Obra de Vasarely recebe retrospectiva inédita no Centro Pompidou

Precursor das artes ótica e cinética, Vasarely têm mais de 300 obras em exibição no Centro Pompidou, em Paris. © Fotos Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – A arte de Victor Vasarely (1906-1977), húngaro naturalizado francês, ganha sua primeira grande retrospectiva na França, com 300 obras, objetos e documentos expostos no Centre Pompidou, de 6 de fevereiro até 6 de maio. Considerado precursor das artes ótica (op art) e cinética, suas criações invadiram o universo da pintura, da escultura, da moda, do design, da publicidade ou da arquitetura. Vasarely é a ilustração de “Space Oddity”, álbum cult de David Bowie, e também o logotipo da Renault, a sala de refeições da sede do Deutsche Bank, capas de livros dos filósofos Jean-Paul Sartre e E.M. Cioran, louças de porcelana, intervenções em estações de trem ou em fachadas de grandes empresas.

Suas telas de figuras geométricas que parecem se mover se tornaram icônicas. “A arte plástica será cinética, multidimensional e comunitária. Abstrata, certamente, e próxima das ciências. Denunciemos as nostalgias do passado: amemos nossa época. Acabemos com a ‘Natureza’ romântica, nossa Natureza é a Bioquímica, a Astrofísica e a Mecânica Ondulatória. Afirmemos que toda criação do Homem é formal e geométrica como a estrutura secreta do universo”, defendeu, em 1954.

Vasarely nasceu em Pécs, na Hungria, em 1906, e após desistir dos estudos de medicina ingressou, em 1929, na academia de artes Mühely, em Budapeste, inspirada nos vanguardismos da escola alemã Bauhaus. Em 1930, desembarcou em Paris como designer gráfico. Sua primeira exposição importante ocorreu em 1944. A retrospectiva organizada pelos curadores Michel Gauthier e Arnaud Pierre pretende mostrar que Vasarely não foi apenas o artista cujas pinturas “vibrantes e cintilantes perturbam o olhar e enganam a retina”, mas também aquele que, ao revolucionar a abstração, procurou com uma linguagem visual universal democratizar a criação. Segundo seu credo, a arte deveria ser social. “É nas multidões que se precisa difundir a arte. Esse é o espaço ilimitado”, sustentava.

No final dos anos 1960, Vasarely começou a produzir em grande escala, e foi um dos poucos franceses a conquistar os Estados Unidos no pós-guerra. Denise René (1913-2012), galerista de arte que o lançou na França, lamentou, no entanto, sua produção em demasia: “Ele cedeu à demanda e não soube administrar seu sucesso”. Vasarely morreu de um câncer na próstata em 1997, aos 90 anos. Em 1976, criou um centro arquitetônico em Aix-en-Provence, que abriga a fundação que leva seu nome.