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Josef Koudelka expõe seus exílios em mostra no Centro Pompidou

Invasão de Praga, 1968. © Josef Koudelka/Magnum

PARIS – Na manhã de 21 de agosto de 1968, Josef Koudelka despertou em Praga como em qualquer outro dia, pegou seu aparelho fotográfico e saiu à rua. A data, no entanto, não era anódina, e ficou tristemente marcada no calendário da história como o dia da invasão dos tanques soviéticos na capital checa, em uma ocupação determinada a varrer os ventos libertários da Primavera de Praga, uma ameaça à cartilha totalitarista de Moscou. “Eu não procurava testemunhar como fazem os repórteres fotográficos, mas registrar tudo o que via. Era um daqueles momentos privilegiados em que se vive em alguns dias tudo o que pode lhe acontecer ao longo de todo uma existência“, disse em uma entrevista. As imagens clicadas por Koudelka deixaram clandestinamente o país e só foram publicadas um ano depois, em abril de 1969, no “Sunday Times Magazine”, sob o pseudônimo P.P., de Prague photographer.

Josef Koudelka na abertura da mostra no Centro Pompidou. © Fernando Eichenberg

Reproduzidas pelos quatro cantos do planeta, as fotos se tornaram célebres e alteraram seu destino: “Elas mudaram minha vida”. A agência Magnum (fundada por Robert Capa e Henri Cartier-Bresson), que havia distribuído as imagens, concedeu uma bolsa de trabalho de oito meses para que Koudelka pudesse sair da Checoslováquia. Ao chegar a hora de retornar, optou por permanecer no exterior, e obteve asilo político na Grã-Bretanha: “Meus amigos pensavam que poderia ser preso, que a polícia de meu país iria me identificar como o fotógrafo checo anônimo P.P. que havia feito as fotos da invasão russa. Passei uma tarde no Hyde Park a refletir. Tinha medo, e decidi ficar. Era o início do exílio que só acabou em 1990, quando pude voltar para Praga”, contou em outra ocasião.

Parc de Sceaux, França, 1987. © Josef Koudelka/ Magnum

Entre 1970 e 1987, Koudelka errou pela Irlanda, Portugal, Espanha, Grécia ou França, na ideia de fotografar os ciganos. Mas seu olhar acabou focando em diferentes contornos da vida cotidiana, dando origem a sua famosa série “Exílios”: “Vivia com o mínimo, sem nunca me estabelecer por mais do que três meses no mesmo lugar. Dormia em qualquer lugar, a céu aberto. Quando me propunham um quarto com uma cama, me deitava no chão com meu saco de dormir, para não me habituar ao conforto. Certas pessoas pensam que vivi na miséria. Louca ideia. Eu vivi na liberdade“.

O fotógrafo em sua viagem pela Grécia, 1983. © Josef Koudelka/ Magnum

No ano passado, Koudelka doou 75 fotos da série ao Centro Pompidou, que hoje expõe as imagens mais emblemáticas, acompanhadas de outras inéditas, inclusive vários autorretratos feitos durante sua nômade aventura. “O exílio dá dois presentes: obriga a reconstruir completamente sua vida, e oferece a possibilidade, se houver a chance de poder retornar para casa, de enxergar as coisas com novos olhos. Me dou conta de que só descobri Praga, minha cidade, quando retornei. Não me sinto nunca de apenas um lugar, e me reconheço nessa frase de “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar, que cito de memória: ‘Estrangeiro por todo lado e em casa por todo lado'”.

Paris, França, 1980. © Josef Koudelka / Magnum

Durante muitos anos, o fotógrafo viveu como apátrida, e acabou ganhando um passaporte francês em 1987 graças à ajuda de seu amigo Cartier-Bresson. “Quando recebi meu primeiro visto dos ingleses, eles me inscreveram na categoria ‘Nationality doubtful’, duvidosa, aqueles de quem não se pode verificar o lugar de nascimento e que não podem provar sua nacionalidade britânica. Nunca considerei isso como um insulto, ao contrário, há apenas uma Terra e somos todos cidadãos desta Terra”. Koudelka costuma repetir que, para ele, não há grandes fotógrafos, somente grandes fotografias. “Hoje ouço dizer que todo mundo é fotógrafo. Penso que todo mundo sabe apertar um botão, mas para mim o fotógrafo é aquele que tem realmente algo a dizer, e ele o diz por meio de fotos. Hoje aos 79 anos, confessa: “Farei em breve 80 anos, mas a cada manhã, desde o despertar, só penso em uma coisa: a fotografia“.

Foto da exposição no Centro Pompidou. © Fernando Eichenberg

“La Fabrique d’Exils” – Josef Koudelka, Centro Pompidou, até 22 de maio de 2017, entrada gratuita.

Foto da exposição no Centro Pompidou. © Fernando Eichenberg
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