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Urbanismo antiterror

Museu do Louvre ganhou blocos de concreto em seu entorno por questões de segurança. ©Alain Apaidyn/AP

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A Torre Eiffel, um dos monumentos mais emblemáticos de Paris, em breve será circundada no solo por um muro de vidro à prova de balas, de três metros de altura, como parte dos dispositivos de segurança de prevenção à ataques terroristas. As obras da muralha envidraçada, ao custo de 20 milhões de euros, começarão no próximo dia 5, com conclusão prevista em 13 de julho de 2018, um dia antes da festa nacional francesa da Queda da Bastilha, quando a Torre se inflama em fogos de artifícios. Até lá, a célebre Dama de Ferro, permanecerá cercada de grades e de pórticos de segurança, com cabines de revistas de bolsas e mochilas para os visitantes.

Felipe e Deise em frente à cabine de revistas da Torre Eiffel.

O casal de brasileiros Felipe Cabral e Deise Lindner desembarcou em Paris pela primeira vez na semana passada, e após largar as malas no hotel foi direto para a Torre.

– Sinceramente, não esperava todo este aparato de segurança aqui. Infelizmente, é necessário. Minha avó me alertou em relação aos atentados. Mas se fossemos nos preocupar com a violência, no Rio não sairíamos de casa – diz Felipe.

A paisagem da capital francesa mudou desde os atentados de 2015. A segurança nos endereços mais turísticos da cidade foi toda repensada. O Museu do Louvre ganhou uma fileira de blocos de concreto em seu entorno, para evitar ataques por meio de veículos. A presença de militares armados é constante nos locais potencialmente visados, aeroportos, estações de trem, e em patrulhas pelas ruas.

Ao lado da Torre Eiffel, a parisiense Aurélie D. é crítica em relação às medidas adotadas:

– Para que tudo isso aqui, para proteger o monumento? Se é para a proteção das pessoas não basta. Todas estas pessoas aqui do lado de fora podem ser facilmente atacadas. É tudo muito hipócrita, e faz parte da política também. Por outro lado, se não fizessem nada, haveria muitas queixas.

Originário da região da Bretanha, Riaud Clément, em dias de passeio na capital francesa,  disse já ter se habituado à nova realidade:

– É verdade que quebra um pouco do charme de Paris, mas sabemos que tem de ser assim agora, e nos acostumamos. Seria melhor sem, mas faz parte do cotidiano, e hoje vivemos com isso.

A brasileira Ana Manfrinatto, há quatro anos e meio em Paris, diz que adquiriu um tipo de agorafobia com o risco terrorista e a estrita segurança:

– Fui a um show aberto na praça da Prefeitura de Paris, passei os controles e tudo, não havia nenhum perigo, mas não consegui ficar e fui embora, não me senti confortável. Percebo agora que, quando entro numa sala de show, tenho um pé atrás. Reparei isso em janeiro, quando fui ver os Paralamas no Sesc-SP, e lá fiquei sossegada. Já aqui em Paris, não, fico meio de olho, observo onde estão as saídas de emergência, o que antes não fazia.

O dia a dia também mudou para ela nestes tempos de ameaça terrorista:

– Vejo alguém correndo na rua, talvez atrasado para pegar o metrô, e me assusto. E também não me habituo à presença de militares, é algo que me choca, o uniforme, como eles andam grupo, o tamanho da metralhadora. É preciso inibir de alguma forma os ataques, mas não acho que isso tudo possa realmente funcionar. Não vejo a real importância de um segurança na entrada dos Correios, se alguém quiser fazer algo, ele não poderá impedir.

Leia aqui o material publicado em O Globo, acrescido dos textos de Cláudia Sarmento (Londres) e Graça Magalhães-Ruether (Berlim).

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