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Análise: Macron tem suas razões para comprar a briga da Amazônia

O presidente francês Emmanuel Macron vai ser o anfitrião da próxima reunião do G7. ©Francois Walschaerts/Reuters

FERNANDO EICHENBERG / O GLOBO

PARIS – A fumaça provocada pelas queimadas na Floresta Amazônica alcançou o Palácio do Eliseu. Às vésperas do início da cúpula do G7 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá), o presidente francês, Emmanuel Macron, não hesitou em convocar o tema para a reunião do clube de países ricos, evocando, inclusive, a urgência de uma “crise internacional” . “Nossa casa queima”, alertou o líder francês, retomando as palavras do discurso do então presidente Jacques Chirac na Rio+10, a conferência sobre o meio ambiente realizada em 2002, na cidade sul-africana de Johanesburgo. “Nossa casa queima e nós olhamos para o outro lado”, vaticinara Chirac.Se a aposta francesa encontrará eco na reunião que se inicia neste sábado, no balneário de Biarritz, ainda não se sabe. Se depender do presidente americano, Donald Trump, reconhecido por sua negação do aquecimento global e pela saída do Acordo de Paris, uma promessa de campanha cumprida logo após assumir a Casa Branca, o assunto não deverá vingar nas conversas. Pelo menos, não no mesmo tom desejado por Macron.
Os líderes do G7 se reúnem de sábado a segunda-feira em um ambiente mais dividido do que nunca, em um contexto internacional marcado mais por divergências do que por convergências. Trump, além de não ser um fervoroso defensor das causas ambientais, é o mais novo amigo do presidente Jair Bolsonaro, que está no foco da fogueira amazônica.
Macron, por seu lado, tem todas as suas razões, sejam de política interna ou externa, para comprar essa briga. Depois de ter atravessado as turbulências dos protestos dos coletes amarelos e perdido dois ministros da Ecologia — inclusive o popular Nicolas Hulot, o mesmo, aliás, que escrevera o discurso de Chirac na Rio+10 —, a agenda ambiental foi eleita como prioridade nesta segunda metade de seu mandato. Sua pauta ecológica visa o público interno, mas também ganhou contornos de política internacional, tão importante como suas pretensões de liderar uma reconstrução europeia.
Desde a posse de Bolsonaro, o cursor do termômetro da relação bilateral franco-brasileira vai na direção oposta do calor verificado na selva amazônica. A temperatura do diálogo diplomático entre Paris e Brasília se aproxima do clima nas calotas polares, vide, como mais um exemplo, o repentino cancelamento da audiência do chanceler francês Jean-Yves Le Drian, em recente visita oficial ao Brasil, com o presidente brasileiro – que preferiu, na mesma hora, gravar um vídeo ao vivo no Facebook enquanto cortava o cabelo.
A França já deixou claro que vai vender caro a ratificação do acordo comercial Mercosul-União Europeia, e a questão ambiental foi definida como uma linha vermelha a não ser ultrapassada, sem possibilidade de transigir. Analistas avaliam que será surpresa se houver algum avanço concreto da pauta do meio ambiente no âmbito do encontro do G7. Mas o fato de ter convidado o tema amazônico para a discussão é um sinal enviado pela Presidência francesa a todos os interessados e, principalmente, aos não interessados.

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