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“Le Canard Enchaîné” comemora 100 anos de sátira e de informação

FERNANDO EICHENBERG

PARIS – Ciosa de suas excecionalidades, a França celebra este ano o centenário do semanário “Le Canard Enchaîné”, jornal ao mesmo tempo satírico e investigativo, criado no longínquo 1916 (uma primeira tentativa ocorrera um ano antes, mas não sobreviveu a mais do que cinco edições, por causa da censura). Religiosamente nas bancas em todas as quartas-feiras, a publicação se ilustra por seu tom zombeteiro em relação às coisas da política, mas também por seus repetidos furos de reportagem e denúncias de escândalos no mundo do poder – como o conhecido caso dos diamantes oferecidos pelo ditador centro-africano Jean-Bedel Bokassa ao presidente francês Valéry Giscard d’Estaing nos anos 1970. Em plena crise da imprensa escrita, o “Canard”, ancorado no coração de Paris (no número 173 da rua Saint-Honoré), é um óvni na mídia francesa e um raro caso no mundo, resistente à era da internet e até hoje sem uma versão online (o máximo a que se permite é estampar a capa da edição em papel no Twitter). Em seu grande formato (36cm x 56cm), sem o uso de fotos, com austera diagramação praticamente inalterada desde sua fundação e vendido ao mesmo preço desde 1991 (1,20 euro), o secular jornal ostenta uma robusta saúde financeira sem recorrer a nenhuma publicidade, graças exclusivamente aos seus quase 400 mil exemplares semanais impressos e seus 70 mil assinantes. Para marcar a efeméride, dois livros foram recentemente lançados no país. “Canard Enchaîné, 100 anos” é uma obra coletiva de 614 páginas, organizada por Laurent Martin e Bernard Comment (ed. Seuil). Já “A incrível história do Canard Enchaîné” é um álbum de história em quadrinhos de autoria da dupla Didier Convard e Pascal Magnat (ed. Les Arènes). Exceção francesa, o “Canard” se reivindica como um jornal vintage, e com sua fórmula “divertir informando” espera continuar seduzindo leitores para alcançar o bicentenário.

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