Arquivo da categoria: Diplomacia

Ucrânia, Mercosul e nova ordem financeira na agenda de emmanuel Macron com Lula em paris

Lula e Macron no Palácio do Eliseu, em Paris. ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Garantir a presença do presidente Lula em Paris para participar da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global foi tratado pelo anfitrião do evento, o líder francês Emmanuel Macron, como uma missão prioritária. Depois de quatro anos de governo Bolsonaro, nos quais os contatos políticos de alto nível com a França foram suspensos, Macron festejou a volta ao poder de seu “velho conhecido” Lula, com quem reivindica uma relação de amizade, para relançar a parceria entre os dois países. Nesta nova lua de mel, no entanto, também há lugar para discordâncias. Hoje, Brasília e Paris divergem, principalmente, nas questões do conflito na Ucrânia e do acordo de livre comércio União Europeia-Mercosul.

Continue lendo Ucrânia, Mercosul e nova ordem financeira na agenda de emmanuel Macron com Lula em paris

Guerra prolongada na Ucrânia põe Europa diante de incertezas

Moradores passam por um mural em Kiev mostrando um grafite do Kremlin em chamas: guerra expôs interesses divergentes do eixo franco-alemão e dos países do Leste Europeu. Foto: Genya Savilov/AFP

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A eclosão da guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro passado e seu prolongamento até hoje abalaram a agenda de uma Europa em busca de união política, crescimento econômico e maior independência em questões de segurança e defesa. A invasão das forças russas de Vladimir Putin em território ucraniano obrigou a União Europeia e seus países membros a reverem estratégias de curto a longo prazo, provocou a redistribuição de cartas no tabuleiro geopolítico, reavaliou alianças e alterou planos militares e energéticos.­

A guerra revirou completamente o espaço europeu – resume Tara Varma, analista do European Council on Foreign Relations (ECFR). – Infelizmente, este conflito não terminará logo, e há uma verdadeira questão sobre o que a UE fará no dia de amanhã.

Continue lendo Guerra prolongada na Ucrânia põe Europa diante de incertezas

Após quatro anos difíceis sob governo bolsonaro, relação frança-brasil é retomada em novas bases

Lula foi recebido pelo presidente Emmanuel Macron para um almoço no Palácio do Eliseu em 17 de novembro de 2021. © Ricardo Stuckert

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Os quatro anos do governo Bolsonaro se destacaram por uma explícita animosidade política e diplomática com a França, histórico parceiro do Brasil. A cartilha isolacionista e antiambientalista do período bolsonarista, acrescida de agressões verbais do presidente brasileiro e de ministros de seu governo, levaram ao estremecimento e a um retrocesso nas relações entre Brasília e Paris. Com o retorno de Lula ao Palácio do Planalto, os dois países começaram a articular, mesmo antes da posse, uma reaproximação e o restabelecimento da relação bilateral em novas bases.

Continue lendo Após quatro anos difíceis sob governo bolsonaro, relação frança-brasil é retomada em novas bases

Com viés expansionista inspirado no período áureo do Império Otomano, Erdogan busca a reeleição na Turquia

Fiéis muçulmanos reúnem-se em reconversão em mesquita do Museu de Santa Sofia, em Istambul: Erdogan busca explorar antiga imagem da Turquia de defensora do Islã. ©Kerem Uzel/Bloomberg

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A Turquia tem se destacado por sua onipresença em diferentes frentes do tabuleiro geopolítico internacional, fonte de atritos com inúmeros países, em uma ofensiva autoproclamada pelo presidente Recep Tayyip Erdogan. Suas ambições além fronteiras – refletidas em ações políticas e militares na Síria, na Líbia, no Mediterrâneo Oriental ou no Sul do Cáucaso, e também por um discurso islamista com pretensões de liderança no mundo muçulmano -, ganharam a definição de “neo-otomanismo”, como um novo viés expansionista inspirado no período áureo do Império Otomano.

Continue lendo Com viés expansionista inspirado no período áureo do Império Otomano, Erdogan busca a reeleição na Turquia

Boicote a produtos franceses, caricaturas de maomé, insultos turcos, laicidade: em entrevista à tv al-jazeera, macron rebate os ataques do mundo muçulmano e tenta acalmar as tensões

Macron em enytrevista à TV Al-Jazeera, no Palácio do Eliseu. ©Reprodução

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – Em meio a uma sequência de atentados terroristas na França, o presidente Emmanuel Macron se viu alvo da hostilidade de parte do mundo muçulmano por causa de sua defesa do direito da publicação de caricaturas de Maomé e de suas palavras e ações contra o islamismo político no país. Manifestantes no Paquistão, Índia, Indonésia, Irã, Bangladesh, Líbia, Mali ou Somália queimaram bandeiras da França, pisotearam o retrato de Macron e apelaram ao boicote de produtos franceses. O Alto Conselho Islâmico da Argélia, uma instituição oficial, acusou o líder francês de promover uma “campanha virulenta contra o profeta Maomé”, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, questionou sua “saúde mental”. Para tentar apaziguar as tensões, mas sem deixar de mandar duros recados, Macron concedeu uma entrevista de 55 minutos à TV Al-Jazeera para falar ao mundo muçulmano. Denunciou a manipulação de seus propósitos para criar conflito e definiu como “indigna” a campanha de boicote. A seguir os principais trechos.

Continue lendo Boicote a produtos franceses, caricaturas de maomé, insultos turcos, laicidade: em entrevista à tv al-jazeera, macron rebate os ataques do mundo muçulmano e tenta acalmar as tensões

Karoline Postel-Vinay: “A política não sobrevive no terreno das incertezas”

Mulher passa diante de um grafite em Londres: para analista francesa Incertezas científicas sobre pandemia alimentam disputa por influência entre líderes globais. © Henry Nicholls/ Reuters

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Diante das incertezas científicas que cercam a pandemia da Covid-19, multiplicam-se as narrativas políticas que buscam, por necessidade ou oportunidade, conferir coerência ao enfrentamento da crise, observa a cientista política Karoline Postel-Vinay. Especialista no estudo de narrativas nas relações internacionais, tema de seu próximo ensaio, a analista do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po) afirma que a política “tem horror à zona vaga de incertezas”, terreno no qual não sobrevive.  No caos mundial provocado pelo coronavírus, governos nacionais, organismos internacionais e movimentos de opinião criam seus próprios discursos, em uma “batalha de influências” que, segundo prevê, será ainda mais acirrada no período pós-crise. Continue lendo Karoline Postel-Vinay: “A política não sobrevive no terreno das incertezas”

Após semanas de impasse, União Europeia libera ajuda de 500 bilhões de euros contra pandemia

Homem de máscara em frente à sede da Comissão Europeia, em Bruxelas.                                          ©Yves Herman/Reuters

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Após receber muitas críticas pela falta de ação e de solidariedade no início da crise provocada pela Covid-19 no continente, a Europa conseguiu chegar a um acordo em mais uma tentativa de formular uma resposta comum aos efeitos da pandemia. Ao final da maratona de reuniões dos ministros das Finanças da União Europeia (UE), que começou há dois dias e terminou na noite de quinta-feira, foi acertada uma ajuda de cerca de € 500 bilhões para os países europeus, recursos que deverão ser liberados em duas semanas. Permaneceu, entretanto, o impasse na questão da emissão de títulos de dívida conjuntaapelidados de eurobônus ou de coronabonds, principal reivindicação das nações de economias menos robustas, que sofreram uma derrota. Continue lendo Após semanas de impasse, União Europeia libera ajuda de 500 bilhões de euros contra pandemia

“Na democracia, você não insulta, não ataca a vida privada, não mente”, diz diplomata francês famoso por seus tuítes

Gérard Araud, que assistiu à ascensão de Trump nos EUA e respondeu a Bolsonaro em rede social, diz que mundo não será o mesmo ainda que onda populista de direita seja derrotada; ele critica também viés ‘bonapartista’ de Macron. ©JF Paga

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Na madrugada em que Donald Trump venceu as eleições presidenciais americanas, em 9 de novembro de 2016, Gérard Araud, então embaixador francês em Washington, foi extraído de seu relativo anonimato ao expressar seus sentimentos em sua conta pessoal no Twitter. “Após o Brexit e essa eleição, tudo a partir de agora é possível. Um mundo desmorona diante de nossos olhos. Uma vertigem”, escreveu, deflagrando uma polêmica. Dois anos depois, em 19 de dezembro de 2018, o diplomata francês não hesitou em responder ao presidente Jair Bolsonaro, que havia declarado em um vídeo ser “simplesmente insuportável viver em certos lugares da França” por causa da imigração. Araud rebateu com um lacônico e irônico tuíte: “63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários”.

Aposentado desde abril deste ano, o ex-embaixador, agora com a palavra liberada das obrigações de sua função, acaba de lançar na França o livro “Passaporte diplomático – quarenta anos no Quai d’Orsay” (ed. Grasset), memórias de sua longa carreira em diferentes países e em importantes postos na ONU e na Otan. Gérard Araud conversou com O Globo na capital francesa sobre a crescente ameaça do populismo, os governos Trump e Bolsonaro e o delicado momento da relação bilateral Brasil-França. Continue lendo “Na democracia, você não insulta, não ataca a vida privada, não mente”, diz diplomata francês famoso por seus tuítes