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Anne Hidalgo, prefeita de Paris, defende sua política verde, anticarros, critica seus críticos e diz que cidade está pronta para os Jogos Olímpicos

Anne Hidalgo em entrevista ao Globo, no Hôtel de Ville. Fotos: ©Barthelemy Bolo

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS — Entre os livros de cabeceira da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, se encontra a obra Tudo vai melhorar, da escritora Almudena Grandes. Nessa novela póstuma, a premiada autora espanhola, falecida no final de 2021, criou um enredo de resiliência e solidariedade em uma realidade distópica pós-coronavírus. Hidalgo revela ser intimamente marcada pelas “impressões futuristas” de pessoas que investigam o mundo, a política e a alma humana, e que são capazes de vaticinar: “Isso poderá acontecer se nada fizermos”.

Ninguém poderá dizer que a prefeita pouco fez em dez anos, em dois períodos consecutivos no comando de uma das capitais mais emblemáticas do planeta — eleita em 2014 e reeleita em 2020, seu atual mandato se encerra em 2026. Seus projetos para Paris receberam numerosos apoios mas também severas críticas, às quais nunca renunciou em rebater. “Como eu resisto? Defendendo minhas ideias, com entusiasmo e alegria. Para mim, não é um sacrifício nem um sacerdócio. Faço o que penso que devo fazer e o que tenho vontade de fazer”, diz com determinação ao receber o caderno ELA, de O Globo, em seu amplo gabinete na secular sede da Prefeitura, no centro da cidade, às vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris..

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Entrevista: Ben Harper

Fotos: © Fe Pinheiro / Styling: Sonia Bedere

FERNANDO EICHENBERG – O GLOBO

PARIS – Ben Harper chegou para a entrevista, agendada no bar do hotel parisiense Maison Souquet, com seu tradicional gorro cobrindo a cabeça, exibindo suas tatuagens maori nos braços, e suado, segurando uma longa prancha de skate. A garçonete se ofereceu para guardar o volumoso objeto, mas ele mesmo o ajeitou encostado à parede. “Ando de skate por três ou quatro horas, quatro vezes por semana”, contou, ao acomodar a corpulência de seus quase 1,90 metros de altura na estreita poltrona de veludo vermelho. “Não sou um pai acabado. I’m rockin’ and rollin. O ritmo de meu coração é de 39 batidas por minuto à noite. Com o skate e meu coração, let’s go”. De pronto, mostrou um aplicativo em seu celular que mensura a cadência cardíaca e a perda de calorias. “Para ficar no meu peso, preciso queimar diariamente 450 calorias. No final do dia, chego até 375 calorias apenas caminhando, então, antes de ir para a cama, corro um pouco e está feito. Veja, agora mesmo meu coração está em 70 batidas por minuto, o que é baixo para essa hora do dia. Ao despertar, o aplicativo dá uma nota para o seu dia anterior e o seu sono, se você teve uma boa performance, ganha uma coroa, e aí estou pronto para encarar a nova jornada. É louco!”, diz, rindo.

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van gogh: 74 quadros em 70 dias antes de morrer

Raízes de árvores, úiltimo quadro pintado por Van Gogh, no dia de sua tentativa de suícidio.

Em 20 de maio de 1890, Vincent Van Gogh, aos 37 anos, se mudou para Auvers-sur-Oise, vilarejo ao norte de Paris. O artista queria ficar próximo de seu irmão Theo, que morava na capital francesa, e esperava melhorar de suas crises psicológicas junto ao Dr. Gachet, especialista no tratamento da “melancolia” e também um colecionador de arte, pintor amador e amigo dos impressionistas. Em 29 de julho, Van Gogh morreu em consequência de uma tentativa de suicídio cometida dois dias antes, ao atirar contra o próprio peito com um revolver calibre 7mm. Nestes poucos mais de dois meses em Auvers-sur-Oise, produziu 74 quadros e 33 desenhos, incluindo algumas de suas obras mais emblemáticas, como A igreja de Auvers, O doutor Gachet, Autorretrato e Campo de trigo com corvos.

Em uma das mais aguardadas exposições do outono parisiense, o Museu d’Orsay apresenta “Van Gogh em Auvers-sur-Oise, os últimos meses”, na qual apresenta uma importante parte dessa profícua produção dos derradeiros momentos de vida do artista, que em um frenesi criativo pintava de uma a duas telas por dia. Trata-se de uma rara reunião de obras, de cerca de 50 telas e duas dezenas de desenhos, incluindo, pela primeira vez juntas, 11 das 13 criações da série panorâmica, composta de telas de 50 centímetros de altura por um metro de largura. A exposição, que ficará aberta até o dia 4 de fevereiro, inclui ainda cartas, objetos pessoais e também um espaço de realidade virtual.

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População de sem-teto sobe 150% em uma década na França, segundo a fundação Abbé pierre

Grupo de imigrantes dorme na rua cerca da estação de metrô de La Chapelle, em Paris.
© Anne Margueritat/AFP

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – O número de pessoas sem domicílio na França mais que dobrou na última década, passando de 133 mil para 330 mil, segundo a Fundação Abbé Pierre. A contagem sobe para os indivíduos sem moradia pessoal, hospedados por terceiros ou em um alojamento provisório: 1.098 milhão. Quando se acrescentam os franceses morando em “condições muito difíceis”, chega-se a 4,148 milhões. O diagnóstico da entidade — fundada em 1992 pela luta do direito à habitação — alertou para o agravamento das dificuldades na busca por um teto no país, tanto para a população de baixa renda ou em situação precária, incluídos desempregados e imigrantes, como para uma classe média com perda de poder aquisitivo face ao crescente valor dos aluguéis.

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em paris, CRISTIANA REALI LEVA os combates de SIMONE VEIL PARA O PALCO

©Pascalito

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A atriz brasileira Cristiana Reali está de volta aos palcos franceses após uma longa pausa forçada pela pandemia da Covid-19. E retornou encarnando uma das personagens mais emblemáticas, populares e admiradas na França : Simone Veil (1927-2017), sobrevivente de Auschwitz, defensora dos direitos das mulheres, autora da lei que legalizou o aborto no país, primeira presidente eleita do Parlamento Europeu e arauto da reconciliação e construção europeia no pós-Segunda Guerra. Um ano após a sua morte, aos 89 anos, foi entronizada no Panteão, célebre monumento onde repousam as grandes personalidades nacionais.

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em Paris, a arte resiste como pode à pandemia e novas exposições mostram as cores de matisse e esculturas de michelangelo e de donatello

Matisse ganha importante exposição no Centre Pompidou. Museu Louvre expõe esculturas de Michelangelo e Donatello. Fotos: ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – A segunda onda da epidemia do coronavírus na Europa, com a imposição do toque de recolher e de novas restrições às populações, não impediu a inauguração de grandes exposições de outuno previstas em importantes museus parisienses. Nesta semana, duas mostras abertas ao público propiciam uma lufada de arte e um afago no espírito em meio a estes tempos pandêmicos: as coloridas telas de Matisse e as intensas esculturas de Michelangelo, Donatello e outros artistas de seu tempo.

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Em livro, Lindsey Tramuta traça o perfil de parisienses em destaque nas artes, na política, no feminisno e nos negócios

Lindsey escreveu um livro para combater o “clichê da mulher parisiense”. Fotos: © Joann Pai

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – Em um de seus vídeos TEDs virais, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie afirma, em relação aos conceitos sobre os africanos, que “o problema dos estereótipos não é que sejam falsos, mas incompletos; eles fazem uma história se tornar a única história”. A premissa é utilizada por Lindsey Tramuta para denunciar uma visão “perniciosa e estreita” das mulheres parisienses, percebidas como “brancas, heterossexuais, magras, elegantes, sedutoras e preocupadas com superficialidades”. Em seu recém-lançado livro, The New Parisienne (a nova parisiense), Lindsey, americana radicada há 14 anos na capital francesa, combate este clichê, segundo ela, estimulado e reproduzido na publicidade, no turismo, no cinema, na literatura, em revistas de moda e estilo.

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CaTherine Mathivat, quarta geraÇão da família à frente do deux magots, resiste à pandemia e quer “evolução sem revolução” para o célebre café parisiense

@Julio Piatti

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A primeira lembrança de Catherine Mathivat do café Les Deux Magots remonta aos seus dez anos de idade, no final da década de 1970, quando passava fins de semana com seus avós, proprietários e moradores do andar de cima do já célebre local parisiense. “Descia com minha avó ver o que se passava embaixo, ficava ao lado do caixa observando o movimento dos garçons e dos clientes. Me recordo bem dos ruídos quando fechavam o terraço à noite”, recorda. Hoje, aos 51 anos, é ela quem comanda o emblemático café, ancorado no coração do bairro de Saint-Germain-des-Près. Continue lendo CaTherine Mathivat, quarta geraÇão da família à frente do deux magots, resiste à pandemia e quer “evolução sem revolução” para o célebre café parisiense

Agostar* em Paris

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“Desculpem-nos, estamos fechados”, é o anúncio onipresente no comércio, bares, restaurantes e padarias francesas em agosto.

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – “Não encontrar o caminho em uma cidade não quer dizer muito. Mas perder-se numa cidade, como nos perdemos numa floresta, exige toda uma prática”, escreveu o filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940). Perder-se nos caminhos de Paris no estival mês de agosto exige uma prática singular, pois a capital francesa adota contornos de cidade fantasma. Em determinadas horas do dia, se pode flanar em meio a grandes avenidas sem vislumbrar um carro sequer no horizonte. Errando por certos bairros, a impressão é de que a cidade foi evacuada por alguma ameaça de ataque bacteriológico e só você não foi avisado. Continue lendo Agostar* em Paris