David Hockney exibe suas múltiplas faces artísticas no Centro Pompidou

“Portrait of an artist (Pool with two figures)”, de 1972 ©David Hockney

FERNANDO EICHENBERG / PARIS – “Eu tenho 80 anos, mas me sinto ainda excitado com a ideia de experimentar. Picasso disse: ‘Quando pinto, parece que tenho 30 anos’. Eu também!”. A afirmação é do inquieto David Hockney, um dos mais renomados artistas britânicos contemporâneos, 80 anos recém-completados no último dia 9, e atualmente celebrado com uma vasta retrospectiva no Centro Pompidou, em Paris.

A mostra de mais de 160 obras – apresentada antes na Tate Britain, em Londres, e que depois seguirá para o Metropolitan Museum of Art, em Nova York -, já provocou efeitos no eterno jovem artista: “Não sou alguém que olha para trás, tenho tendência a viver no presente. Mas confesso que a exposição na Tate Britain me fez olhar meu trabalho de uma forma diferente. Isso me deu vontade de produzir uma série de novas pinturas figurativas, exibidas pela primeira vez no Pompidou, o que torna esta exposição completa”, disse em uma entrevista. A etapa parisiense conta ainda com o gigantesco quadro “Big Trees Near Arter” (2007), de 4,6m x 12,2m, não incluída na mostra britânica.

“Big Trees Near Warter” (2007). © David Hockney

A retrospectiva é um verdadeiro mergulho na obra de Hockney, no sentido figurado como quase literal, pois lá estão expostas as telas da temática das “piscinas”, a série “Swimming Pools” que o tirou do anonimato artístico, como “Portrait of an artist (Pool with two figures)”, de 1972, e “A Bigger Splash” (1967), que inspirou o filme homônimo de Jack Hazan, de 1973. Mas a mostra é muito mais do que isso, e acolhe seus desenhos, gravuras, duplos retratos, colagens de Polaroid, criações no iPad ou instalações de vídeo. Também pode-se ver o desenho feito em 16 folhas enviadas por fax para a Bienal de São Paulo de 1989.

A Bigger Splash” (1967). © David Hockney 

Expor David Hockney é expor dez artistas diferentes. Das piscinas às paisagens de Yorkshire, do fotorrealismo dos anos 1960 às abstrações da década seguinte, trata-se realmente do mesmo artista?”, indaga o curador da retrospectiva, Didier Ottinger. “Esta diversidade é a razão pela qual é difícil identificar um momento preciso, numa obra marcada por sucessivas realizações, cada uma delas estimulante e inesperada”.

Fotos da exposição no Centro Pompidou © Fernando Eichenberg

Hockney já queria ser artista desde os oito anos de idade. Em 1964, sua viagem à Califórnia (onde vive até hoje) marca uma nova fase de sua obra, quando descobriu uma nova luminosidade e um modo de vida hedonista, e passou a afirmar artisticamente sua homossexualidade, considerada um delito na Inglaterra até 1967. Ao longo dos anos, acumulou inspiração de artistas como Jackson Pollock, Francis Bacon, Edward Hopper, Andy Warhol, Fra Angelico, Rothko ou Dubuffet. Mas suas grandes influências constantemente citadas são Matisse e Picasso. “Matisse é a cor, o prazer, é o pintor da joie de vivre, um projeto que pertence também à Hockney”, diz Ottinger. “Picasso é a investigação, a experimentação formal, a pesquisa de novos espaços, o engajamento do artista no mundo de forma quase táctil. É também um elemento na obra de David Hockney. Quando se junta os dois, temos o artista inglês”, resume o curador.

O artista credita o sucesso de suas exposições por tratarem do espaço e do tempo: “Minha recente surdez me permitiu apreender diferentemente o que está ao meu redor. Se você é cego, investe o espaço com o som. Se você é surdo, se localiza pelo olhar. E de repente, meu olhar ganhou em acuidade”.

Hoje, Hockney se diz um artista feliz e que continua a fumar seus inseparáveis cigarros: “Na minha idade, não teria muito sentido parar de fumar, não corro mais grandes riscos. Sabe o que se diz na Califórnia? Que em breve a escolha será entre fumar e a imortalidade. A imortalidade… “, disse, às risadas, em uma entrevista na TV francesa.

David Hockney. © Martin Bureau / AFP