhecer o mundo” – conta Cacau dos Santos, acomodada no club-restaurante Matignon, nas proximidades da avenida Champs-Elysées, na capital francesa. Continue lendo A história da ribeirinha Cacau, do rio Javarizinho, nos confins da Amazônia, para Paris e o mundo

Medidas de Macron em resposta a protestos não satisfarão franceses, dizem analistas

Primeira coletiva. O presidente Emmanuel Macron fala aos jornalistas ao anunciar medidas surgidas do “Grande Debate Nacional”, no rastro dos protestos . © Iuodovic Marin/AFP

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PARIS – Após uma maratona de três meses de debates pelo país, o presidente Emmanuel Macron anunciou sua aguardada resposta à crise deflagrada pelo movimento dos chamados coletes amarelos, em manifestações que já se estendem por 23 sábados consecutivos em cidades da França. Seu discurso de ontem, seguido de uma inédita entrevista coletiva para a imprensa francesa e internacional, no Palácio do Eliseu, foi marcado menos por medidas concretas para atender às reivindicações das ruas e mais por considerações gerais sobre seus projetos para o país. Macron defendeu sua política aplicada nestes dois anos de governo, e, entre anúncios sobre impostos e reformas institucionais, propôs também uma refundação do Espaço Schengen de livre circulação europeia, um reforço das fronteiras e um endurecimento do combate à imigração. Continue lendo Medidas de Macron em resposta a protestos não satisfarão franceses, dizem analistas

Argélia e Sudão têm revoltas marcadas pela incerteza em clima de “nova Primavera Árabe”

Em manifestações, sudaneses exigem que os militares entreguem depressa o poder a civis: crise política no país permanece sem solução à vista. ©AFP

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PARIS – Os ventos da chamada Primavera Árabe, deflagrados no início da década por revoltas contra regimes autoritários no Norte da África e Oriente Médio, continuam a soprar em países da região. As recentes rebeliões emergidas no Sudão e na Argélia mostram que populações ainda são capazes de se mobilizar contra governos marcados pela perenidade no poder, práticas ditatoriais e corrupções endêmicas. Mas, a exemplo de movimentos precedentes em que a liberalização reivindicada culminou em restaurações despóticas ou em situações de caos, sudaneses e argelinos que hoje ocupam as ruas correm o risco de ter suas aspirações democráticas frustradas pela capacidade de reação do status quo político e dos militares. Continue lendo Argélia e Sudão têm revoltas marcadas pela incerteza em clima de “nova Primavera Árabe”

Patrimônio devastado: incêndio na Catedral de Notre-Dame emociona a França e o mundo

País em choque: Bombeiros lutam para controlar as chamas que destroem parte da Catedral de Notre-Dame, em Paris: autoridades supõem que fogo começou no canteiro de obras de restauração no topo da emblemática igreja. ©Yann Castanier/Hans Lucas

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PARIS – Apoiada em uma murada da Pont Neuf, a parisiense Virginie Bastier, 55 anos, não continha as lágrimas diante das chamas que consumiam o telhado e as entranhas da catedral de Notre-Dame, no início da noite de ontem.

– Estou transtornada – disse, soluçando. – Para mim, é mais do que um símbolo, é um monumento vivo, é a alma de Paris. Esta catedral resistiu à Revolução Francesa, às guerras. Moro aqui ao lado, uma amiga me ligou avisando e vim ver. Estou rezando para que sobre algo. Continue lendo Patrimônio devastado: incêndio na Catedral de Notre-Dame emociona a França e o mundo

Frente a revolta, opções de Macron se estreitam

Manifestantes durante os protestos dos ‘coletes amarelos’ no sábado passado: presidente francês está sendo forçado a mudar seu estilo de governança . © Benoit Tessiier/Reuters 

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PARIS – Os coletes amarelos sairão hoje às ruas da França no 19° sábado consecutivo de manifestações desde novembro, em um inédito movimento de protesto no país. A revolta, deflagrada por reivindicações de justiça fiscal e social e marcada por momentos de extrema violência, forçou o presidente Emmanuel Macron a mudar seu estilo de governança e a organizar um amplo debate nacional, encerrado no último dia 15, para acolher as principais demandas dos franceses. Mas, na opinião de analistas, pressionado pela radicalização dos protestos e o risco de frustrar as expectativas com as medidas resultantes do chamado Grande Debate, o líder francês não está próximo de terminar com seus problemas, e suas opções para solucionar esta interminável crise encolhem a cada dia. Para este sábado, o governo decidiu fortalecer o dispositivo repressivo face às manifestações. Continue lendo Frente a revolta, opções de Macron se estreitam

Carta escrita em Auschwitz na II Guerra ressuscita 75 anos depois

Original de mensagem colocada em uma garrafa e enterrada sob um crematório nazista reaparece e revela, enfim, seu autor.  Fotos: © Fernando Eichenberg

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PARIS – “Desde que estou aqui, jamais acreditei na possibilidade de retornar. (…) Aqui é um outro mundo. É o Inferno. Mas o inferno de Dante é imensamente ridículo em relação ao verdadeiro daqui, e nós, como testemunhas oculares, não devemos sobreviver. Apesar de tudo, mantenho, por vezes, uma pequena faísca de esperança – talvez por um milagre qualquer. Eu que já tive tanta sorte, um dos mais velhos aqui, sobrevivi a tantos obstáculos, será que ocorrerá o milagre final? Mas, neste caso, chegarei antes que seja encontrada esta carta enterrada”.

O trecho acima pertence a uma missiva de oito páginas escrita em 6 de novembro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, no campo de concentração nazista de Auschwitz-Birkenau, e que hoje, 75 anos depois, ressuscita do passado em uma trama detetivesca que corrige a História ao revelar a verdadeira identidade de seu autor e surpreende seus familiares. Assinada apenas por “Hermann”, a carta foi descoberta em fevereiro de 1945 por um enfermeiro da Cruz Vermelha, Andrejz Zaorski, dentro de uma garrafa de vidro sob os escombros de um dos crematórios de Auschwitz. Continue lendo Carta escrita em Auschwitz na II Guerra ressuscita 75 anos depois

Jane Birkin: entre seu diário íntimo e suas viagens pelo mundo

                                                                                                                                              Foto: © Gabrielle Crawford

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PARIS – Inglesa de nascimento, Jane Birkin começou cedo sua vida artística. Aos 17 anos, debutou nos palcos londrinos em uma peça de Graham Greene. Aos 19, se casou com John Barry, oscarizado compositor britânico, reputado pelas trilhas sonoras dos filmes de James Bond. No cinema, despontou em 1966 no controverso filme cult “Blow up” (Palma de Ouro do Festival de Cannes 1967), de Michelangelo Antonioni, em que provocou escândalo ao protagonizar uma das pioneiras cenas de nu frontal nas telas. Em 1968, conheceu, em Paris, Serge Gainsbourg (1928-1991), poeta maldito e músico irreverente, com quem viveu uma intensa e duradoura relação de 12 anos. Hoje, aos 72 anos, estrela mais uma turnê internacional, interpretando canções de Gainsbourg, acompanhada de uma orquestra sinfônica. Nesta entrevista, fala de suas viagens pelo mundo e do primeiro volume de seu diário, recentemente lançado na França. Continue lendo Jane Birkin: entre seu diário íntimo e suas viagens pelo mundo

Filósofa francesa Olivia Gazalé diz que futuro do feminismo depende de uma reinvenção da masculinidade

Em entrevista, a ensaísta francesa Olivia Gazalé discute a construção histórica de estereótipos femininos e masculinos e analisa como o mito da virilidade se tornou uma armadilha para os dois sexos. Foto: © Patrice Normand

FERNANDO EICHENBERG / ILUSTRÍSSIMA-FOLHA DE S. PAULO

PARIS – O mal-estar masculino contemporâneo não é apenas consequência das diferentes formas de emancipação feminina ou dos abalos provocados pelo movimento #MeToo. A crise do homem neste início de século tem sua principal causa na erosão do mito da virilidade. Essa é a tese desenvolvida em mais de 400 páginas pela pensadora francesa Olivia Gazalé em “Le Mythe de la Virilité – Un Piège pour les Deux Sexes” (o mito da virilidade – uma armadilha para os dois sexos, ed. Robert Laffont, sem previsão de lançamento no Brasil). A autora mostra como a dominação masculina foi construída nos campos político, filosófico, religioso, biológico e cultural, moldando o homem a uma postura viril e relegando a mulher a uma posição de inferioridade. O futuro do feminismo depende, segundo ela, da conscientização pelo homem de sua virilidade fabricada e da reinvenção de sua masculinidade.  Ela acredita que o movimento #MeToo estabeleceu uma “mutação antropológica”, fundou um novo paradigma na relação entre os sexos e impulsou a reflexão masculina sobre a cilada da virilidade. Seu otimismo em relação à emancipação dos sexos é apenas nuançado pelas “reações hipervirilistas” nestes tempos de crise. Continue lendo Filósofa francesa Olivia Gazalé diz que futuro do feminismo depende de uma reinvenção da masculinidade

Macron muda de estilo para sobreviver a protestos na França

Macron faz uma selfie com estudantes durante encontro como parte do Grande Debate Nacional, em Etang-sur-Arroux. © Emmaneul FoudrotT/Reuters

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PARIS – A revolta dos coletes amarelos na França, em manifestações pelo país desde novembro, obrigou o presidente Emmanuel Macron a alterar seu método de governança. Saiu o presidente jupiteriano que se reivindicava como o mestre do tempo e dizia que manteria seu ritmo de reformas a todo custo, em uma forma de governar sem os vícios do passado e acima das pautas da mídia. Encurralado pelas ruas e de olho nas eleições europeias, assumiu o líder que, de mangas arregaçadas, têm feito maratonas de debates com prefeitos ou estudantes em discursos de tom conciliador, em uma tentativa de se desvencilhar da imagem arrogante de “presidente dos ricos” que lhe colou desde seus primeiros meses no poder. Para analistas, o novo estilo presidencial contribui para estancar sua queda de popularidade, mas a sobrevivência do governo Macron dependerá das consequências práticas da consulta popular nacional lançada pelo governo, com término em 15 de março, e dos resultados das urnas no pleito para o Parlamento Europeu, em 26 de maio. Continue lendo Macron muda de estilo para sobreviver a protestos na França

L’Humanité, centenário jornal da esquerda francesa, luta para sobreviver em meio à grave crise financeira

Homem vende o L’Humanité em frente a um café, em Pantin, subúrbio de Paris, em 12 de abril de 1959. © Mémoires d’Humanité / Archives départementales de la Seine-Saint-Denis

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA ÉPOCA

PARIS – Rosa Moussaoui entrou para o jornal L’Humanité em 2004, ano do centenário da histórica publicação francesa. “Estou aqui há 15 anos por convicção. É um jornal enraizado nas lutas sociais, na solidariedade internacional e um reflexo de combates ecologistas e feministas. Essa identidade política é extremamente importante para mim. Esse jornal sempre sobreviveu pela vontade daqueles que o fazem e o leem”, diz, assentada na redação situada no número 5 da rua Pleyel, em um moderno complexo de escritórios em Saint-Denis, subúrbio norte de Paris. O tom militante emerge da crise vivida nestas semanas pelo jornal. A secular aventura do L’Humanité, afundado em dívidas, esteve ameaçada de chegar ao fim. No último dia 7, no entanto, o Tribunal de Bobigny concedeu uma sobrevida à publicação e aceitou o pedido de recuperação judicial, com permissão de continuar em atividade por um período de observação de seis meses. Uma nova audiência está marcada para o dia 27 de março. Continue lendo L’Humanité, centenário jornal da esquerda francesa, luta para sobreviver em meio à grave crise financeira

Obra de Vasarely recebe retrospectiva inédita no Centro Pompidou

Precursor das artes ótica e cinética, Vasarely têm mais de 300 obras em exibição no Centro Pompidou, em Paris. © Fotos Fernando Eichenberg

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PARIS – A arte de Victor Vasarely (1906-1977), húngaro naturalizado francês, ganha sua primeira grande retrospectiva na França, com 300 obras, objetos e documentos expostos no Centre Pompidou, de 6 de fevereiro até 6 de maio. Considerado precursor das artes ótica (op art) e cinética, suas criações invadiram o universo da pintura, da escultura, da moda, do design, da publicidade ou da arquitetura. Vasarely é a ilustração de “Space Oddity”, álbum cult de David Bowie, e também o logotipo da Renault, a sala de refeições da sede do Deutsche Bank, capas de livros dos filósofos Jean-Paul Sartre e E.M. Cioran, louças de porcelana, intervenções em estações de trem ou em fachadas de grandes empresas. Continue lendo Obra de Vasarely recebe retrospectiva inédita no Centro Pompidou

Itália e França travam embate às vésperas das eleições europeias

O duelo entre o presiente francês, Emmanuel Macron, e o vice-premier italiano Matteo Salvini, na ilustração da revista britânica “The Spectator”. ©Reprodução

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PARIS – A menos de quatro meses das eleições para o Parlamento Europeu, nunca foram tão afrontosas as relações entre Roma e Paris. As virulentas provocações dos líderes nacionalistas italianos contra o governo pró-europeu francês refletem o lado incendiário de um embate maior entre as às vésperas da disputa nas urnas em maio, em um pleito que adquiriu uma inusitada importância provocada pela nova realidade política e ideológica no continente. Continue lendo Itália e França travam embate às vésperas das eleições europeias

Muçulmanas reivindicam igualdade de tratamento entre homens e mulheres nas mesquitas da França

Kahina Bahloul diz que a separação entre homenes e mulheres não tem sentido: “É um tipo de esquizofrenia. Hoje todos os dias homens e mulheres estão juntos no trabalho, na escola, na universidade”. Foto: Divulgação

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PARIS – Na vez em que foi orar na prestigiosa Grande Mesquita de Paris, Kahina Bahldoul se viu relegada a uma desconfortável sala no subsolo, adjacente ao banheiro masculino, onde mal se ouvia o imã que pregava exclusivamente para os homens no recinto principal, um andar acima, ao qual o acesso das mulheres era proibido.

Mas vivi uma experiência ainda pior — conta ela. — Fomos em um grupo, homens e mulheres, a uma mesquita nos arredores de Paris. Ao chegarmos, disseram para nós, mulheres: “Atravessem a rua e encontrarão uma garagem, lá é o lugar de vocês”. Ainda por cima, era uma data de festa religiosa. Na garagem, era péssima a transmissão do sermão pelo alto-falante. Foi algo extremamente desagradável, me senti insultada. A partir daquele dia, decidi não frequentar mais mesquitas e passei a fazer minhas orações em casa.Kahina Bahloul diz que a separação de homens e mulheres não tem sentido: “É um tipo de esquizofrenia. Hoje todos os dias homens e mulheres estão juntos no trabalho, na escola, na universidade” . Continue lendo Muçulmanas reivindicam igualdade de tratamento entre homens e mulheres nas mesquitas da França

Euro celebra seus 20 anos neste 1° de janeiro em uma Europa sem liderança e abalada por incertezas políticas e econômicas

Manifestação dos “coletes amarelosé na França: “Sua Europa nos arruína”. © Simon Guillemin/Hans Lucas/AFP

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PARIS – Lançado em clima de euforia em 1999, o euro celebra seus 20 anos neste 1° de janeiro em uma Europa claudicante, sem liderança e abalada por incertezas políticas e econômicas. A inédita insurreição dos coletes amarelos na França revelou a crescente desconfiança em relação às instituições e a fragilidade do contrato social vigente em democracias europeias, em mais uma manifestação de mal-estar num continente já sacudido pela escalada dos nacionalismos, as incógnitas do Brexit e a desaceleração econômica. Tanto o governo populista italiano como o europeanista francês desafiam, hoje, as rígidas regras orçamentárias da zona euro para satisfazer seus programas políticos e as demandas domésticas reclamadas pelas ruas. Na opinião de especialistas, a moeda única completa duas décadas com um balanço contraditório em meio à desordem social e política. Continue lendo Euro celebra seus 20 anos neste 1° de janeiro em uma Europa sem liderança e abalada por incertezas políticas e econômicas

Michael Jackson revive na arte contemporânea em mostra no Grand Palais

“Trata-se da primeira exposição abordando Michael Jackson, sob este ângulo até então ignorado, por meio de seu impacto, ainda muito forte hoje, na arte contemporânea”, diz Nicholas Cullinan, curador da exposição. ©Fernando Eichenberg/fotos das obras e da mostra

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – Certa vez, perguntado sobre que personalidade, morta ou viva, gostaria de encontrar por apenas uma hora, Michael Jackson respondeu: Michelangelo. “Sempre pensei que era o artista mais fabuloso, e eu amo arte. Penso que se pudesse encontrar alguém do passado, seria ele. Acredito que entendi o que ele queria dizer e fazer, mesmo que tenha sido criticado. Era um verdadeiro artista. Teria gostado de sentar e conversar com ele”, disse. Amante e colecionador de arte –  do barroco italiano ao universo de Walt Disney, passando por Degas e Norman Rockwell, entre tantos outros -, Michael Jackson não escondia sua predileção por Michelangelo, inclusive recorrendo com frequência à citações do gênio italiano do Renascimento: “Sei que o criador partirá, mas sua obra sobreviverá. Por isso, para escapar da morte, procuro acorrentar minha alma ao meu trabalho” era uma de suas preferidas. Em suas turnês europeias, o ídolo pop não perdia oportunidades para fazer visitas privadas na Capela Sistina, na Galleria degli Uffizi, no Museu do Louvre ou no Castelo de Versalhes. Continue lendo Michael Jackson revive na arte contemporânea em mostra no Grand Palais

Guerrilheiros da memória: a luta de um casal francês para colocar na cadeia genocidas de Ruanda

Dafroza e Alain Gauthier combatem há 20 anos a impunidade dos participantes do genocídio de Ruanda. © Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA ÉPOCA

REIMS – À primeira vista, Alain e Dafroza Gauthier formam um casal de aposentados em uma vida pacata e aprazível em Reims, a capital do champanha no nordeste da França. Ela, 64 anos, ex-engenheira química, e ele, 69, ex-professor de francês, residem em uma casa de amplas janelas e um belo terraço, onde costumam receber a visita dos três filhos, de 38, 35 e 30 anos. Mas, além das aparências, seu cotidiano se assemelha a uma complexa e interminável trama detetivesca. Há cerca de 20 anos, o casal Gauthier vive seus dias mergulhado em uma única missão: desmascarar na França suspeitos de terem participado do genocídio de Ruanda, em 1994, e denunciá-los à Justiça. Continue lendo Guerrilheiros da memória: a luta de um casal francês para colocar na cadeia genocidas de Ruanda

Fundação Henri Cartier-Bresson inaugura nova sede em Paris com exposição da fotógrafa Martine Franck

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – A Fundação Henri Cartier-Bresson, instalada desde sua criação, em 2003, no bairro Montparnasse, muda de endereço em Paris. Seus novos espaços, de acabamento recém-finalizado, serão abertos ao público nesta terça-feira, dia 6, no número 79 da rue des Archives, em pleno bairro Marais. A nova Fundação inaugura com uma exposição retrospectiva da fotógrafa Martine Franck (1938-2012), em cartaz até 10 de fevereiro.

Praia, aldeia de Puri, Índia, 1980. ©Martine Franck/Magnum Photos

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Um período rico em exposições em Paris: Picasso, Miró, Egon Schiele, Basquiat, Caravaggio, Mucha…

Obra de Jean-Michel Basquiat, na Fundação Louis Vuitton. Fotos: ©Fernando Eichenberg

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PARIS – O visitante deste outono parisiense não poderá se queixar da falta de opções de exposições de arte de qualidade. Neste final de ano, a capital francesa apresenta uma rara profusão de exuberantes mostras de reputados artistas em prestigiados museus e espaços de arte da cidade. Importantes obras de Picasso, Miró, Egon Schiele, Jean-Michel Basquiat, Caravaggio, Alphonse Mucha, entre outros nomes, estão concentradas na capital francesa, à mercê do curioso olhar do amador de arte. Continue lendo Um período rico em exposições em Paris: Picasso, Miró, Egon Schiele, Basquiat, Caravaggio, Mucha…

Chico Buarque afirma que PT cometeu muitos erros no governo, mas alerta para a ameaça à democracia com a possível eleição de Bolsonaro à presidência

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – Chico Buarque concedeu recentemente em Paris uma entrevista ao canal M6 da TV francesa sobre o embate político no Brasil às vésperas do segundo turno da eleição presidencial. A reportagem, exibida no telejornal da emissora ontem à noite, revelou apenas alguns segundos do total de 25 minutos da conversa do compositor e escritor com a emissora francesa. Aqui a quase íntegra da entrevista. Continue lendo Chico Buarque afirma que PT cometeu muitos erros no governo, mas alerta para a ameaça à democracia com a possível eleição de Bolsonaro à presidência

Roman Krznaric: “A pergunta do século XX foi ‘quem sou eu?’, e a pergunta do século XXI deve ser ‘quem é você?'”

Roman Krznaric: “A questão é saber se vamos aprender a usar o mundo digital de uma forma que possa contribuir para a empatia, a tolerância e o respeito”. © Kate Raworth

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – A empatia pode ajudar a apaziguar o deletério clima político no Brasil e levar a transformações sociais no mundo? O filósofo australiano Roman Krznaric acredita que sim. Ao longo dos anos e de consecutivas obras, Krznaric se tornou um pensador e autor de sucesso, reconhecido arauto do movimento da filosofia prática, também chamada de filosofia popular. Em ensaios catapultados a best-sellers e traduzidos em mais de vinte idiomas – como “O poder da empatia”, “Como encontrar o trabalho da sua vida” ou “Carpe Diem – resgatando a arte de aproveitar a vida” -, o “pensador cultural”, um dos fundadores da The School of Life e ex-professor de Sociologia e Política da Universidade de Cambridge, reivindica a aplicação dos ensinamentos filosóficos na vida cotidiana, num resgate do tempo dos antigos gregos. Continue lendo Roman Krznaric: “A pergunta do século XX foi ‘quem sou eu?’, e a pergunta do século XXI deve ser ‘quem é você?’”

R.I.P. Charles Aznavour (1924-2018)

Fotos © Fernando Eichenberg

Entrevistei Charles Aznavour às vésperas de sua viagem ao Brasil, em 2008, em meios aos shows de sua turnê comemoratriva dos 75 anos. Ele me recebeu na sede da editora de músicas Raoul Breton, no 67 bulevar de Courcelles,  em Paris, simpático, brincalhão, e sempre dedicado à sua paixão maior, a canção.

Abaixo a entrevista, publicada no segundo livro de meu livro de entrevistas, “Entre Aspas 2” (ed. L&PM). Continue lendo R.I.P. Charles Aznavour (1924-2018)

Pierre Rosanvallon: “Os cidadãos desejam ser ouvidos além das campanhas eleitorais”

Pierre Rosanvallon: “A grande ilusão dos populismos é o retorno a um tipo de unanimidade”. Foto © Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – O mundo vive um clima de fatalismo no limiar de uma nova era da modernidade, marcada por uma profunda crise da democracia eleitoral representativa, que já não supre as aspirações emancipatórias dos cidadãos. O desencanto democrático estimula o crescimento dos populismos, principalmente na Europa. Neste período de transição, emergem, cada vez mais, líderes políticos híbridos, na ideologia e na ação. Esse é o diagnóstico traçado por Pierre Rosanvallon, especialista em História Moderna e Contemporânea do Collège de France e fundador do grupo de reflexão República das Ideias, em seu mais recente ensaio publicado na França, “Nossa história intelectual e política (1968-2018)”. Rosanvallon conversou com O GLOBO sobre o “preocupante desmoronamento democrático” nas sociedades contemporâneas em sua sala no Collège de France, em Paris. Continue lendo Pierre Rosanvallon: “Os cidadãos desejam ser ouvidos além das campanhas eleitorais”

RIP Paul Virilio (1932-2018)

Paul Virilio © AFP/ Daniel Janin

Entrevistei o pensador Paul Virilio, filósofo e urbanista, no ano de 2000, numa longa e agradável conversa em um de seus bares preferidos de Paris. Há alguns anos, telefonei para sua casa, na cidade de La Rochelle, na costa atlântica do sudoeste da França, solicitando um novo encontro. Ele foi, como sempre, muito simpático, mas recusou meu pedido, argumentando que estava atravessando um delicado período de saúde e que sua recuperação seria bastante longa. Mas não me desencorajou de todo, e disse que tentasse novamente em um ano.

Neste 18 de setembro, foi anunciada sua morte. Paul Virilio faleceu no dia 10, vítima de um ataque cardíaco. Segundo seu desejo, os funerais ocorreram na intimidade familiar, no dia 17, e o falecimento divulgado um dia depois. De acordo com sua filha, Sophie Virilio, ele estava preparando mais um ensaio e uma nova exposição.

Em homenagem, reproduzo aqui um trecho de nossa entrevista, feita na época para a hoje extinta revista República, e depois publicada na íntegra no primeiro volume do meu livro “Entre Aspas”. Continue lendo RIP Paul Virilio (1932-2018)

Elizabeth de Portzamparc: “Não sou arquiteta. Sou um ser humano, mulher, que pratica arquitetura, urbanismo, fotografia, design, desenho”

Elizabeth de Portzamparc: “Se eu sofri? O que você acha? Aqui, brasileira, mulher, com um marido conhecido. Mas nunca perdi a fé na minha capacidade de fazer uma obra, como uma convicção profunda, que não sei de onde vem. E sempre soube me defender, sofri golpes e respondi. Às vezes, as pessoas tinham medo de mim, porque eu falo, existo. © Steve Murez

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Em sua infância no Rio de Janeiro, a pequena Elizabeth costumava desenhar em detalhes as mechas dos cabelos do imperador Napoleão, copiadas de um livro de histórias. Já em sua pré-adolescência, passava noites em claro empolgada em fazer desenhos livres, de escassos traços. Sua mãe enxergou na filha um talento promissor, mostrou suas criações para o pintor Iberê Camargo, vizinho e amigo da família, e a jovem precoce entrou para a escola de artes de Frank Schaeffer. Suas obras da idade adulta, no entanto, não são exibidas em exposições e museus. Hoje, é ela própria quem projeta museus e tantas outras edificações de formas inovadoras pelos quatro cantos do mundo. Elizabeth de Portzamparc se tornou uma arquiteta de renome internacional, uma das poucas mulheres a se destacar em um meio ainda predominantemente masculino. Continue lendo Elizabeth de Portzamparc: “Não sou arquiteta. Sou um ser humano, mulher, que pratica arquitetura, urbanismo, fotografia, design, desenho”

Milos Forman e Milan Kundera na Primavera de Praga do ano de 1968

Milos Forman (à esq.) e Milan Kundera, em Belle-Île-en-Mer, na França, em novembro de 1976. ©Sveeva Vigeveno/Getty Images

FERNANDO EICHENBERG / PARIS – Para marcar os 40 anos de Maio de 1968, há uma década, o diretor de documentários Simon Brook realizou um filme sustentado no testemunho de pessoas que vivenciaram as mutações dos anos 1960, intitulado “Gerações 68”. Sua lista de personagens é bastante significativa e eclética: além do próprio pai, Peter Brook, foram ouvidos Milos Forman, Dennis Hopper, Vaclav Havel, William Klein, Mary Quant, Jean-Claude Carrière, Georges Wolinski, Ed Ruscha, Annie Nightingale, e Jean-François Bizot. Continue lendo Milos Forman e Milan Kundera na Primavera de Praga do ano de 1968

Primavera de Praga: conformismo foi a pior herança da invasão soviética, diz cientista político tcheco

Miroslav Novak: “‘O país, que antes resistia, se acomodou. A partir de 1972, tornou-se um dos mais opressivos da Europa, um dos mais duros. Foi traumático. As pessoas que resistiam pacificamente em 1968, se resignaram”. @ Josef Koudelka/Magnum

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Há 50 anos, às 23h de 20 de agosto de 1968, tanques da União Soviética e de mais quatro países do Pacto de Varsóvia cruzaram a fronteira da então Tchecoslováquia para reprimir a onda de liberalização conhecida como Primavera de Praga. Desde janeiro, quando Alexander Dubcek assumiu o comando do Partido Comunista, o país vivenciou um clamor por reformas econômicas e maiores liberdades sociais e individuais, propaladas como um “socialismo de rosto humano”. A invasão soviética enterrou o sonho de uma sociedade comunista democrática e acabou com as ambições imediatas de maior autonomia em relação à Moscou. Em 1989, a chamada Revolução de Veludo pôs fim ao domínio do PC e, em 1993, tchecos e eslovacos desfizeram a federação, formando países separados. No entanto, para o tcheco Miroslav Novak, do Instituto de Estudos Políticos Cevro, que em breve lançará o ensaio “Primavera de Praga 1968: uma revolução interrompida?”, as marcas desses acontecimentos continuam presentes na mentalidade dos dois países. Continue lendo Primavera de Praga: conformismo foi a pior herança da invasão soviética, diz cientista político tcheco

Tobie Nathan: “Não há mais imigrações de ruptura”

Tobie Nathan: “Trabalhei com uma escola em Aubervilliers (subúrbio norte de Paris), e numa classe havia 40 alunos, sendo 35 do mesmo pai. Isso não é um melting pot, é uma outra coisa, que exige uma outra reflexão e proposição”. © Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS — As imigrações do passado se transformam cada vez mais em diásporas do presente. Para sair da crise atual, a Europa deverá repensar sua coexistência com o estrangeiro e levar em conta as formas de mobilidade contemporâneas. A negação da alteridade estimula os conflitos, e a laicidade francesa é incapaz, hoje, de gerir uma convivência pacífica dos monoteísmos. As opiniões são de Tobie Nathan, um dos herdeiros de Georges Devereux (1908-1985), considerado fundador da etnopsiquiatria, prática que combina a psicologia clínica com a antropologia cultural. Continue lendo Tobie Nathan: “Não há mais imigrações de ruptura”