FERNANDO EICHENBERG / FOLHA DE S. PAULO
PARIS – Em 7 de janeiro de 2015, quando os irmãos Kouachi dizimaram com rajadas de kalashnikov a redação do jornal “Charlie Hebdo”, fazia três anos que Anastasia Colosimo estudava com afinco a questão da blasfêmia, das origens até as polêmicas contemporâneas. Vieram os mortíferos atentados de 13 de novembro, um novo sismo no país, e em janeiro deste ano, a pesquisadora publicou o ensaio “Les bûchers de la liberté” (As fogueiras da liberdade, ed. Stock), recebido com elogios pelos principais veículos de mídia do país. Colosimo aponta “equivocados” debates na França no rastro dos atentados terroristas.
A blasfêmia é um problema teológico-político, e não religioso, defende ela, ao mesmo tempo em que critica uma escalada de leis nocivas e contraproducentes que acirram o comunitarismo e a crispação identitária e enfraquecem a proteção da liberdade de expressão no país.
Sua maturidade intelectual surpreende por sua idade. Aos 25 anos, já ensina teologia-política no reputado Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po) – com uma temporada de estudos na Universidade de Columbia, em Nova York -, e tem sido convidada para participar de programas de rádio e tevê, debatendo com desenvoltura ao lado de nomes da intelligentsia francesa, como o filósofo Régis Debray. Integrante da chamada “geração Bataclan”, atingida pelos ataques de novembro, Anastasia Colosimo diz ainda lamentar a reação primeira dos jovens franceses frente à tragédia.