Formiga: a vida na França da ex-craque da Seleção Brasileira, agora no PSG

Formiga em seu parque preferido em Saint-Germain-en-Laye. ©Fernando Eichenberg

FERNANDO EICHENBERG – REVISTA PERSONNALITÉ

SAINT-GERMAIN-EN-LAYE – Miraíldes Maciel Mota costuma se assentar solitária em um dos bancos do vasto e belo jardim do castelo de Saint-Germain-en-Laye, localidade francesa de pouco mais de 40 mil habitantes, nos arredores de Paris. Ali, em meio à bucólica paisagem, se deixa levar por seus pensamentos, em aprazíveis momentos meditativos. Ela não teme – e até curte – a solidão, mas, a bem dizer, sua maior paixão é coletiva: o futebol. No seio da família, é simplesmente Mira, mas para os brasileiros que acompanham o futebol feminino e para suas adversárias pelo mundo, é a temível Formiga, infatigável e habilidosa volante que do alto de seu 1,62 metro de altura fez história na seleção canarinho com o número 8 às costas.

Seu currículo é raro: doze participações consecutivas em Copas do Mundo e em Jogos Olímpicos, seis em cada, de 1995 a 2016. É a única jogadora a ter disputado todos os torneios olímpicos femininos desde a introdução da modalidade na competição, em 1996. Entre suas conquistas estão duas medalhas de prata em Olimpíadas, três de ouro nos Jogos Pan-americanos, um título de vice-campeã em Copa do Mundo, três troféus em Libertadores e um campeonato mundial de clubes. Junto com Marta, eleita por cinco vezes melhor jogadora do mundo pela Fifa, entrou para o panteão da Sala Anjos Barrocos, do Museu de Futebol, em São Paulo, até então reservada aos craques masculinos. E ultrapassou o lateral Cafu para se tornar a pessoa, homem ou mulher, que mais vestiu a camisa verde e amarela, com 151 atuações.

Em dezembro de 2016, Formiga encerrou sua longa trajetória na Seleção Brasileira e, logo depois, entre propostas para jogar nos Estados Unidos, no Japão, na China e na Coreia do Sul, aceitou o convite para vestir as cores do Paris Saint-Germain (PSG). Hoje, aos 39 anos, vive na tranquila Saint-Germain-en-Laye, subúrbio oeste da capital francesa, nas proximidades do campo de treino do clube parisiense, mas sem perder de vista o que se passa no Brasil.

©Felipe Paiva

O começo não foi fácil para a menina nascida em Lobato, periferia de Salvador (BA). A pequenina Mira ensaiou seus primeiros chutes aos sete anos de idade. Diferentemente dos irmãos mais velhos, Manassés e Esdras, que eram presenteados com bolas de futebol, recebia bonecas de seus padrinhos. “A opção que tinha era arrancar as cabeças das bonecas e fazer de bola, até eles entenderem do que eu realmente gostava”, conta, rindo, em conversa com a Personnalité numa iluminada tarde de outono em seu parque preferido em Saint-Germain-en-Laye. Com o passar do tempo, já se arriscava nos campos de barro do bairro, enfrentando todos os preconceitos. Os vizinhos a chamavam de “mulher-macho”, e por vezes apanhava dos irmãos. “Eles não gostavam de me ver jogando no meio dos meninos, que zoavam deles por eu ter um pouco mais de habilidade, e descontavam em mim. Mas, hoje, vejo que talvez não tenha sido um machismo, mas sim preocupação, por muitas vezes eles não estarem presentes, e eu ali no meio daqueles moleques. Depois que fui para São Paulo, viram que as pancadas que me deram não adiantaram muito (risos). Hoje, meu irmão mais velho, Manassés, às vezes dá até uma de treinador comigo”, relativiza.

Em sua despedida da Seleção Brasileira, em dezembro de 2016. ©CBF/Divulgação

O pai, Waldomiro, morreu do Mal de Chagas quando a futura craque tinha apenas oito meses de vida. Sua mãe, Dona Celeste, nunca deixou de defender as escolhas da filha: “Ela sempre me apoiou. Saía para trabalhar numa fábrica de remédios às 6h da manhã, mas na volta me perguntava se ia para o treino, se estava tudo bem. Nunca reclamou, porque sabia do meu sonho de seguir jogando futebol. Tanto que quando chegou a hora de sair de casa, quase completando 13 anos, ela permitiu. Tinha pouca idade, mas a personalidade já era bastante forte. E graças a Deus deu tudo certo”.

E como deu certo. Aos 16 anos, já morando em São Paulo, Formiga estreou com a camisa da Seleção Brasileira, debutando uma relação que se alongaria por mais de duas décadas. O apelido surgiu antes, durante um jogo em seu primeiro campeonato baiano. “Tinha uns 14 anos, eu era a menor de todas, de idade e de tamanho. Um torcedor, já meio senhor, me chamou de Formiga pelo jeito que corria por todo o campo. Uma amiga na arquibancada e outra que estava no banco de reservas escutaram, e começaram a me chamar assim também. No início, não gostei. Mas quanto mais você se aborrece com o apelido, aí mesmo que as pessoas insistem, e acabei aceitando”, explica.

A ex-jogadora da Seleção hoje atua no PSG, na França. ©PSG/Divulgação

Sua referência maior é Dunga, capitão da Seleção Brasileira campeã do Mundial de 1994, numa inspiração justificada pela fã: “É sobretudo pela maneira de ele jogar, a liderança que tinha no meio de campo, parecia que se transformava em três leões ali. Aquele espaço era dele. Não era um jogador tão completo, mas só a vontade que tinha de jogar chamava a atenção. E fora que também atuava com a 8. A gente acaba se fixando nos jogadores da nossa posição”. Entre as mulheres, cita ex-colegas da equipe nacional: Thaís, “um monstro de pessoa jogando”; Francielle, “que saiu da Seleção agora por conta da demissão da treinadora”; Ester, “outra jogadora com pegada”, e Andressinha, “que mesmo mais nova, tem muita personalidade”. “Apesar de ser mais velha, sempre estava aprendendo algo com elas”, diz, com humildade, a veterana.

A França não é a primeira de suas experiências como jogadora no exterior. Formiga já disputou temporadas nos EUA (New Jersey, Chicago e San Francisco) e na Suécia (Malmö). Por que, agora, Paris? “Pesou muito para vir para cá o fato de querer mudar de ares e pela curiosidade em saber como eles jogam por aqui. Queria aprender mais da cultura francesa. Já vi que eles são reservados, como os americanos, mas a França é realmente um lugar lindo. E dá uma tranquilidade, gostei muito daqui, apesar do frio”.

Aos 18 anos, em 1996, em sua primeira participação em uma Olimpíada, em Atalnta. ©Reprodução

Com aulas de francês pelo menos uma vez por semana, já consegue entender o idioma local, embora ainda precise progredir na conversação, segundo ela, ainda “travada”. Mas é o longo inverno europeu de baixas temperaturas a principal pedra na chuteira da baiana, fiel ao clima tropical. “A maior dificuldade minha mesmo aqui é o frio, para treinar e para jogar é ruim. Às vezes, não sinto meus pés, a mão congela. Jogo de luva, mas não adianta. Mas a gente vai dando um jeitinho, coloca duas ou três meias, e aguenta. É a vida”, resigna-se.

Além da meteorologia, a frieza se infiltra também no cotidiano da profissão em terras francesas. Apesar de se autodefinir como “acanhada”, Formiga assume seu lado “zombeteira”, o que nem sempre encontra eco em seu entorno. “Uma das coisas que gosto é a bagunça no vestiário. Mesmo em dia de jogo, a gente bota uma música, dança, para dar aquela relaxada e não ficar tão tensa para a partida. Aqui, os treinadores não apreciam isso, é aquela coisa como se fosse velório, o que me deixa meio agoniada. Eu gosto de agitar a galera, puxar algumas brincadeiras. Se alguém vacila, já solto pro restante do grupo pra zoar e dar uma descontraída (risos). Mas aqui você toma um choque, porque vem de uma cultura totalmente diferente. Levei a caixinha (de som) para o vestiário, e as meninas já saltaram: ‘Não faz isso, ele (treinador) vai te xingar, vai te dar castigo!’. É aquela coisa bem rígida mesmo. E até porque, se não me engano, nosso técnico é um ex-militar, e aí já piora mais a nossa situação (risos). Mas a gente tem de respeitar, e é você que tem de se adaptar às manias deles aqui”.

Formiga comemora o primeiro gol dos 4 a 1 contra a Alemanha, nas Olímpiadas de Pequim, em 2008. ©Marcos Brinddici

Em Saint-Germain-en-Laye, a brasileira mora sozinha em um apartamento de um quarto, cedido pelo clube, numa rotina de treinos diários durante a semana. Seus planos preveem jogar por mais uns quatro anos, “se o corpo aguentar”. Em breve, deverá abrir uma escolinha de futebol feminino no Brasil, para ajudar crianças desfavorecidas. Formiga faz jus ao apelido, e após a aposentadoria dos gramados pretende continuar seu embate pelo avanço da modalidade esportiva no país, e também não descarta trabalhar como treinadora em algum clube.

Você já disse que em vários momentos pensou em desistir, engoliu choro, mas que, no final, valeu a pena persistir e resistir. 

Não é fácil, porque você se dedica tanto ao que gosta e não tem o reconhecimento, não é abraçada por aqueles que cuidam do futebol no nosso país. Então, chega um momento em que diz que não vai mais continuar lutando, porque você se doa, deixa a família, amigos, sai de casa, e aquilo vai cansando. Teve horas em que precisava olhar para cima e pedir a Deus que me desse calma, para seguir em busca do meu sonho de continuar ajudando a modalidade. Aquilo vai minando suas forças. Às vezes, pedia melhoras em algumas coisas, e escutava de um diretor: “Dê graças a Deus que pelo menos aqui você está comendo”. Como se na nossa casa a gente passasse fome. Esse tipo de coisa me deixava muito triste, e tive mesmo de engolir muito choro, me dava uma revolta grande. Hoje, o futebol feminino no Brasil ainda não está da maneira que deveria estar, mas a base está pegando a coisa melhor. A estrutura melhorou, e há um maior respeito.

Qual sua opinião sobre a demissão da técnica da seleção feminina, Emily Lima, que causou uma revolta entre as jogadoras?

Achei uma demissão precipitada. Foi a primeira mulher, e não teve muito tempo para trabalhar. O pouco que fiquei sob o comando dela achei estava fazendo um trabalho bom, coisa nova. O ruim disso tudo é que te deixam com um ponto de interrogação na cabeça: será que querem realmente ajudar o futebol feminino? Havia essa oportunidade de se ter uma treinadora que estuda pra caramba, está sempre atualizada, procurando coisas, e eles vão lá e tiram. O que se quer? Não achei justo. Não sei qual é o medo que eles têm. Há milhares de meninas que já pararam de jogar, mas eles não dão oportunidade. Não gostei da demissão da Emily Lima, e acho que ninguém gostou. Acho que ainda vamos ter anos e anos de luta para poder colocar mulher ali dentro para trabalhar para o futebol feminino.

Onde estão as principais diferenças de estrutura entre o futebol masculino e feminino?

Em tudo. Aqui, há uma diferença grande de recursos, mas há um respeito. Eles usam a imagem das garotas junto com os meninos, buscam fazer comerciais com elas, o que no Brasil não existe. Há uma barreira imensa lá, não se pode ter essa aproximação do masculino com o feminino. Quanto mais você aparece, muda a percepção da população, e nossa visibilidade no Brasil é pouca. Os patrocinadores deveriam fazer comerciais também com o feminino, mas não há um esforço em relação a isso. A gente nem pensa tanto no dinheiro, mas quer ter a possibilidade de chegar ali mais próximo do masculino, dos campeonatos que eles têm, da organização, do material. Às vezes, temos de pedir camiseta de jogo, o que não deveria ocorrer. Essa diferença é monstra no Brasil, o que aqui já não vejo tanto. O Real Madrid, agora, divulga bastante o feminino. O Barcelona faz foto oficial junto com as meninas. São exemplos em que podemos nos espelhar, isso chama o público. Gostaria que no Brasil acontecessem essas coisas.

Em que momento você alcançou a independência financeira?

Ralei bastante. A partir dos 26 anos, fiquei um pouquinho mais tranquila. Apesar de ficar alguns anos indo e voltando dos EUA, a maior dificuldade é voltar, pegar seu dinheiro e comprar algo no Brasil e não ter como manter. Melhor guardar o pezinho de meia, porque no Brasil é tudo incerto. Aqui as pessoas cumprem certinho o que está no contrato, e lá, às vezes, falha. Você se doa pra caramba, joga, veste a camisa, e no fim não te pagam. Ainda existe isso, infelizmente. Não somos como o masculino, em que num mês já se está bilionário. Quem me dera. Levei muito tempo para poder levar uma vida tranquila e poder também ajudar minha família.

Às vésperas de completar 40 anos, qual o segredo para manter essa sua forma de formiga operária?

Como dizem as meninas: “É água de coco” (risos). Nunca tive preguiça, só não me coloque para ficar correndo em volta do campo, que aí eu me canso. Mas procuro sempre fazer as coisas 100%, porque se fizer 90%, sei que lá na frente vou precisar dos 10% que faltaram, e aí tô ferrada. Lógico que quando se é nova se tem energia a rodo para gastar, e hoje vejo que depois de jogos e treinos, quanto menos eu gastar essa energia e poder descansar e recuperar, vai me ajudar ainda mais. Mentalmente também preciso estar bem, então procuro estar zen para tudo. Não tenho nenhum segredo, é o cuidado. Com a alimentação também. Não é aquela coisa chata, regradinha. Como gordura. Não sou muito chegada a doce, apesar do meu apelido. E eu grito, me cobro, e é essa minha vontade imensa de ganhar jogo, de estar ajudando todo mundo em campo, a diferença é essa. Minha recuperação hoje já é mais lenta, então preciso de descanso e de dormir bem. E de me deixarem quieta vendo meu filme.

Como é sua vida aqui fora dos treinos?

Quando estou muito cansada após os treinos, vou para casa. Senão, vou passear com as meninas aqui no centro, ou vamos para a avenida de Champs-Elysées, ficamos sentadas na frente da Torre Eiffel, conversando, para dar uma espairecida, ou pegamos uma sessão de cinema, em inglês (risos). Tem a Érika aqui, também brasileira, junto com a chilena, a costarriquenha e as espanholas, estamos sempre com esse grupo fazendo algo. Eu já agito logo: “Vamos, gente, fazer algo, um churrasco, jantar em Paris num restaurante, porque já não aguento ficar dentro de casa”. Achamos uns brasileiros que entregam picanha em casa, e vira e mexe pedimos umas carnes e fazemos churrasco na sacada da casa da Érika, que é maior. Não sou de comida francesa. Vou no meu arroz, no meu feijão, no meu bife. E sou chegada num ovo frito. A capoeira parei, já não tenho mais a agilidade de antigamente (risos). Mas tenho vontade de voltar a fazer boxe e caratê. Mas se eu tiver uma atividade paralela dessas, acho que o treinador me mata, chegar lá toda arrebentada, ele me manda de volta para o Brasil (risos).

Há momentos em que aperta a saudade do Brasil?

Há, sim. Ainda bem que a tecnologia hoje está ajudando bastante, e dá para falar com mãe, afilhada, sobrinhos. Se fosse como antigamente, acho que teria ficado louca e voltado para casa. Sinto mais falta é do aconchego da família e dos amigos. Já moro há sete meses aqui e não sei nem quem é o meu vizinho, nesse sentido você se sente realmente solitária. Por isso que saio bastante com as meninas. Se ficar sozinha em casa, é de ficar louca, ainda mais com o frio. Mas dá para levar. Com certeza já passei por momentos piores. Nos EUA, morava numa casa com sete pessoas e me sentia sozinha, só as enxergava na hora de ir para o treino. Aqui, para mim, está tudo bem.

Você acompanha as notícias do Brasil?

Acompanho. É complicado se deparar com notícias envolvendo o presidente, e nossa educação que está zero, a saúde pior ainda. É lamentável. E aqui você vê uma cobertura totalmente diferente, de estudo, de saúde, o respeito que eles têm pelo trabalhador. No Brasil, infelizmente não há essa preocupação. Os olhos deles são fechados para isso, ficam abertos só para uma coisa: a verdinha.

Você sofreu algum tipo de racismo aqui?

Aqui, não. Nos EUA, não. Na Suécia, também não. E no Brasil, sim. Uma vez fui jogar em Caçador (SC), um torcedor ficou me chamando de macaca e outras coisas durante a partida. Quando o jogo terminou, ele veio pediu para tirar foto comigo. A vontade que eu tinha era de descarregar em cima dele, mas pensei que poderia tentar mudar esse jeito dele com a minha educação. Fiz a foto, mas falei algumas verdades, e no final disse: “Agora você pega essa foto, enquadra, coloca na estante da sua casa, para toda vez que você abrir a sua porta, olhar e se envergonhar do que fez hoje”. As pessoas que estavam ao redor começaram a vaiá-lo, e ele saiu de cabeça baixa.

Há um convívio com Neymar, Daniel Alves, Thiago Silva e os demais brasileiros do PSG?

A gente treina um pouco longe, em campos diferentes, e os horários de treinamentos coincidem, então é raro a gente se encontrar. E há essa cultura de sermos separados, o feminino e o masculino. A Érika tem mais contato com eles, de estar no instagram, às vezes conversando no celular. Mas eu já sou mais acanhada, gosto de ficar no meu reservado, não gosto de perturbar os outros e fico mais na minha. Se houver oportunidade de se encontrar, para ir jantar e tal, com certeza irei, mas sou mais acanhada mesmo, me envergonho que só Deus. O Thiago Silva ainda vê nossos jogos, dá apoio, é um cara super do bem e bem bacana o jeito dele.

Você se sente famosa?

Ah, não. Eu sou mesmo muita acanhada. Tenho uma vergonha que, jogando, ninguém diz que tem (risos). Aqui fico tranquila, mas no Brasil ainda não me acostumei com essas coisas de abraço, foto, às vezes as pessoas choram, e eu fico sem ação. E não me acho famosa. Famosos são a Marta, a Cristiane, o Neymar. Eu estou bem abaixo deles (risos).

Se você tivesse de eleger cinco momentos marcantes de sua vida e carreira, quais seriam?

O primeiro, quando saí de casa. O segundo, a primeira medalha de prata nas Olimpíadas, em Atenas. O terceiro, a final do Pan-americano no Maracanã lotadinho. Antes de começar o torneio, falavam que o esporte menos procurado para venda de ingressos era o futebol feminino, mas chegou a final, fomos para o aquecimento, e quando vimos aquilo… O quarto, quando ganhamos o bronze no Mundial, e quem bateu o pênalti decisivo fui eu, tinha uns 20 anos. Enfrentamos tantas seleções boas, e a gente capengando ainda conseguiu ficar em terceiro lugar, foi magnífico. O quinto, o último jogo nas Olimpíadas no Brasil, ali na Arena do Corinthians. Fiquei num momento de tristeza por não estar disputando a final, e um pouco de alegria por ter tido a oportunidade jogar uma Olimpíada no meu país e ver que o brasileiro abraçou o futebol feminino naquele momento.

Foram seis Copas do Mundo e nenhum título de campeã. O que falta para o Brasil chegar lá? Você sente alguma frustração?

Dá sim, frustração. Fico mais frustrada ainda porque queria continuar, jogar mais uma, ter mais uma oportunidade de ganhar uma Copa. Mas minha mãe mesmo falou: “Você tem força, saúde, ama o que faz, tem condições totais de jogar mais um ou até dois Mundiais se quiser, mas sei que você está cansada de muitas coisas”. E realmente estava. Você não consegue ter paz, tranquilidade de fazer um trabalho certo, por causa de problemas extracampo. O futebol feminino ainda deixa a desejar. Há coisas por trás que estão erradas, isso acaba chateando para caramba, e a gente transfere para dentro de campo. E precisamos ter essa união de atletas como existe nos EUA. É bonito, elas se fecham e vão brigar pelas coisas. E conseguem porque está todo mundo ali lutando por um propósito. Infelizmente, nem no futebol masculino no nosso país é assim, mas cada um por si e Deus por todos. Quem sabe um dia, estando na comissão ou trabalhando por fora, possa ajudar de alguma maneira essa nova geração que está chegando aí a obter o que não consegui.