FERNANDO EICHENBERG / PARIS
Tive o privilégio de encontrar Robert Badinter, o homem que aboliu a pena de morte e a guilhotina na França, em três ocasiões, todas elas em seu apartamento face ao belo Jardim de Luxemburgo, em Paris. Dois desses encontros foram entrevistas. O terceiro, no entanto, ocorrido em 2019, foi bastante singular. Havia solicitado mais uma entrevista, centrada em questões de justiça internacional. Ele recusou, argumentando que não tinha nada de novo a falar, e que não queria discorrer sobre temas que pudessem provocar polêmica na França, mesmo que suas palavras fossem publicadas em um jornal brasileiro . Mas me convidou mais uma vez para vir a seu apartamento para simplesmente conversar. Às 9h de uma manhã de verão ensolarada, lá estava eu a soar sua porta. Ele me recebeu em seu gabinete, vestindo terno e gravata. Então com 91 anos, seu corpo aparentava frágil e sua voz enfraquecida, mas conversamos alegremente por mais de uma hora. Em boa parte do tempo, foi ele quem me entrevistou, indagando, estupefato, sobre a eleição de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil. Mas não deixei de fazer as perguntas que me interessavam. E também falamos de amenidades. Ao final, insisti que ele permistisse que usasse suas palavras em um texto para o jornal, mas se manteve irredutível na recusa. Foi a última vez que o vi. Nesta sexta-feira, 9 de fevereiro, soube com tristeza de sua morte, aos 95 anos.
Aqui abaixo o texto que escrevi no meu livro de entrevistas “Entre Aspas vol. 2” (L&PM), de nosso primeiro encontro.
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