Mitos e clichês do estupro na França

Campanha Stop au Déni da ONG francesa ©Stop au Déni
Campanha francesa Stop au Déni, contra a lei do silêncio e a impunidade aos crimes de estupro. ©Stop au Déni

FERNANDO EICHENBERG /ZERO HORA

PARIS – A cultura do estupro – definida como a “adesão da sociedade aos mitos sobre o estupro” -, infelizmente, não é um mal reservado ao Brasil. Uma pesquisa de opinião divulgada neste ano na França pela associação Memória Traumática e Vitimologia — criada em 2009 para a formação, informação e pesquisa sobre as consequências psicotraumáticas de violências em geral —, feita pelo instituto Ipsos, revelou que perduram os clichês sobre o estupro no país de Simone de Beauvoir, filósofa autora de O Segundo Sexo (1949).

Para 40% dos entrevistados na sondagem, a responsabilidade do estuprador é atenuada se a vítima teve uma atitude provocante em público; 38% consideram o mesmo se ela flertou com o agressor, e 27% se ela vestia “roupas sexy”. Outros 17% opinaram que forçar sua própria mulher a ter uma relação sexual não se trata de estupro. Para 19% das pessoas interrogadas, muitas mulheres que dizem “não” a uma proposta de relação sexual na verdade querem dizer “sim”. E 21% acreditam que uma mulher pode ter prazer em uma relação sexual forçada — índice de 30,7% entre os jovens de 18 a 24 anos. Continue lendo Mitos e clichês do estupro na França

Alerta contra o terrorismo

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FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS — A queda do avião da EgyptAir reavivou o temor da iminência da ameaça terrorista na França e recrudesceu a vigilância contra novos atentados e também nos aeroportos. Às vésperas do início da Eurocopa 2016 e do Tour de France — competições internacionais de futebol e de ciclismo que ocorrerão em solo francês em junho e julho próximos —, as autoridades reconhecem um nível de alerta terrorista extremo. Para o chefe da Direção Geral da Segurança Interna (DGSI), Patrick Calvar, a França é hoje “o país mais ameaçado” pelo Estado Islâmico (EI) e também pela al-Qaeda, “que quer recuperar sua força”. Ontem mesmo os parlamentares prorrogaram o estado de emergência, decretado no país após os ataques de novembro de 2015, por mais dois meses, até 26 de julho. Continue lendo Alerta contra o terrorismo

Élisabeth Roudinesco e a crise da democracia

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FERNANDO EICHENBERG / FOLHA DE S. PAULO

PARIS – A grande virada dos tempos contemporâneos é marcada por uma forte crise da democracia e do individualismo. As turbulências globalizadas ameaçam a Europa com desvios totalitários em meio ao descrédito na política tradicional e ao sentimento de perda de representação social. Há um crescente anseio por mudanças, mas de rumo incerto. Este é o diagnóstico resumido da psicanalista e historiadora Élisabeth Roudinesco ao analisar o homem deste conturbado início de século.

A francesa é a convidada de setembro do Fronteiras do Pensamento 2016 e aproveitará para lançar no país a edição brasileira de sua biografia de Sigmund Freud (ed. Zahar), minucioso estudo de cerca de 600 páginas no qual define o pai da psicanálise como “conservador rebelde” e criador de uma “revolução simbólica” em perpétuo movimento.

Continue lendo na Folha de S. Paulo trechos da entrevista feita no apartamento da psicanalista, em Paris.

Lançamento e sessão de autógrafos “Entre Aspas”

Convite ENTRE ASPAS 2 (J)

Está saindo do forno o volume 2 do “Entre Aspas”, e ao mesmo tempo será relançado o volume 1 em versão pocket.


RIO: 25/04 – segunda-feira, Livraria Travessa, Ipanema, 19h.
SÃO PAULO: 28/04 – quinta-feira, Livraria da Vila, R; Fradique Coutinho, 18h30
PORTO ALEGRE: 03/05 – terça-feira, Livraria Saraiva, Shopping Moinhos.


“Para o correspondente internacional Fernando Eichenberg, uma entrevista é muito mais do que a busca por declarações bombásticas ou por opiniões sobre um assunto da hora. É, sim, um evento antecedido por cuidadosa preparação e muita pesquisa, que resultam num mergulho na obra do entrevistado. Assim, e somente assim, se pode estabelecer um clima de conversa íntima, por vezes amistosa, em que o entrevistado relaxa a ponto de fazer reflexões significativas sobre o próprio trabalho e a sociedade. Mas, apesar dos preparativos, é ainda um momento fugaz e imprevisível: não há volta para a decisão de fazer ou não uma pergunta e a conversa sempre pode tomar um rumo imprevisto – ou não render como o imaginado. Continue lendo Lançamento e sessão de autógrafos “Entre Aspas”

Praças de dor e de esperança

PraçaPlace de la Bourse, em Bruxelas, Bélgica. Foto: ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG / ZERO HORA

PARIS e BRUXELAS – Quando, na manhã de 7 de janeiro de 2015, fui alertado por flashes no telefone celular de um tiroteio no bairro da Place de la Bastille, não imaginava que logo depois estaria diante da sede do jornal Charlie Hebdo, testemunha do terror que se estenderia por mais dois dias e provocaria um total de 17 mortes na região parisiense. Na noite de 13 de novembro passado, quando me preparava para sair à rua, para festejar o aniversário de um amigo em um bar, mais uma vez alertas celulares anunciaram tiroteios na cidade, e naquela hora também não poderia pensar que minutos depois estaria nas proximidades da casa de shows Bataclan, e que só retornaria para casa depois das 4h de uma trágica madrugada de saldo de 130 vítimas da violência terrorista. Na última terça-feira, despertei com as notícias das explosões em Bruxelas, e tive apenas o tempo de jogar algumas roupas em uma maleta para estar na estrada a caminho da capital belga, palco de mais uma sangrenta ação do Estado Islâmico, que ceifou a vida de mais de 30 pessoas. As tragédias se sucedem com certa facilidade e ousadia assustadoras, em uma Europa aterrorizada e impotente diante da ameaça terrorista – sem falar nos recentes atentados realizados na Turquia ou em solo africano. Continue lendo Praças de dor e de esperança

Anastasia Colosimo: “A blasfêmia é um problema político”

Foto/Divulgação
Foto/Divulgação

FERNANDO EICHENBERG / FOLHA DE S. PAULO

PARIS – Em 7 de janeiro de 2015, quando os irmãos Kouachi dizimaram com rajadas de kalashnikov a redação do jornal “Charlie Hebdo”, fazia três anos que Anastasia Colosimo estudava com afinco a questão da blasfêmia, das origens até as polêmicas contemporâneas. Vieram os mortíferos atentados de 13 de novembro, um novo sismo no país, e em janeiro deste ano, a pesquisadora publicou o ensaio “Les bûchers de la liberté” (As fogueiras da liberdade, ed. Stock), recebido com elogios pelos principais veículos de mídia do país. Colosimo aponta “equivocados” debates na França no rastro dos atentados terroristas.


A blasfêmia é um problema teológico-político, e não religioso, defende ela, ao mesmo tempo em que critica uma escalada de leis nocivas e contraproducentes que acirram o comunitarismo e a crispação identitária e enfraquecem a proteção da liberdade de expressão no país.


Continue lendo Anastasia Colosimo: “A blasfêmia é um problema político”

Capital francesa em tempos difíceis

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FERNANDO EICHENBERG / ZERO HORA

PARIS – Abalados pelos mortíferos atentados terroristas do ano passado, os parisienses emergem da tragédia obrigados a enfrentar um inimigo adicional: a crise econômica.


Além da ameaça jihadista, pesam sob a cabeça dos moradores da capital francesa um tímido crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) – de 1,1% em 2015 – e um elevado e constante índice de desemprego no país de 10,1%.


Com o moral da população em baixa e a precariedade em alta, segundo as pesquisas de opinião e as estatísticas oficiais, a Cidade Luz luta para manter seu brilho em meio ao temor de novos ataques do Estado Islâmico (EI) e a uma situação econômica claudicante.

Para filósofo francês, ataque em Paris expôs limites da laicidade republicana

MICHEL MAFFESOLI, SOCIOLOGUE, PARIS, LE 10 AVRIL 2014.

FERNANDO EICHENBERG / FOLHA DE S. PAULO

PARIS – O pensador Michel Maffesoli, reconhecido estudioso da pós-modernidade, credita grande parte dos conflitos atuais na sociedade francesa a uma inabilidade em acolher o retorno do sagrado e do religioso, que na falta de espaços de expressão gera desvios perversos e favorece a sedução de jovens pelo islamismo radical.


Na sua opinião, a laicidade francesa não soube integrar o religioso de forma harmônica e em “doses homeopáticas”, segundo sua própria metáfora.


Para ele, que lançou neste mês, em coautoria com Hélène Strohl, o ensaio “La France Étroite – face au intégrisme laïc, l’idéal communitaire” (“a França estreita – diante do integrismo laico, o ideal comunitário”, em tradução livre), a França vive hoje um delicado momento de mutação, rumo a uma sociedade concebida como um mosaico de culturas, em detrimento da República “una e indivisível” dos tempos modernos.

O amor à linguagem do múltiplo Roland Barthes

Foto: Jerry Bauer
Foto: Jerry Bauer

FERNANDO EICHENBERG / FOLHA DE S. PAULO

PARIS – Pela multiplicidade de seu pensamento, Roland Barthes, cujo centenário se comemorou no dia 12, é às vezes visto como vulgarizador de conceitos. Especialistas destacam sua visão aberta e não assertiva e sua atenção pioneira ao signo como chaves para entender por que a obra do autor, morto em 1980, permanece atual.

No último dia 12, se estivesse vivo, Roland Barthes teria completado cem anos. Na tarde de 25 de fevereiro de 1980, após um almoço com o então aspirante a presidente François Mitterrand – ele seria eleito no ano seguinte – Barthes foi atropelado por uma caminhonete de lavanderia, próximo ao Collège de France, na rua des Écoles, em Paris.


Era um dia “frio, amarelo”,
anotara em sua agenda pela manhã.


Morreu um mês depois, em 26 de março, num leito do hospital Pitié-Salpêtrière, em estado de coma agravado por complicações pulmonares causadas por uma insuficiência respiratória crônica, fruto de sua tuberculose adolescente.

A efeméride do centenário do nascimento gerou ao longo deste ano uma infinidade de eventos e publicações sobre a vida e a obra do célebre pensador, escritor, crítico literário e semiólogo francês. E evocou o legado intelectual do autor de ensaios como “O Grau Zero da Escrita” (1953), “Mitologias” (1957), “O Sistema da Moda” (1967), “S/Z” (1970), “O Prazer do Texto” (1973), “Roland Barthes por Roland Barthes” (1975), “Fragmentos de um Discurso Amoroso” (1977) ou “A Câmara Clara” (1980).

O desafio é combater junto o Estado Islâmico

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FERNANDO EICHENBERG / ZERO HORA

PARIS – No rastro de sangue deixado pelos recentes atentados de Paris, o presidente François Hollande conclamou uma nova coalizão internacional para combater de forma unida e intensa as forças do Estado Islâmico (EI). Nesta terça-feira, recebeu a promessa de apoio e de solidariedade da União Europeia (UE). Nos próximos dias 24, em Washington, e 26, em Moscou, se encontrará com seus colegas Barack Obama e Vladmir Putin, na tentativa de superar discordâncias e unificar ações.


Ataques na França abriram uma nova fase na luta contra o terrorismo, mas, para especialistas, não será fácil unir os interesses de diferentes países em um só objetivo.


Três especialistas ouvidos por ZH avaliam que a tragédia do 13 de Novembro deflagrou uma nova etapa na luta contra o EI, mas alertam que a união desejada pela França não será tão fácil de ser concretizada diante das diferenças de abordagens e de interesses dos diversos países envolvidos. Para Pascal Boniface, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, da França, o recrudescimento da ameaça terrorista implica um aumento da resposta exigida, mas resta a incerteza de que se possa alcançar rapidamente o resultado esperado.

— Uma nova coalizão internacional é possível, mas não será instalada imediatamente. Será preciso um concerto dos países ocidentais, das nações árabes do Golfo, da Turquia, do Irã, da Rússia… Mesmo que todos sejam inimigos do EI, nem todos têm a mesma apreciação de como lutar contra o EI e das prioridades – explica o diretor.