Arquivo da categoria: Europa

Guerra prolongada na Ucrânia põe Europa diante de incertezas

Moradores passam por um mural em Kiev mostrando um grafite do Kremlin em chamas: guerra expôs interesses divergentes do eixo franco-alemão e dos países do Leste Europeu. Foto: Genya Savilov/AFP

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A eclosão da guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro passado e seu prolongamento até hoje abalaram a agenda de uma Europa em busca de união política, crescimento econômico e maior independência em questões de segurança e defesa. A invasão das forças russas de Vladimir Putin em território ucraniano obrigou a União Europeia e seus países membros a reverem estratégias de curto a longo prazo, provocou a redistribuição de cartas no tabuleiro geopolítico, reavaliou alianças e alterou planos militares e energéticos.­

A guerra revirou completamente o espaço europeu – resume Tara Varma, analista do European Council on Foreign Relations (ECFR). – Infelizmente, este conflito não terminará logo, e há uma verdadeira questão sobre o que a UE fará no dia de amanhã.

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Com viés expansionista inspirado no período áureo do Império Otomano, Erdogan busca a reeleição na Turquia

Fiéis muçulmanos reúnem-se em reconversão em mesquita do Museu de Santa Sofia, em Istambul: Erdogan busca explorar antiga imagem da Turquia de defensora do Islã. ©Kerem Uzel/Bloomberg

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PARIS – A Turquia tem se destacado por sua onipresença em diferentes frentes do tabuleiro geopolítico internacional, fonte de atritos com inúmeros países, em uma ofensiva autoproclamada pelo presidente Recep Tayyip Erdogan. Suas ambições além fronteiras – refletidas em ações políticas e militares na Síria, na Líbia, no Mediterrâneo Oriental ou no Sul do Cáucaso, e também por um discurso islamista com pretensões de liderança no mundo muçulmano -, ganharam a definição de “neo-otomanismo”, como um novo viés expansionista inspirado no período áureo do Império Otomano.

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Karoline Postel-Vinay: “A política não sobrevive no terreno das incertezas”

Mulher passa diante de um grafite em Londres: para analista francesa Incertezas científicas sobre pandemia alimentam disputa por influência entre líderes globais. © Henry Nicholls/ Reuters

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PARIS – Diante das incertezas científicas que cercam a pandemia da Covid-19, multiplicam-se as narrativas políticas que buscam, por necessidade ou oportunidade, conferir coerência ao enfrentamento da crise, observa a cientista política Karoline Postel-Vinay. Especialista no estudo de narrativas nas relações internacionais, tema de seu próximo ensaio, a analista do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po) afirma que a política “tem horror à zona vaga de incertezas”, terreno no qual não sobrevive.  No caos mundial provocado pelo coronavírus, governos nacionais, organismos internacionais e movimentos de opinião criam seus próprios discursos, em uma “batalha de influências” que, segundo prevê, será ainda mais acirrada no período pós-crise. Continue lendo Karoline Postel-Vinay: “A política não sobrevive no terreno das incertezas”

Líderes europeus lançam fundo de reconstrução pós-pandemia, mas ainda divergem sobre detalhes

Membros do Conselho Europeu participam de conferência virtual sobre fundo de reconstrução pós-pandemia. ©Pool/Reuters

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PARIS – Os 27 chefes de Estado e governo da União Europeia (UE) concordaram com a criação de um fundo comum para financiar a retomada da economia nos países do continente, em um quadro de grave recessão causada pela pandemia da Covid-19. Divergências profundas persistem, no entanto, sobre a montagem e funcionamento deste novo instrumento. Em uma reunião por meio de videoconferência, nesta quinta-feira, os líderes encarregaram a Comissão Europeia de detalhar as condições do dispositivo de ajuda financeira até o início de maio. Continue lendo Líderes europeus lançam fundo de reconstrução pós-pandemia, mas ainda divergem sobre detalhes

Em pronunciamento sobre pandemia, Macron promete se ‘reinventar’ e prega a ‘refundação’ da França e da Europa

Presidente Emmanuel Macron anuncia extensão da quarentena até 11 de maio e promete dotar o país de independência econômica e estratégica.

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PARIS – A França já tem uma data para iniciar um desconfinamento progressivo no país: 11 de maio. A quarentena, que até então estava estipulada até 15 de abril, foi prorrogada por mais 25 dias pelo presidente Emmanuel Macron, em anúncio feito à população em cadeia nacional. Em um raro mea-culpa, o líder francês reconheceu falhas do governo no enfrentamento da crise provocada pelo Covid-19. Para o futuro, prometeu uma “reinvenção” de si mesmo e pregou uma “refundação” da França e da Europa, com maior independência econômica e estratégica. Continue lendo Em pronunciamento sobre pandemia, Macron promete se ‘reinventar’ e prega a ‘refundação’ da França e da Europa

Após semanas de impasse, União Europeia libera ajuda de 500 bilhões de euros contra pandemia

Homem de máscara em frente à sede da Comissão Europeia, em Bruxelas.                                          ©Yves Herman/Reuters

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PARIS – Após receber muitas críticas pela falta de ação e de solidariedade no início da crise provocada pela Covid-19 no continente, a Europa conseguiu chegar a um acordo em mais uma tentativa de formular uma resposta comum aos efeitos da pandemia. Ao final da maratona de reuniões dos ministros das Finanças da União Europeia (UE), que começou há dois dias e terminou na noite de quinta-feira, foi acertada uma ajuda de cerca de € 500 bilhões para os países europeus, recursos que deverão ser liberados em duas semanas. Permaneceu, entretanto, o impasse na questão da emissão de títulos de dívida conjuntaapelidados de eurobônus ou de coronabonds, principal reivindicação das nações de economias menos robustas, que sofreram uma derrota. Continue lendo Após semanas de impasse, União Europeia libera ajuda de 500 bilhões de euros contra pandemia

Contra Trump e nacionalismos, Macron tenta coordenar resposta europeia ao coronavírus

Presidente francês, no entanto, enfrenta dificuldade do bloco europeu de agir coletivamente; acusado de ‘neoliberalismo’, ele faz apologia do Estado de bem-estar. ©Ludovic Marin/AFP

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PARISA crise do coronavírus reavivou costumeiras dissidências da geopolítica mundial. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reafirmou seu lema “Estados Unidos em primeiro lugar” e fustigou a Europa pela disseminação do “vírus estrangeiro”. Seu colega francês, Emmanuel Macron, se lançou em mais uma tentativa de liderar a ressurreição da União Europeia em torno de uma causa comum, sem obter, no entanto, o apoio almejado, nem de seus tradicionais aliados, como a Alemanha, nem de seus conhecidos desafetos do nacional-populismo. Continue lendo Contra Trump e nacionalismos, Macron tenta coordenar resposta europeia ao coronavírus

Retorno de suspeitos de jihadismo se torna um dilema para a Europa

Estrangeiros suspeitos de integrarem o Estado Islâmico presos em uma cela em Hasaka, Síria: países não os querem de volta. ©Goran Tomasevic/Agência O Globo

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PARIS – A derrocada do califado do Estado Islâmico (EI) gerou um problema até agora não resolvido pela comunidade internacional: como e onde julgar os milhares de jihadistas atualmente detidos em prisões curdas e iraquianas? As opções sobre a mesa se resumem a promover os julgamentos nos territórios onde os crimes foram cometidos, repatriar os criminosos estrangeiros aos seus países de origem ou recorrer à solução de uma instância jurídica internacional. Em um debate que se eterniza em meio a questões jurídicas e interesses políticos divergentes, o consenso está longe de ser alcançado. Continue lendo Retorno de suspeitos de jihadismo se torna um dilema para a Europa

Olivier Roy: “A Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas cultural e de identidade”

Olivier Roy, cientista político do Instituto Universitário Europeu, de Florença, afirma que a Europa  não vive uma crise religiosa, mas antes uma crise cultural da qual movimentos fundamentalistas e populistas se apropriam. ©Internaz/Flickr

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PARIS – Apesar das aparências, a Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas sim cultural e de identidade. Dela, se aproveitam movimentos neofundamentalistas como o salafismo e o evangelismo, mas também os populismos políticos, que em seu embate contra o islã ou a imigração promovem uma “folclorização do cristianismo”, favorecendo, paradoxalmente, a crescente secularização das sociedades. As referências cristãs, base da formação europeia, perderam seu caráter religioso e se tornaram uma mera herança cultural, estranha à doutrina da Igreja. O islã não é o problema, mas sim as indecisas relações dos Estados secularizados com a religião em geral. Estas são algumas das teses defendidas pelo cientista político francês Olivier Roy, do Instituto Universitário Europeu, de Florença, em seu ensaio “L’Europe est-elle chrétienne?” (A Europa é cristã?, ed. Seuil). Continue lendo Olivier Roy: “A Europa não vive, hoje, uma crise religiosa, mas cultural e de identidade”

Europa cria órgão para combater manipulações e desinformação no ensino de sua história

Turistas visitam o campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. Governo ultranacionalista aprovou lei que torna ilegal atribuir crimes nazistas ao Estado polonês. ©Sophie Rosenzweig

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PARIS – Na Europa Central e do Leste, o discurso histórico atual tende a uma glorificação neonacionalista. Na parte Ocidental, existe a tentação de sucumbir à amnésia nas narrativas de fatos do passado. Sustentado nestas premissas e na procupação com a crescente propagação de discursos xenófobos, racistas e antissemitas, o Conselho da Europa, formado por 47 países, lançou a criação do Observatório do Ensino de História da Europa. A ideia é ter um instrumento capaz de realizar uma radiografia do ensino de História nas diferentes nações, para lutar contra a manipulação e a desinformação e favorecer um relato histórico europeu minimamente comum. Continue lendo Europa cria órgão para combater manipulações e desinformação no ensino de sua história

“A História não se repete, mas os métodos de manipulação, sim”, diz a pesquisadora franco-alemã Géraldine Schwarz,

Partindo da própria família, que apoiou o nazismo por conformismo, Géraldine Schwarz alerta para os riscos ao se esquecer o passado. © Mathias Bothor

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PARIS – O Brexit, no Reino Unido, a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e o crescimento do populismo na Europa fizeram com que a franco-alemã Géraldine Schwarz mergulhasse na história de sua família na busca de elementos para a compreensão do presente. Na Alemanha da Segunda Guerra Mundial, seus avós paternos, Karl e Lydia, habitantes de Mannheim, aderiram ao Terceiro Reich, não por ideologia, mas por oportunismo. Na França, seu avô materno, Lucien, atuou como gendarme em Mont-Saint-Vincent, sob a República de Vichy, regime colaboracionista do nazismo. Os avós, segundo ela, estão incluídos na categoria dos Mitläufer, definidos como aqueles que “seguem a corrente” e que aderiram ao regime nazista por conformismo e não por convicção. Continue lendo “A História não se repete, mas os métodos de manipulação, sim”, diz a pesquisadora franco-alemã Géraldine Schwarz,

Sistema multilateral é ‘alvo de ataque sem precedentes’ e ‘urge ser reinventado’, afirma chanceler da França

O chanceler francês Jean-Yves Le Drian. Governo francês ambiciona liderar reação a populismo e lançará iniciativa de cooperação em setembro. ©Patrick Kovarick/AFP

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PARIS – O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, defendeu a urgência de uma “reinvenção do sistema multilateral”, alvo atual de um ataque “sem precedentes”, para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, seja em relação aos conflitos comerciais ou às ameaças de uma nova corrida armamentista. O chanceler anunciou ainda a primeira reunião da Aliança pelo Multilateralismo, iniciativa lançada pela França e a Alemanha , para o final de setembro, em Nova York, em nível ministerial. Em seu discurso pronunciado na Conferência dos Embaixadores e Embaixadoras franceses, reunidos em Paris, na única vez em que o Brasil foi citado, houve risos na plateia de diplomatas, em um contexto de grave crise diplomática na relação franco-brasileira . Continue lendo Sistema multilateral é ‘alvo de ataque sem precedentes’ e ‘urge ser reinventado’, afirma chanceler da França

Macron isolado no boicote ao Mercosul

Os dirigentes do G7 em sua primeira reunião de trabalho, em Biarritz. ©G7/Pool

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PARIS – O presidente da França, Emmanuel Macron, assumiu publicamente um desafio no dia de abertura do encontro do grupo de países ricos do G7 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá): prometeu “medidas concretas” ao final das discussões de polêmicos temas que serão abordados pelos grandes líderes presentes no balneário de Biarritz. As queimadas na Amazônia, introduzidas de última hora no cardápio da cúpula, é um dos principais pontos no visor presidencial francês. Continue lendo Macron isolado no boicote ao Mercosul

Análise: Parlamento fragmentado reflete tensões da União Europeia e prenuncia confrontos políticos

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PARIS – Na esteira das eleições que marcaram o fim do ciclo de 40 anos no qual o Parlamento Europeu foi dominado por uma aliança de conservadores e social-democratas, começaram as negociações no tabuleiro político inédito formado pelo aumento das cadeiras conquistadas por liberais, ecologistas e populistas da direita radical. Continue lendo Análise: Parlamento fragmentado reflete tensões da União Europeia e prenuncia confrontos políticos

Populistas devem crescer, mas de forma limitada, nas eleições europeias

Poloneses carregando bandeiras da União Europeia participam de marcha neste sábado celebrando os 15 anos da adesão do país ao bloco, às vésperas de nova eleição para o Parlamento Europeu. © Janek Skarzynski/AFP

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PARIS – As eleições para o Parlamento Europeu, organizadas a cada cinco anos desde 1979, são reconhecidas como um pleito, embora de ambições continentais, dominado por questões nacionais, em debates políticos vinculados às realidades específicas de cada país. O paradoxo eleitoral permanece válido para o escrutínio desta semana, mas as campanhas deste ano, segundo analistas, alcançaram um maior teor europeu e uma inédita importância em relação às edições passadas, em grande parte pela emergência e crescimento dos partidos nacionalistas e de extrema direita, que usam o embate como tribuna para suas críticas ao atual funcionamento da União Europeia (UE). De acordo com as sondagens, as forças políticas populistas e da direita radical deverão incrementar seu número de eurodeputados em Bruxelas, ainda que de forma insuficiente para constituir maioria parlamentar. Continue lendo Populistas devem crescer, mas de forma limitada, nas eleições europeias

Ex-estrategista de Trump, Steve Bannon tenta influenciar direita radical nacionalista e populista na Europa

Bannon em palestra em Bruxelas: influência limitada na Europa. ©Eric Vidal/Reuters

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PARIS – Em queda de prestígio nos Estados Unidos desde que foi destituído do cargo de estrategista-chefe da Casa Branca pelo presidente Donald Trump, em 2017, o ultraconservador Steve Bannon procura reerguer sua imagem e refazer sua rede de influência se lançando como protagonista de uma união de forças populistas na Europa. Na opinião de analistas, no entanto, os dirigentes europeus não parecem seduzidos pelas ambições do guru americano, que goza de alta estima da parte do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos. Continue lendo Ex-estrategista de Trump, Steve Bannon tenta influenciar direita radical nacionalista e populista na Europa

Itália e França travam embate às vésperas das eleições europeias

O duelo entre o presiente francês, Emmanuel Macron, e o vice-premier italiano Matteo Salvini, na ilustração da revista britânica “The Spectator”. ©Reprodução

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PARIS – A menos de quatro meses das eleições para o Parlamento Europeu, nunca foram tão afrontosas as relações entre Roma e Paris. As virulentas provocações dos líderes nacionalistas italianos contra o governo pró-europeu francês refletem o lado incendiário de um embate maior entre as às vésperas da disputa nas urnas em maio, em um pleito que adquiriu uma inusitada importância provocada pela nova realidade política e ideológica no continente. Continue lendo Itália e França travam embate às vésperas das eleições europeias

Euro celebra seus 20 anos neste 1° de janeiro em uma Europa sem liderança e abalada por incertezas políticas e econômicas

Manifestação dos “coletes amarelosé na França: “Sua Europa nos arruína”. © Simon Guillemin/Hans Lucas/AFP

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PARIS – Lançado em clima de euforia em 1999, o euro celebra seus 20 anos neste 1° de janeiro em uma Europa claudicante, sem liderança e abalada por incertezas políticas e econômicas. A inédita insurreição dos coletes amarelos na França revelou a crescente desconfiança em relação às instituições e a fragilidade do contrato social vigente em democracias europeias, em mais uma manifestação de mal-estar num continente já sacudido pela escalada dos nacionalismos, as incógnitas do Brexit e a desaceleração econômica. Tanto o governo populista italiano como o europeanista francês desafiam, hoje, as rígidas regras orçamentárias da zona euro para satisfazer seus programas políticos e as demandas domésticas reclamadas pelas ruas. Na opinião de especialistas, a moeda única completa duas décadas com um balanço contraditório em meio à desordem social e política. Continue lendo Euro celebra seus 20 anos neste 1° de janeiro em uma Europa sem liderança e abalada por incertezas políticas e econômicas