Arquivo da categoria: Teatro

TEATRO: Christiane Jatahy EM alta voltagem

Foto: © Leo Aversa

FERNANDO EICHENBERG/ REVISTA PIAUÍ

PARIS – Em 2007, a diretora de teatro Christiane Jatahy foi uma das convidadas do Festival de Viena, um prestigiado evento de artes que acontece todo ano na capital austríaca. A encenadora carioca e sua trupe apresentaram a peça A Falta que Nos Move, que tinha por tema as complicadas relações familiares. O espetáculo começava de maneira inusitada: com a informação de que um dos atores não tinha chegado para a apresentação. A ideia era que a notícia fosse dada ao público do modo o mais realista possível, levando a crer que o elenco estava realmente desfalcado.

Continue lendo TEATRO: Christiane Jatahy EM alta voltagem

RIP: PETER BROOK (1925-2022)

FERNANDO EICHENBERG

Tive a chance de entrevistar o grande diretor de teatro Peter Brook, que nos deixou no sábado 2 de julho de 2022, aos 97 anos bem vividos, em três oportunidades: duas delas para a revista Bravo! e outra para o Teatro Sesc. Aqui o resultado de nossos encontros, publicado no primeiro volume de meu livro de entrevistas ‘Entre Aspas vol.1″ (LP&M).

***

Em outubro de 1990, o diretor de teatro Peter Brook foi entrevistado no programa Le Bon Plaisir, da rádio francesa France-Culture. “O senhor aceitou essa entrevista mesmo tendo declarado um dia que jamais responderia as perguntas dos outros, só daria respostas as suas próprias interrogações. E então?”, questionou a jornalista Béatrice Clérc. O sábio Brook, já apelidado de Buda por seus atores, tratou de se explicar: “Tenho um primeiro princípio fundamental: nunca se apegar ao que dissemos no passado. Quando dizemos algo, é num dado momento, e no dia seguinte poderá ser exatamente o contrário. As contradições existem, mas se na vida adicionarmos todas elas, chegaremos a uma certa verdade”. Brook – na época, pelo menos – seguia ainda uma segunda conduta, também revelada a sua entrevistadora: “Meu outro princípio é o de nunca sentir que é preciso dizer a verdade aos jornalistas. Eles têm uma profissão que é a de fazer perguntas. Se as respondemos é em função das circunstâncias. Assim, por exemplo, diante de você, tratarei de ser relativamente honesto, não mais do que isso”.

Continue lendo RIP: PETER BROOK (1925-2022)

em paris, CRISTIANA REALI LEVA os combates de SIMONE VEIL PARA O PALCO

©Pascalito

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A atriz brasileira Cristiana Reali está de volta aos palcos franceses após uma longa pausa forçada pela pandemia da Covid-19. E retornou encarnando uma das personagens mais emblemáticas, populares e admiradas na França : Simone Veil (1927-2017), sobrevivente de Auschwitz, defensora dos direitos das mulheres, autora da lei que legalizou o aborto no país, primeira presidente eleita do Parlamento Europeu e arauto da reconciliação e construção europeia no pós-Segunda Guerra. Um ano após a sua morte, aos 89 anos, foi entronizada no Panteão, célebre monumento onde repousam as grandes personalidades nacionais.

Continue lendo em paris, CRISTIANA REALI LEVA os combates de SIMONE VEIL PARA O PALCO

christiane jatahy abrirá festival de avignon com peça que reflete intolerâNcia e ódio e tendo O brasil atual como pano de fundo

Ensaio da montagem que a diretora brasileira Christiane Jatahy vai fazer de Entre chien et loup (entre cachorro e lobo, em tradução literal) , uma livre adaptação do filme “Dogville”, na 75ª edição do Festival de Avignon . Fotos dos ensaios: ©Magali Dougados

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A 75ª edição do Festival de Avignon, uma das mais importantes manifestações cênicas internacionais, será aberta este ano pela mais recente criação da brasileira Christiane Jatahy, artista constantemente prestigiada nos palcos europeus. Tendo como pano de fundo a atual situação política e social brasileira, “Entre chien et loup” (entre cachorro e lobo, em tradução literal) reflete sobre a intolerância e as raízes do ódio e do mal na vida em comunidade, em um alerta teatral e real para a ameaça dos extremismos no mundo.

Continue lendo christiane jatahy abrirá festival de avignon com peça que reflete intolerâNcia e ódio e tendo O brasil atual como pano de fundo

RIP Claude Régy (1923-2019)

Claude Régy: “Muitas pessoas vêm escutar a música que esperam, ver a pintura que esperam, ver o teatro que esperam. Elas gostam de rever o que já viram, e não apreciam que as tiremos de seus limites do conhecido, porque é algo seguro, não há aventura”. ©Joël Saget/ AFP

PARIS – O diretor de teatro francês Claude Régy, fundador de uma nova estética na dramaturgia, morreu na noite do último dia 25, aos 96 anos de idade. Certa vez, fiz uma longa entrevista com ele aqui em Paris, para a revista Bravo!, por ocasião de sua montagem de 4.48 Psicose, texto da inglesa Sarah Kane (1971-1999), em cartaz no Théâtre des Bouffes du Nord, que seria também apresentada em São Paulo. Lembro que ao nos despedirmos em seu apartamento, que se destacava por conter apenas o mínimo essencial para uma vida cotidiana – uma escolha sua -, me perguntou por qual das escadas havia subido até o seu andar. Diante da minha resposta, me aconselhou a descer por uma outra: “Os degraus em que você pisará também foram usados por Jean-Jacques Rousseau, quando era preceptor de um jovem neste mesmo prédio”, disse. Desci cuidadosamente pela desgastado mármore da escadaria pensando nos passos do célebre filósofo do século XVIII. O ator Gérard Depardieu, que debutou no teatro sob a direção de Claude Régy, o definia como o “apóstolo do silêncio, da penumbra e do despojamento”.

Aqui o texto que escrevi, na época, para a revista. Continue lendo RIP Claude Régy (1923-2019)

Maria de Medeiros: “Raízes têm tudo a ver com cultura e muito pouco com fronteiras”

Maria de Medeiros: “Sempre achei que se deveria poder mudar de nacionalidade como de camisa. Deveria ser bem mais fácil. A identidade é algo orgânico, se modificando perpetuamente. É uma esponja, vai captando coisas, repelindo outras, algo em movimento”. ©Victor Hugo

FERNANDO EICHENBERG / REVISTA UP

PARIS – “Quase não fiz viagens de turismo na minha vida”, conta, com singela naturalidade, a atriz Maria de Medeiros, acomodada em sua residência no 14° distrito de Paris. No entanto, é impossível enumerar todos os países por onde já passou até hoje. Seja como atriz ou diretora em uma centena de filmes, protagonista de peças teatrais ou cantora em turnês de seus concertos, ao longo de seus 54 anos ela atravessou uma infinidade de fronteiras nos cinco continentes. Nascida em Portugal e adotada pela França, a capital francesa se tornou para ela um porto aberto para o mundo. Continue lendo Maria de Medeiros: “Raízes têm tudo a ver com cultura e muito pouco com fronteiras”

“ítaca”, a nova odisseia de Christiane Jatahy em Paris

Cena de “Ítaca – Nossa Odisseia 1”, de Christiane Jatahy. Fotos: © Elizabeth Carecchio 

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A história de Ulisses e de Penélope, narrada em versos no clássico da literatura grega “Odisseia”, de Homero, acaba de ganhar uma versão brasileira nos palcos da França. A célebre epopeia é a fonte de inspiração do mais novo espetáculo da diretora carioca Christiane Jatahy, “Ítaca – Nossa Odisseia 1”, que estreou sexta-feira no espaço Ateliers Berthier do Odéon-Théâtre de l’Europe, em Paris. A montagem mantém o DNA da criadora, constituído do permanente diálogo entre dramaturgia e cinema, realidade e ficção, num teatro político que explora os limites fronteiriços entre a cena e o público. Continue lendo “ítaca”, a nova odisseia de Christiane Jatahy em Paris

“La Règle du Jeu” em versão brasileira na Comédie-Française

A diretora Christiane Jatahy em ação na Comédie-Française – ao fundo o ator Laurent Laffite. Fotos © Christophe Raynaud de Lage

FERNANDO EICHENBERG / FOLHA DE SÃO PAULO

PARIS – A Comédie-Française, mundialmente celebrada por perpetuar o repertório clássico da dramaturgia francesa, vem sendo sacudida todas as noites pela arte de uma brasileira. Desde o último dia 4, a diretora carioca Christiane Jatahy apresenta na emblemática Sala Richelieu da secular instituição, ancorada no centro de Paris, o espetáculo “A Regra do Jogo”, baseado no homônimo filme do francês Jean Renoir, de 1939, considerado como uma obra-prima do cinema. Sua criação já foi definida pela crítica francesa como um “miniterremoto” na casa de Molière, em uma adaptação cênica na qual mistura teatro e cinema, uma constante em sua obra, e adjetivada de “ousada” e “audaciosa”, quebrando “todos os códigos e hábitos” da companhia teatral mais antiga do mundo, fundada em 1680 por decreto do rei Luís XIV. Continue lendo “La Règle du Jeu” em versão brasileira na Comédie-Française

Christiane Jatahy: primeiro nome brasileiro a dirigir um espetáculo na Comédie-Française

foto-o-globo
Christiane Jatahy começa neste novembro os ensaios para a “A Regra do Jogo”, na Comédie-Française. ©Marcelo Lipiani

FERNANDO EICHENBERG / FOLHA DE SÃO PAULO

PARIS – Christiane Jatahy observa os despidos muros de sua provisória morada em Paris e confidencia, inconformada: “Preciso continuar construindo minhas estantes. Sempre tive um prazer enorme de ficar admirando uma biblioteca, adoro a ideia de paredes repletas de livros, é algo que me apazigua”. Nascida em 1968, ela viveu a primeira parte de sua infância carioca de forma bastante solitária, imersa em numerosas leituras que estimularam sua imaginação e forjaram sua “sensibilização e o olhar para o mundo”. No segundo ato, até os 14 anos, a família avolumou, e o aspecto coletivo se afirmou pelo teatro. Com tios, primos e outros parentes, encenava peças para serem apresentadas nas celebrações familiares, em aniversários ou festejos natalinos. Na juventude, veio a descoberta da filosofia e do cinema, com sessões ininterruptas em cineclubes das 14h às 22h. Adulta, passou a criar no Brasil seus próprios espaços cênicos, mas, principalmente, a quebrar barreiras. Hoje, aos 48 anos, impõe-se com seus singulares espetáculos teatrais nos palcos da Europa, e se prepara para conquistar os Estados Unidos. Continue lendo Christiane Jatahy: primeiro nome brasileiro a dirigir um espetáculo na Comédie-Française