Um período rico em exposições em Paris: Picasso, Miró, Egon Schiele, Basquiat, Caravaggio, Mucha…

Obra de Jean-Michel Basquiat, na Fundação Louis Vuitton. Fotos: ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – O visitante deste outono parisiense não poderá se queixar da falta de opções de exposições de arte de qualidade. Neste final de ano, a capital francesa apresenta uma rara profusão de exuberantes mostras de reputados artistas em prestigiados museus e espaços de arte da cidade. Importantes obras de Picasso, Miró, Egon Schiele, Jean-Michel Basquiat, Caravaggio, Alphonse Mucha, entre outros nomes, estão concentradas na capital francesa, à mercê do curioso olhar do amador de arte.

PICASSO AZUL E ROSA

Picasso e seus intensos períodos azul e rosa, do tempo de sua fértil juventude artística, entre 1900 e 1906, invadiram o Museu d’Orsay com mais de 300 obras, entre pinturas, desenhos, gravuras e esculturas. Às vésperas de completar 19 anos, o artista espanhol desembarcou pela primeira vez em Paris em outubro de 1900, na estação de trem Gare d’Orsay (hoje o museu homônimo), junto com seu inseparável amigo Carles Casagemas, que arcou com a maioria dos custos da viagem. Até sua definitiva instalação na Cidade Luz, em 1904, alternou temporadas entre a França e a Espanha (Madri, Málaga e Barcelona). O suicídio de Casagemas, em fevereiro de 1901, provocado pelo sofrido amor de sua relação com Germaine, uma bailarina do Moulin Rouge, abalou o jovem pintor. “Foi pensando em Casagemas morto que comecei a pintar em azul”, revelou Picasso ao seu amigo Pierre Daix.

Após três anos, o azul predominante aos poucos foi cedendo lugar ao rosa, bege e ocre, tonalidades presentes em seu célebre ciclo dos “Saltimbancos”. O Museu d’Orsay, graças a empréstimos de outros museus pelo mundo, conseguiu reunir em um espaço de 1.500m2 obras-primas desta extraordinária fase do Picasso, em uma excepcional exposição, aberta ao público até 6 de janeiro de 2019.

Como bônus, o Museu Picasso apresenta até 13 de janeiro uma exposição conceitual que interroga a noção de “obra-prima” no trabalho criativo do pintor espanhol. E o Studio Willy Rizzo expõe, até 12 de janeiro, cerca de 40 fotografias da intimidade de Picasso, feitas pelo próprio Willy Rizzo ao longo dos anos.

SCHIELE E BASQUIAT

Já a Fundação Louis Vuitton, museu de arte moderna projetado pelo arquiteto Frank Gehry, promove um efêmero encontro entre dois grandes artistas dos séculos XIX e XX, de carreiras fulgurantes e mortes precoces: o austríaco Egon Schiele (1890-1918), vítima fatal da gripe espanhola aos 28 anos de idade, e o americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988), morto aos 27 anos de overdose, apresentados em duas mostras independentes. Dieter Buchhart, curador das exposições, assinala, no entanto, “correspondências” entre os dois artistas, dotados de um “traço único e verdadeiramente existencial”. Segundo ele, Schiele e Basquiat são “dois cometas que nunca caíram na abstração e que contam a experiência universal da vida, vivida como um intenso combate”. Dois terços das obras exibidas nas duas mostras (mais de 100 de autoria de Schiele e cerca de 120 de Basquiat) provêm de colecionadores privados, muitas delas expostas pela primeira vez ao grande público, que poderá admirá-las até 14 de janeiro de 2019.

MIRÓ

O Grand Palais reservou suas nobres e amplas salas para uma importante retrospectiva de mais de 150 obras essenciais do artista espanhol Joan Miró (1893-1983), em quase sete décadas de carreira, de 1916 até sua morte, aos 90 anos, no dia de Natal. Miró dizia que não sonhava durante o sono, mas sim trabalhando. Para o curador da exposição, o historiador de arte Jean-Louis Prat, o artista “nos fez sonhar com ele ao inventar um mundo absolutamente único”. “As pessoas compreenderão cada vez melhor que eu abria portas para um outro futuro, contra todas falsas ideias e fanatismos”, disse, certa vez, o pintor. A exposição poderá ser visitada até 4 de fevereiro de 2019.

O Grand Palais propõe ainda, até o dia 21 de janeiro, a descoberta da exuberante Veneza do século XVIII, com telas de Canaletto (1697-1768), Francesco Guardi (1712-1793) ou Gianbattista Tiepolo (1696-1770), e uma cenografia que destaca ainda o luxo dos palácios, o espetáculo e a música da época na icônica cidade italiana.

MUCHA

Personagem da Belle Époque, protagonista da Art Nouveau francesa e percursor do moderno cartaz publicitário, o artista tcheco Alphonse Mucha (1860-1939) tem sua obra exposta no Museu Luxemburgo, até o 27 de fevereiro. Pode-se ver seus famosos cartazes de Sarah Bernhardt, mas também facetas menos conhecidas de sua obra, em torno de sua busca pela espiritualidade (foi introduzido ao ocultismo pelo dramaturgo sueco August Strindberg) e pela identidade eslava.

* Na foto acima à direita, o pintor Gauguin tocando harmônio no ateliê de Alphonse Mucha, em Paris, em 1893.

CARAVAGGIO

No Museu Jacquemart-André, o homenageado é o pintor italiano Caravaggio (1571-1610), com a exposição “Caravaggio em Roma, amigos e inimigos”. A mostra, em exibição até 28 de janeiro, conta com dez obras-primas de seu período romano, confrontadas a criações de outros artistas de sua época. Uma dezena de telas pode parecer pouco, mas o número é enorme considerando que são conhecidas apenas cerca de 60 obras do célebre pintor que levou ao extremo o chamado chiaroscuro (claro-escuro), técnica convertida no DNA de sua breve carreira, encerrada com sua morte aos 39 anos.

TRÊS EM UM

No Centro Pompidou, três mostras merecem a atenção, segundo as preferências do visitante. O cubismo é o grande tema de uma das exposições, com um panorama do movimento em Paris, cidade em quem surgiu, entre 1907 e 1917. Há Picasso e Georges Braque, considerados como os iniciadores do movimento, mas também Gauguin, Cézanne, Delaunay, Fernand Léger, Marcel Duchamp, Picabia e André Derain, entre tantos outros nomes, em um total de 300 obras exibidas até o dia 25 de fevereiro.

Em outro espaço, até 31 de dezembro, é possível visitar a retrospectiva da obra do renomado arquiteto japonês Tadao Ando, um autodidata que em 1965 interrompeu sua carreira de boxeador para se formar na Europa por meio da observação. Um de seus projetos mais conhecidos é a Igreja da Luz, em Ibaraki, no Japão, no qual criou uma cruz de luz no concreto.

Por fim, o Pompidou exibe ainda, até o dia 10 de dezembro, a maior retrospectiva já consagrada ao artista austríaco Franz West (1947-2012), com cerca de 200 obras reunidas.

HQ E ARQUEOLOGIA

Para quem aprecia histórias em quadrinhos e visitar o Museu Louvre, a Petite Galerie (espaço de educação artística e cultural do museu) exibe até 1° de julho de 2019 uma mostra que propõe um diálogo entre a arqueologia e a HQ. Uma centena de obras são apresentadas junto com uma seleção de álbuns de HQ de autores inspirados pela arqueologia, como Enki Bilal, Nicolas de Crécy ou Jul.

JAKUCHU

Embora já tenha sido encerrada no mês passado, vale o registro da exposição do japonês Ito Jakuchu (1716-1800), com seus trinta rolos de seda pintados com motivos da natureza. A obra “Imagens do reino colorido dos seres vivos”, adquirida pela casa imperial do Japão em 1889, só se tornou visível ao público no início dos anos 2000, e até então só havia saído do país uma única vez, em 2012, para ser exibida na National Gallery, em Washington. O museu Petit Palais obteve o empréstimo excepcional da extraordinária obra pelo período de um mês.

E ainda vem por aí uma exposição sobre a influência e o impacto cultural de Michael Jackson no campo da arte contemporânea desde os anos 1980, com obras de mais de 40 artistas (Andy Warhol, David LaChapelle, Paul McCarthy, Yan Pei Ming, entre outros), a partir de 23 de novembro, no Grand Palais; uma retrospectiva da fotógrafa belga Martine Franck (1938-2012), para inaugurar o novo local da Fundação Henri Cartier-Bresson, de mudança para o bairro Marais, a partir do próximo dia 6, e uma exposição de mais de 250 desenhos do escultor Rodin, no Museu Rodin, também a partir do dia 6.